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Memorial - memorial




Memorial - memorial
Caros redistas me perdoem por escrever sobre minhas particularidades.
No entanto, a vontade de escrever leva-nos a procurar um canal onde
nÃo hà referees nem avaliadores que impeÃam a gente de escrever com
liberdade total.  Neste veiculo a gente tem tanto a liberdade de
escrever como a liberdade de nÃo ler algo que seja publicado.  Assim
vou aqui escrever um memorial tanto no sentido de nossa academia como
no sentido da lÃngua Inglesa.

Dia 12 de junho faleceu uma pessoa que eu admirava desde que o
conheci.  Professor Michael Kasha, um grande cientista.  Na seguinte
pÃgina vocÃs poderÃo ler sobre suas conquistas:

http://www.tallahassee.com/apps/pbcs.dll/article?AID=2013306140028

  Mas o que queria dizer à que tive a sorte de ser recebido pela
famÃlia Kasha por um simples golpe de sorte.  Nicolas, seu filho foi
um apaixonado pelo Brasil e assim que chegamos apareceu em nossa porta
para treinar seu portuguÃs.  Ficamos assim amigos da famÃlia que nos
recebia com muito carinho.  Dr Kasha dedicava-se bastante ao Andre,
meu filho, quando Ãamos a sua casa.

Dr Kasha era uma pessoa de uma simplicidade incrÃvel e um cientista de
grande valor. No artigo acima irÃo ver o quanto ele alcanÃou em sua
vida de cientista.  Ensinou-me que devemos como acadÃmicos, sempre
iniciar uma nova carreira quando a atual estava chegando ao seu
mÃximo. Assim, enquanto a primeira iniciava um declÃnio, a segunda
estava iniciando a subida.  E assim devia ser a sequencia da vida de
um acadÃmico.  DeclÃnio de uma, subida de uma nova!  Ele fez de quase
tudo, com sucesso.  Escreveu um artigo na enciclopÃdia britÃnica sobre
construÃÃo de violÃes, outro sobre construÃÃo de barcos e ganhou um
prÃmio com a flor Lili, nome de sua esposa, Lili Kasha, que conseguiu criar em seu jardim fazendo estudos genÃticos.

Dr Kasha era mesmo incrÃvel alem de ser uma pessoa adorÃvel.  Nunca
tive a sensaÃÃo de ele se achar superior a quem quer que fosse. Quando
estive angustiado para escrever minha tese de doutorado ele me
explicava sobre a tarefa de escrever ciÃncia. Disse-me certa vez que a escrita de uma tese nÃo pode durar mais do que trÃs meses depois que
a pesquisa tivesse sido completada.    Eu escrevi a minha em trÃs
meses, mais porque meu orientador iria viajar em trÃs meses.  Fiquei
com a sensaÃÃo que tinha aprendido bem os ensinamentos do Dr Kasha.
Quando fui a Tallahasse para o aniversÃrio de 50 anos do departamento de estatÃstica ele fez questÃo de nos ver e tive a impressÃo que ele
nÃo envelhecia.  Brinquei com ele sobre o fato de ele estar usando
seus conhecimentos de quÃmica. Lembrei que ele brigava com o Nicolas com a mania de ser natureba: Dizia ele que tudo à feito de quÃmica
inclusive a alface diÃria de nossa comida. Assim âpor que evitar a
quÃmica dos enlatados?â perguntava ele.

Descanse em paz grande mestre!


Agora um memorial no nosso sentido acadÃmico. Tive a oportunidade de seguir os ensinamentos do mestre Kasha e âsai por aiâ procurando
cientistas para poder iniciar novas âvidasâ.  Com meus companheiros do
Butantan pude publicar vÃrios artigos em citogenÃtica e nosso grupo
està bem ativo inclusive com um artigo recente no PLOS.  Iniciamos
nossa trajetÃria no inicio dos anos 70.  Com o grupo da cirurgia
vascular tive a chance de publicar uma sÃrie de artigos de
meta-anÃlise nas melhores revistas da Ãrea, como J. Vascular Surgery.
O nosso lÃder nesta Ãrea foi o saudoso Dr Maximiano Albers, outro
grande cientista.   Na Ãrea de Psiquiatria encontrei muitos desafios e
venho tendo a honra de publicar artigos em revistas de renome com
grandes nomes da Ãrea.  Na Ãrea de genÃtica tive dois mentores, os
saudosos Professores Oswaldo Frota-Pessoa e Luiz Edmundo MagalhÃes.  A
minha tese de mestrado foi construÃda dentro do laboratÃrio do
Professor Edmundo.  Aproveitando meus problemas de saÃde, fui paciente
de fisioterapia na faculdade de medicina. Ali fui atendido pela Dra
AmÃlia Marques Pasqual, hoje uma das lideres da Ãrea no Brasil.
ConstruÃmos uma trajetÃria de sucesso com uma sÃrie publicaÃÃes
relevante na Ãrea.  HÃ ainda minha participaÃÃo esporÃdica em outras
Ãreas como administraÃÃo e epidemiologia entre outras.

A multidisciplinaridade foi sempre a recomendaÃÃo do mestre Kasha.
Ele tinha razÃo e assim posso recomendar aos nossos jovens que
procurem fazer seus caminhos com lideranÃas competentes como as que eu
tive.

Chegar aos 67 anos tem estes dissabores: perdemos nossos amigos,
pedaÃos de nÃs mesmos, a cada momento.

--
Carlos Alberto de BraganÃa Pereira
http://www.ime.usp.br/~cpereira
http://scholar.google.com.br/citations?user=PXX2AygAAAAJ&hl=pt-BR
Stat Department - Professor & Head
University of SÃo Paulo