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uma reflexão sobre a pós-graduação



  Um artigo muito interessante sobre a reestruturação da pós-graduação foi 
publicado nos jornais New York Times e Estado de São Paulo(03/05/2009.Parte 
desse artigo:

Reinventar a Universidade (artigo de Mark C. Taylor,Universidade de 
Columbia;publicado nos jornais New York Times e Estado de São Paulo, 
03/05/2009)
 
A pós-graduação é a Detroit do ensino superior.A maioria dos programas de 
pós-graduação em universidades americanas produz um artigo para o qual não 
há mercado e desenvolvem habilidades cuja demanda está em queda ? pesquisa 
em subcampos dentro de subcampos e divulgação em publicações lidas apenas 
por alguns colegas.Tudo a um  custo em rápido crescimento ? às vezes acima 
de US$ 100 mil (R$218 mil) em crédito estudantil.Os congelamentos de 
contratações e as dispensas generalizadas colocaram esses problemas em forte 
destaque neste momento.Mas o sistema de pós-graduação está em crise há 
décadas e as  sementes dessa crise se remontam à formação de universidades 
modernas. Kant escreveu, em seu trabalho de 1798 (O Conflito das Faculdades) 
que as universidades deveriam ?tratar do conteúdo inteiro do ensino com a 
produção em massa, por assim dizer, com uma divisão de trabalho, de modo que 
para cada ramo das ciências haveria um professor público ou um professor 
nomeado como seu responsável?. Infelizmente, esse modelo de universidade com 
produção em massa levou a uma separação onde deveria haver uma colaboração e 
a uma especialização sempre crescente.À medida que os departamentos se 
fragmentam, pesquisa e publicação se torna cada vez mais sobre cada vez 
menos.Cada acadêmico torna-se responsável não por um ramo das ciências, mas 
por um conhecimento limitado que com freqüência é irrelevante. A ênfase em 
um aprendizado estreito também encoraja um sistema educacional que se tornou 
um processo de clonagem. Docentes cultivam alunos cujos futuros eles 
vislumbram como idênticos a seus próprios passados. Para o ensino superior 
prosperar no século 21, as universidades precisam ser, como Wall Street e 
Detroit, reguladas com rigor e completamente reestruturadas. O longo 
processo para tornar o ensino superior mais ágil, adaptativo e imaginativo 
pode começar com alguns grandes passos:
(1) Reestruturar o currículo, começando pelos programas de pós-graduação e 
prosseguindo o quanto antes para o de graduação.O modelo de divisão de 
trabalho de departamentos separados é obsoleto e deve ser substituído por um 
currículo estruturado como uma teia ou uma rede adaptativa complexa. Um 
ensino e conhecimento responsável deve se tornar multidisciplinar e 
multicultural.
(2) Abolir departamentos permanentes, mesmo na graduação, e criar programas 
focados em problemas. Esses programas em constante evolução teriam cláusulas 
sobre tempo de validade, e a cada sete anos cada um seria avaliado, podendo 
ser abolido, continuado ou significativamente modificado.
(3) Aumentar a colaboração entre instituições.A tecnologia torna possível 
que escolas formem parcerias para compartilhar alunos e professores.
(4) Expandir o leque de opções profissionais para alunos de pós-graduação.A 
maioria deles jamais terá o tipo de trabalho para o qual está sendo treinado.
(5) Abolir a vitaliciedade.Inicialmente criada para proteger a liberdade 
acadêmica, a vitaliciedade resultou em instituições com pouca rotatividade e 
professores impermeáveis à mudanças. Ela deveria ser substituída por 
contratos de sete anos que, como os programas que os docentes ensinam, podem 
ser terminados ou renovados.Com essa política, faculdades e universidades 
poderiam premiar pesquisadores, cientistas e professores que continuam 
evoluindo e permanecem produtivos enquanto abrem espaço para jovens com 
novas idéias e habilidades.


  Jorge Alberto Achcar,PhD
  Departamento de Medicina Social,FMRP
  Universidade de São Paulo
  Ribeirão Preto,S.P.,Brasil