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Re: [ABE-L]: Ciência Brasileira



Colegas,

Os protocolos de avaliação em vigor na nossa pós-graduação de fato justificam esta visão pessimista. Alguns aspectos para corroborar.

1. Ter listas de periódicos separadas por área limita a circulação de ideias, e cria paradoxos, como revistas muito bem avaliadas numa área que são mal avaliadas em outras.
2. O caso é mais grave na Estatística, pois a produção nessa área envolve muitas vezes colaborações com gente de todas as áreas; entretanto, os periódicos 'aceitáveis' segundo o QUALIS da área são muito poucos e focados num tipo de contribuição bem particular.
3. No recente workshop "The Future of Statistical Science", realizado em Londres, por organização do ISI, ASA, RSS e mais alguns parceiros, TODAS as áreas de fronteira identificadas como requerendo avanços importantes nos próximos 10 anos são áreas de APLICAÇÃO: genética, dieta e nutrição, BIG DATA, privacidade e confidencialidade, risco, etc. Se procuramos por revistas para publicar trabalhos nestas áreas, não as encontraremos no QUALIS da área de Matemática e Estatística.
4. Outro problema é a metrificação exagerada. Para poder aplicar critérios de pontuação da produção de forma automática, as revistas do QUALIS são alocadas em classes A1, A2, etc. O que é peculiar não é ter classes, mas sim é ter classes cuja frequência é arbitrada externamente aos dados. Assim, na classificação A1 só podem estar x% das revistas. Ora, se a classificação é para diferenciar por qualidade, como antecipar que só podemos ter x% das revistas na classe de qualidade A1? Insensato, para dizer o mínimo.

Porém, parafraseando Churchill, que disse que a democracia é o pior dos regimes, tirando todos os outros que já foram testados ("It has been said that democracy is the worst form of government except all the others that have been tried."), o sistema atual será defendido como o melhor, tirando todos os outros que já foram testados... Já ouvi esta frase de um coordenador de área da CAPES.

Por estas razões é que acho fundamental discutir e discordar, e tentar ampliar o espaço para promover melhorias no sistema existente, que provavelmente não será eliminado, mas que talvez possa ser aprimorado.

Saudações. Pedro.


Em 3 de dezembro de 2013 22:18, Carlos Alberto de Bragança Pereira <cpereira@ime.usp.br> escreveu:

Caros redistas nem tentem ousar.

Tenho recebido umas avaliações de artigos novos que venho escrevendo com meus brilhantes alunos.
O bom é que todos nos mandam elogios e dizem que parece muito bom.
No entanto fazemos coisas foras dos padrões.
Pensava eu que era a síndrome do Tupiniquim.
Isto porque enviamos um artigo para o Annals e os caras nos disseram que era um belo trabalho mas era específico então nos recomendaram para uma revista específica.
Foi para o BA que é a melhor revista de nossa área e ai ficamos impressionados com a análise dos
referees que não disseram nada de ruim, tudo de bom.  Mas o Editor associado que trabalhou nosso paper disse que precisávamos comparar com as coisas existentes pois não estava dentro do padrão.

Um outro paper mandamos para nossa revista que tb não disseram nada de ruim mas que era preciso comparar com métodos existentes.  Como comparar com coisas que não tratam da mesma coisa?  Um estima parâmetro e faz teste de hipótese.  Nós calculamos probabilidades e com elas construímos classificadores muito eficientes.

Ou seja não ousem.  Façam o padrão de sempre.


Dessa forma decidimos enviar nossos papers para revistas de engenheiros e médicos que sabem o que é importante na área de confiabilidade ou de expressão gênica.  O bom é que os impactos são muito melhores do que as revistas de estatística.

Mas temos confiança que estamos no caminho certo.
Um dia quem sabe nossa comunidade vai usar quando alguém importante disser que a coisa é boa.

Um abraço

carlinhos
PS: Só ousem quando estiverem velhinhos como eu que já não precisa de publicações

Em 1974 um cientista paulista me procurou para salvar um paper que havia sido rejeitado.
Usei então alguma verossimilhança parcial.  Meus colegas acharam que eu estava meio doido pois alem de jovem tava fazendo não standard métodos.

1975 o Professor Cox publicou um artigo famoso intitulado Partial Likelihood.
Nosso paper demorou um pouco para sair justo junto com o ano do Cox

CAB Pereira; MN Rabello-Gay; W Beçak; WF de Almeida; P Pigati; MT Ungaro; T Murata
(1975), Cytogenetic study on individuals occupationally exposed to DDT, Mutation
Research 28:449-54.

Meus colegas não disseram muito sobre o caso.

Esse foi o primeiro de muitos casos.








--
Carlos Alberto de Bragança Pereira
http://www.ime.usp.br/~cpereira
http://scholar.google.com.br/citations?user=PXX2AygAAAAJ&hl=pt-BR
Stat Department - Professor & Head
University of São Paulo





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Pedro Luis do Nascimento Silva
ISI President-Elect 2013-2015
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