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Re: [ABE-L]: Ainda sobre pesquisas eleitorais



Prezados:

A polêmica em torno das pesquisas eleitorais não é nova, como bem sabemos.
 Porém, o requerimento de registro da metodologia das pesquisas realizadas
em tempo de eleição, junto aos TRE?s, para mim, representa de fato um
avanço. Dessa forma fica documentado o que está planejado oficialmente
para ser realizado e é possível, através de auditoria, investigar
eventuais suspeitas de falhas. É nesse ponto que as colocações do Zé
Carvalho crescem em impacto. Elas deixam claras que as falhas existem a
partir da constatação de que, na prática, não se observa o que é divulgado
para dar respaldo de qualidade aos números perante a sociedade: que a
margem de erro das estimativas é de, por exemplo, 3 pontos pecentuais para
mais ou para menos, com um nível de confiança de 95%.

O Carvalho também aponta para um outro problema sério de ética, sobre a
prática de solicitar estatísticos para simplesmente assinar planos
amostrais de pesquisas pelos quais não tiveram nenhuma responsabilidade.
Acho que levar o assunto para a sociedade em geral, incluindo os TRE?s e
TSE é uma forma de contribuirmos para que, num futuro, seja feito uso das
metodologias registradas nos tribunais para uma efetiva fiscalização de
qualidade dos levantamentos. O próprio debate levantado nessa lista da ABE
já ajuda na conscientização dos futuros estatísticos que dela participam.

Gostaria, no entanto, de acrescentar alguns comentários motivados pelas
últimas mensagens. O primeiro é que não se deve confundir a polêmica em
debate com a condenação da técnica de amostragem por quotas. Ela é uma
legítima representante do método não probabilístico de amostragem.  Como
tal, uma característica inerente é que não há margem de erro nem nível de
confiança atribuível a estimativas provenientes do plano, baseadas na
teoria estatística de amostragem.  Assim sendo, não se justifica usá-lo
divulgando tais informações, como tem sido a prática recorrente dos
principais institutos de pesquisa. Isso é condenável, falta de
transparência.

O problema vai mais além.  Manuais, como o guia para divulgação de
pesquisas eleitorais da ABEP - Associação Brasileira das Empresas de
Pesquisa - ensinam erroneamente a calcular margens de erro e níveis de
confiança de amostras por quotas, usando as fórmulas de amostragem
aleatória simples!

Dada a importância da aplicação, não acredito que seja defensável usar um
plano amostral em que não seja possível estimar margem de erro para um
certo nível de confiança. Por outro lado, observando a prática de
pesquisas eleitorais já há algum tempo, minha impressão é que a escolha
pelo método de quotas tem sim a ver com o custo, mas isso não é tudo. O
desconhecimento/despreparo da maioria dos que tem praticado pesquisas de
intenção de voto é fator determinante para não procurar alternativas
existentes, seja via o método probabilístico de amostragem ou até mesmo
através da adoção do método de estimação de variância de replicação para a
própria amostragem por quotas - foi assim que compararam o desempenho da
amostragem por quotas com o da amostragem aleatória no experimento da
Inglaterra que o Renato mencionou. Nesse estudo, não foi apenas a questão
da tendência das estimativas geradas pelo método por quotas que foi
levantado. Revelou-se, por exemplo, que a variância das estimativas por
quotas era superior a da amostragem aleatória. Chamou-se atenção ainda
para o fato importante de que o método por quotas não registra as
não-respostas, podendo gerar uma fonte de tendência extra considerável, e
outras mais que os que estiverem interessados podem constatar em

MOSER, C.A. and STUART, A. (1953) An experimental study of quota sampling,
JRSS (A), 116, 349-405.

Por último, acho que hoje em dia, a gama de métodos estatísticos
disponíveis em amostragem e o nível de desenvolvimento tecnológico
computacional que alcançamos são suficientes para atacar eficientemente o
problema de gerar pesquisas eleitorais através de métodos probabilísticos.
Para isso, no entanto, é preciso uma qualificação técnica que, a meu ver,
para ser bem determinada, não seria razoável assumir, por um lado, ser
necessária uma exposição a 3000 horas-aula de um curso de graduação em
estatística, da mesma forma que também não seria razoável assumir, por
outro lado, tal condição como única suficiente.

Cristiano