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RE: [ABE-L]: Ciência Brasileira




Caros Redistas: 
 
Se aprendi algo trabalhando com o Carlinhos, 
eh Tentem! Ousem! e publiquem onde der! 
Publiquem em um congresso que tradicionalmente 
abre as portas para tentativas originais e permita 
ousadias criativas, ou numa boa revista com o 
mesmo espritito aberto e acolhedor. 
 
Atencao: Estas NAO serao revistas Qualis A1, 
principalmente se voce for um cucaracha 
latino-americano, pois nosso lugar no mundo 
nao eh ensinar os gringos como e o que fazer 
em ciencia, mas sim cuidar dos detalhes, isto eh, 
fazer as continhas, implementar o modelao, etc.   
 
Uma vez, visitando o Basilio na Penn State,  
(Pennsylvania) este (Basilio) me apresentou o 
C.R.Rao.  Contei ao Rao algumas desventuras, 
similares as relatadas pelo Carlinhos que eu 
acabara de vivenciar. 

O Rao pegou um livrinho com "causos" da 
sua vida, me escreveu uma dedicatoria, e 
falou para eu ler o capitulo tal. 
No tal capitulo, ele relata que recebeu para 
analisar como referee um artigo onde o autor 
"explicava" o teorema de Rao-Blackwell. 
O Rao, anonomamente - como referee, indagou 
o autor qual a necessidade das explicacoes pois 
o artigo onde Rao e Blackwell demonstram o teorema 
ja contem a explicacao de seu significado. 
O autor respondeu que "garotos Indianos" sao muito 
pons para fazer contas matematicas, mas caberia a 
um Ingles de boa estirpe dar as devidas explicacoes. 
 
Caros redistas, nascemos do lado errado do equador... 
Se voces quiserem publicar so em revistas A+, vao passar 
a vida fazendo contas complicadas, fazendo a implementacao 
computacional de modelos (bastante complexos  e sofisticados 
com toda a certeza) e servindo como terceirizados de alto nivel.    
  
Mas a criatividade, a genuina inovacao, esta sera reservada 
aos Senhores do mundo, nao aos subalternos moradores dos 
tristes tropicos. 
 
A politica de gestao de muitas das  agencias de pesquisa, 
induz os cientistas a: 

(1) Publicar somente dentro do chiqueirinho 
(isto eh, de uma area de pesquisa muito bem demarcada) 
 
(2) Publicar nas revistas de maximo prestigio. 
  
O tresultado eh bastante satisfatorio no sentido de 
puxar a media para cima, tirar o povo da inatividade, 
cobrar alguma producao de boa ou otima qualidade 
(sem duvidas a este respeito). 

Todavia, um efeito colateral eu induzir os cientistas a seguir 
o caminho ja bem trilhado pela manada (the beaten path), 
adotar uma posicao submissa, de bom garoto disposto a 
contribuir para um programa de pesquisa cuja concepcao 
nao eh sua, mas sim do boiadeiro que ele so ve de longe, 
ou que vai visitar de quando em quando no hemisferio 
das gentes civilizadas. 

Como plano de carreira, eh o mais seguro... 
Eh por isto que o Carlinhos diz que 

Nao eh para ousar, Nao eh para sair da mesmice. 

> Ou seja não ousem. Façam o padrão de sempre.  
 
Todavia, quem conhece a peca rara, sabe que  
    
Nao eh o C@C&T&! 
 
---Julio 
 
 


 

> Date: Tue, 3 Dec 2013 22:18:32 -0200
> From: cpereira@ime.usp.br
> To: abe-l@ime.usp.br
> Subject: [ABE-L]: Ciência Brasileira
>
>
> Caros redistas nem tentem ousar.
>
> Tenho recebido umas avaliações de artigos novos que venho escrevendo
> com meus brilhantes alunos.
> O bom é que todos nos mandam elogios e dizem que parece muito bom.
> No entanto fazemos coisas foras dos padrões.
> Pensava eu que era a síndrome do Tupiniquim.
> Isto porque enviamos um artigo para o Annals e os caras nos disseram
> que era um belo trabalho mas era específico então nos recomendaram
> para uma revista específica.
> Foi para o BA que é a melhor revista de nossa área e ai ficamos
> impressionados com a análise dos
> referees que não disseram nada de ruim, tudo de bom. Mas o Editor
> associado que trabalhou nosso paper disse que precisávamos comparar
> com as coisas existentes pois não estava dentro do padrão.
>
> Um outro paper mandamos para nossa revista que tb não disseram nada de
> ruim mas que era preciso comparar com métodos existentes. Como
> comparar com coisas que não tratam da mesma coisa? Um estima
> parâmetro e faz teste de hipótese. Nós calculamos probabilidades e
> com elas construímos classificadores muito eficientes.
>
> Ou seja não ousem. Façam o padrão de sempre.
>
>
> Dessa forma decidimos enviar nossos papers para revistas de
> engenheiros e médicos que sabem o que é importante na área de
> confiabilidade ou de expressão gênica. O bom é que os impactos são
> muito melhores do que as revistas de estatística.
>
> Mas temos confiança que estamos no caminho certo.
> Um dia quem sabe nossa comunidade vai usar quando alguém importante
> disser que a coisa é boa.
>
> Um abraço
>
> carlinhos
> PS: Só ousem quando estiverem velhinhos como eu que já não precisa de
> publicações
>
> Em 1974 um cientista paulista me procurou para salvar um paper que
> havia sido rejeitado.
> Usei então alguma verossimilhança parcial. Meus colegas acharam que
> eu estava meio doido pois alem de jovem tava fazendo não standard
> métodos.
>
> 1975 o Professor Cox publicou um artigo famoso intitulado Partial Likelihood.
> Nosso paper demorou um pouco para sair justo junto com o ano do Cox
>
> CAB Pereira; MN Rabello-Gay; W Beçak; WF de Almeida; P Pigati; MT
> Ungaro; T Murata
> (1975), Cytogenetic study on individuals occupationally exposed to
> DDT, Mutation
> Research 28:449-54.
>
> Meus colegas não disseram muito sobre o caso.
>
> Esse foi o primeiro de muitos casos.
>
>
>
>
>
>
>
>
> --
> Carlos Alberto de Bragança Pereira
> http://www.ime.usp.br/~cpereira
> http://scholar.google.com.br/citations?user=PXX2AygAAAAJ&hl=pt-BR
> Stat Department - Professor & Head
> University of São Paulo
>
>