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RES: [ABE-L]: Comparação de pesquisas eleitorais com os resultados das eleições



Prezados Colegas,
 
O reconhecimento da profissão de Estatísitco na legislação eleitoral é, pra mim, um marco muito importante para todos nós profissionais.
 
A profissão de Estatística foi criada em 1965, por lei federal, regulamentada incialmente por decreto federal e depois pelas resoluções do CONFE.
 
Mas grande tem sido o desafio do sistema CONRE´s/CONFE em fiscalizar o exercício profissional por diversos e complexos motivos que gastaria muito tempo para descreve-los suficientemente. Mas, sem sombra de dúvidas, a inclusão na legislação eleitroal foi um marco muito importante para o reconhecimento de nossa profissão.
 
Os Conselhos Regionais tem poucos ou quase nenhum instrumento legal para auxiliar da fiscalização do exercício profissional. Assim, a atual legislação eleitoral apenas reconheceu um obrigatoriedade que já existia por lei. Ora para fazer uma pesquisa quantitativa envolvendo processos amostrais e de inferência já era obrigatório que fosse realizado por um profissional de nível superior legalmente habilitado. E como a legislação Brasileira prevê esse controle? O MEC diz que para formação de um bacharel de nível superior é necesário um curso devidamente homologado pelo MEC de no mínimo 3.000 horas. E para atuação profissional é necessário o registro deste bacharel formado no Conselho de classe. Pronto, ai formou-se a cadeia de controle da nossa legislação.
 
Mas, sempre houve a atuação nesta área por diversas empresas sem a devida inscrição e as pesquisas quantiativas planejadas e coordenadas por diversas pessoas sem a formação mínima requerida pelo MEC e sem o registro no órgão de classe conforme determinação legal.
 
E o que os Conselhos faziam? quase nada.
 
Assim, a própria administração pública e seus diversos sistemas admitiam isso...
 
A legislação eleitoral só reconheceu uma legislação federal já exitente e disse, "para fazer pesquisas quantitativas é necessário que seja planejada e coordenada por um estatístico!". Ou seja, nada mudou, porque isso já era obrigatório. Assim, o sistema eleitoral apenas reconheceu a legislação anterior.
 
O primeiro e grande passo foi dado. Pois agora os TRE´s passaram a auxiliar a fiscalização do exercício profissional dos estatísticos nos casos de pesquisa eleitoral. Bravo!! ganhamos um excelente aliado para a fiscalização.
 
Com relação a qualidade destas pesquisas, os tribunais nada ou quase nada podem fazer.
 
Se alguns Juízes amadurecerem mais, eles podem requisitar pareceres de peritos nomeados por ele. A justiça pode fazer isso. Pode ainda requerer parecer do CONFE.  Veja o que diz o artigo 23 do Decreto Federal nº 62.497, de 1º de abril de 1968, que aprovou o regulamento para o exercício da profissão de estatístico.

                                    Art. 23 - O Conselho Federal de Estatística tem por finalidade orientar, supervisionar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de Estatístico e contribuir para o aprimoramento da Estatística no País.

                                    Parágrafo único. O Conselho Federal de Estatística se constitui em órgão consultivo do Governo no que refere ao exercício e aos interesses profissionais do Estatístico.

 
Mas se o sistema judiciário ainda não fez muito nós podemos fazer sim!!!!
 
Assim, conclamos a todos os profissionais estatísticos, todos os professores, e todas as instituições para atuarem firmemente no auxílio da fiscalização, principalmente da qualidade destas pesquisas. Assim, nós podemos fazer a diferença.
 
Nós temos que formular denúncias em casos concretos, formularmos processo admistrativos concretos, fazer autuações e penalizar as atuações incorretas.
 
Sem denúncia não há processo para culminar em alguma pena. Sem pena não há aprendizado.
 
Se faço errado e nada acontece... então, tudo posso. Faço o que me aprouver...
 
Portanto, vou mais uma vez conclamar:
 
1) Vamos fazer denúncias; quem? (qualquer um, todos os profissionais estatísticos, todos os professores, e todas as instituições)
2) Aos Conselhos, vamos apurar, vamos fazer julgamentos inparciais, técnicos e profundos, requerer pareceres de especialistas;
3) Aos Conselhos, vamos criar jurisprudênciais, formular decisões, profissionailizar nossa câmara julgadora;
4) Ao CONFE, vamos apereiçoar nossa legislação quanto a fiscalização, e também, vamos criar jurisprudênciais, formular decisões, profissionailizar nossa câmara julgadora;
 
Tá na hora do sistema funcionar para respoder aos anseios de nossa comunidade acadêmica e de nossa população.
 
Com relação as questões técnicas devemos aprofundar as discuções, só que nessa área acho que de forma acadêmica, científica. Acho que um debate informal poderia produzir idéias e discussões, mas somentes trabalhos acadêmicos é que poderiam ter uma alcance maior.
 
Querem ver? posso defender o sistema de cotas. Poderia levantar a hipótese de que no caso das questões eleitorais a realização de obras influenciam na decisão do eleitor. Por exemplo, num bairro que possui uma determinada identidade entre os moradores, o nível de descaso ou de obras podem influenciar de forma signicativa a opinião dos eleitores? Será que esta hipóetese é absurda? Se assim fosse, determinar cotas por estratos identifcados como identidades de bairros ou regiões, não seria um absurdo. Como seria coletar amostra por critérios 100% randômicos? Penso eu que não temos como escolher ao acaso um eleitor. Para isso deveríamos numerá-lo num cadastro completo e sorteá-lo usando uma função randômica.
 
Como costumo fazer? Determino cotas nos bairro proporcionais a população. Nos bairros, a partir de uma média de número de residências nas quadras, determino quantas quadras serão pesquisadas e as a seleciono por meio de função randômica. Depois, em cada quadra selecionada sorteio o vértice incial de cada quadra, e depois sorteio a primeira residência a ser pesquisada de forma sistemática naquela quadra. Assim, o pesquisador já sai para o campo sabendo qual a residência que irá pesquisar. Sempre utilizando as técnicas amostrais. Se está certo ou não não sei. Mas pelo mesno não deixo para o pesquisador de campo o trabalho de tomar a decisão de onde pesquisar, o faço de forma científica, ele só deve seguir um roteiro imparcial e causístico para seguir.
 
A maioria dos institutos não planejam de forma adequada sua coleta, até para reduzir os custos. Assim, é deixado uma parcela muito grande para que o pesquisador de campo tomar suas decisões no calor da coleta. O que certamente pode aumentar muito a possibilidade de viés.
 
Mas há outros problemas. Na questão eleitoral há o princípio do "voto secreto", que dá o direito da não identificação do voto. Logicamente este princípio se estende ao eleitor quanto sua intenção de voto mesmo antes da eleição. Assim, ninguém é obrigado a revelar seu voto. A partir daí Juízes tem proíbido a identificação do eleitor na declaração da intencão de voto. Ora se faço um levantamento residencial, em tese deveria fazer o controle e repesquisar um percentual da amostra para checar se o questionário foi efetivamente aplicado e a intensão do voto foi efetivamente trasncrita sem manipulações pelo pesquisardor de campo. Mas como vou fazer se não consta o nome do eleitor e não posso identificá-lo? Como as empresas podem fazer o controle de qualidade do levantamento? Dizem que fazem, mas acho que não o fazem.
 
Temos que ver a forma como os candidatos apresentam os resultados... muitas vezes de forma toda distorcida. O gráficos elaborados de forma completamente tendenciosas. Há possibilidades de vendas de resultados durante o processo para ao final vender apenas percentuais dentro da margem de erro..
 
Diversos outros pontos precisam ser realmente debatidos cientificamente. Acho que as universidade devem criar seminários, debates, etc.. até culminarem em diversos trabalhos científicos que possam nortear mais adequadamente os profissionais do ramos e logo em seguida o CONFE poderá sugerir mudanças na legilação quanto a fiscalização e quem sabe na legislação eleitoral.
 
Também é fundamental fazermos alguma coisa além dos debates. Fazer algo. Pois certamente se isso continuar assim, vai decretar de vez a fanlência do Sistema CONRE´s/CONFE e logo em seguida da profissão de Estatístico.
 
Saudações,
 
Apolo F N Santos
Estatístico/Presidente CONRE PA/AP
 

De: dsfontes@gmail.com [mailto:dsfontes@gmail.com] Em nome de DSFontes
Enviada em: quarta-feira, 22 de outubro de 2008 12:31
Para: CONFE; CONRE-1ª REGIÃO; CONRE-2ª REGIÃO; CONRE-4ª REGIÁO; CONRE-5ª REGIÃO / Jair; CONRE-7ª REGIÃO / Robson; CONRE-8ª REGIÃO / Apolo
Cc: Geraldo Magela Morcerf; Ronaldo Gueraldi; Luiz Carlos da Rocha; Nelson Raso CONFE; André Gustavo Guimarães Cunha; André Arantes; Diorlene Oliveira da Silva
Assunto: Re: [ABE-L]: Comparação de pesquisas eleitorais com os resultados das eleições

Encaminho mensagem complementar do Prof. José Carvalho --- estatístico formado pela ENCE, com mestrado em estatística pela USP e doutorado em estatística pela Universidade de Iowa (EUA), registrado regularmente no CONRE-3:

"Obrigado aos colegas que se manifestaram. Sempre é bom suscitar uma discussão nesta lista.

Quanto a me dirigir ao TSE ou, mais modestamente, ao CONRE, digo-lhes: não adianta. Já tentei no passado. O CONRE, pelo que vejo, pode pouco. Não há muito tempo passado, discuti com a colega Márcia Cavallari, do IBOPE, em reunião promovida pelo CONRE. Foi a mesma discussão, de que as margens de erro não têm base no esquema de amostragem que eles usam. Acho que o CONRE já se dá por achado de se exigir a assinatura de um estatístico. Um dia, quem sabe porisso, as pesquisas eleitorais vão melhorar. Quanto ao TSE é mal assistido. Afinal, não foi um juíz quem escreveu a asneira de que a amostra tem de ser representativa. O TSE já tem seus assessores - e talvez seja um, ou mais de um, estatístico de carteirinha.

Talvez, apenas para ver no que dá, eu envie o texto hoje, à FSP e ao Estadão.

A ver...

Abraços.

Zé C.
--
José F. de Carvalho, PhD
Statistika Consultoria
+55-19-3236-7537"





Abraços,
Doris




2008/10/21 DSFontes <dsfontes@uol.com.br>
Caros colegas:

Volta à tona o assunto "qualidade da pesquisa eleitoral vs. resolução do TSE". Vejam o texto escrito pelo prof. José Carvalho.

Embora o sistema CONFE/CONRE tenha arrecadado muito através da resolução do TSE (talvez, seja o ano em que mais se arrecadou na história do nosso sistema), continuo vendo no formato da resolução do TSE um ponto preocupante para nós. O mundo acadêmico da estatística sempre criticou a forma como as pesquisas eleitorais são feitas, e isso não é novidade. No entanto, quando obrigamos, através de uma resolução do TSE, todos os estatísticos a assinarem e se responsabilizarem por algo que, teoricamente, é um Erro Estatístico, corremos o risco de sermos vistos como uma entidade sem seriedade, apenas interessada no dinheiro e sem interesse real pela qualidade da prática estatística na nossa sociedade. Sabemos que o intuito da resolução não é esse.

Eu, sinceramente, não sei qual é a solução. Mas vejo com bastente preocupação o papel do CONFE/CONRE no caso das pesquisas eleitorais. Se todos os estatísticos -- por um ato de sublime consciência -- se recusarem a assinar as pesquisas eleitorais da forma como são feitas hoje, as empresas terão de pensar numa alternativa à metodologia amostral adotada (cotas). No entanto, sendo o país tão vasto, com grandes problemas de infra-estrutura básica (abrangência de energia elétrica, de telefone/internet, transporte, outros), é preciso estudar -- academicamente e na prática -- sistemas amostrais que sirvam e funcionem bem. É uma tarefa árdua, claro. Como evoluir nesta questão e ajudar a sociedade? Como ajudar o TSE a elaborar uma resolução que obrigue as empresas se registrarem (e, de quebra, terem um estatístico responsável) sem que o texto contenha parágrafos metodológicos que os juízes eleitorais não entendem?

Entendo perfeitamente que, para nós, um "puxão de orelha" vindo do TSE obrigando empresas de pesquisa de mercado a terem um registro e um estatístico responsável está sendo excelente. Todos (empresas e estatísticos) obedeceram e se resgistraram, apesar dos protestos. Mas vejo também aí uma excelente oportunidade para o sistema CONFE/CONRE se unir à academia para, juntos, pensar em soluções que ajudem a melhorar o envolvimento do Estatístico nas pesquisas eleitorais --- e outras pesquisas do Brasil.

Gostaria muito de ouvir a opinião de vocês para, na nossa prática diária, ajudar com maior propriedade tantos usuários e clientes da estatística indagando sobre metodologias e responsabilidades técnicas estatísticas.

Abraços a todos,
Doris Fontes




---------- Forwarded message ----------
From: Dalton Francisco de Andrade <dandrade@inf.ufsc.br>
Date: 2008/10/21
Subject: Re: [ABE-L]: Comparação de pesquisas eleitorais com os resultados das eleições
To: abe-l@ime.usp.br


Zé,
Por que não enviar uma análise como esta para o CONRE? Ele deveria se preocupar
com a qualidade dos trabalhos dos Estatísticos, tendo em vista que toda pesquisa
eleitoral tem que ser assinada por um Estatístico.

Abraços,

dalton.



Quoting Jose Carvalho <carvalho@statistika.com.br>:

Colegas, incluo um documento, escrito para estatísticos, mas muito simples,
mostrando que as pesquisas eleitorais não passam em teste algum de qualidade.
Em particular, que as margens de erro não existem... (o que já sabemos
tecnicamente).

E aproveito para contar-lhes que, logo antes do primeiro turno, fui contactado
por telefone em quatro ocasiões separadas, por pessoas que me pediram que
assinasse como responsável técnico de pesquisas que eles fariam. Por
exigência do TRE, disseram, que demandava um estatístico com registro no
CONRE. Senti-me como um farmacêutico antigo, daqueles que assinavam como
responsáveis por inúmeras farmácias, sem sequer saberem onde ficavam...
Claro, recusei todos os pedidos. Mas em um caso, indaguei como seria o
esquema de amostragem. Depois de ouvir um pouco, quis argumentar e não houve
sequer como me fazer entender. Perguntei qual era a formação da pessoa
encarregada da pesquisa. Cientista político, ou sociólogo, não me lembro bem.
Ante a minha pergunta de como poderia essa pessoa fazer um levantamento
estatístico, ouvi uma resposta belicosa (mas em tom educada, reconheço), em
forma de pergunta: "e como pode um estatístico trabalhar em um levantamento
político?" A pessoa continuou - a exigência de um estatístico é coisa formal,
besteira da justiça eleitoral. a palavra "besteira" está bem presente na
minha memória. Devo concordar?

Eis minha resposta, no anexo.

Abraços aos colegas estatísticos.


--
José F. de Carvalho, PhD
Statistika Consultoria
+55-19-3236-7537









--
Doris Satie M Fontes
Estatístico CONRE nº 7386-A


CONRE-3:
info@conre3.org.br
www.conre3.org.br

PARTICPE DO FÓRUM ESTATÍSTICO: http://www.conre3.org.br/forum