Cara Maria Tereza, Muito obrigado pela sua valiosa opinião. Sempre foi muito bom (para mim) termos tido vários contactos profissionais em congressos de estatística pelo Brasil afora. O crescimento da universidade brasileira com qualidade depende basicamente de pessoas como você na gestão de uma universidade que possa ter um reconhecimento internacional. Eu tentarei encontrar um artigo que publiquei (em co-autoria com o Prof. Francisco Cribari da UFPE) no Jornal do Brasil no primeiro domingo (de 1991 ou 1992?), onde enfatizávamos muitos dos problemas da pós-graduação brasileira entrenatava que, infelizmente, persistem ainda hoje. Esse artigo teve grande repercussão à época e recebi cartas desde o Presidente da SBPC até pessoas importantes do MEC, deputados e senadores ligados à educação, passando por alguns reitors de federais. Enviarei ainda essa semana para você. Se eu não achar o pdf tirarei uma cópia do artigo e remeterei pelo correio. Certamente, entendo que o gigantismo da pós-gradução brasileira é um dos grandes flagelos que prejudica o seu crescimento com qualidade. Esse fato é apenas um corolário do gigantismo da graduação. Uma universidade não pode ser boa em todas as áreas e aqueles cursos ineficientes das federais deveriam ser simplesmente fechados para poder contemplar cursos que ofereçam maior qualidade: dos alunos e professores. Apenas para lhe dar um bom exemplo: o MIT não tem um curso de graduação em estatística. O que aconteceu na graduação está, no meu entender, se direcionando para a pós-graduação, onde muitos cursos ofertam apenas diplomas e não são capazes de formar um capital-humano qualificado no sentido amplo da palavra. Claro que existem cursos sérios que funcionam de forma muito competente. Muito obrigado pela sua atenção e receba meu abraço fraterno. Gauss Cordeiro Quoting Tereza Serrano Barbosa <terezabarbosa@unirio.br>:
Prezado Prof Gauss, Como ocupante de um cargo de Pró-Reitora de Pós-Graduação de uma instituição pública (UNIRIO) , participante do Diretório Nacional do Fórum de Pró-Reitores de PG e principalmente como alguém que esteve a vida toda extremamente sensibilizada com as desigualdades sociais existentes no Brasil, não posso deixar de me pronunciar. Apesar da CAPES tentar manter seu padrão , acredito que a expansão da pós-graduação terá que ser feita e está sendo feita a partir de "alguma flexibilização" de qualidade. No entanto, a visão de que o Brasil deve apenas possuir e investir em seus núcleos de excelencia não permitiu e não permite a melhoria da qualidade do ensino de graduação nos mais longinquos locais deste país. Todos conhecem e reconhecem a sua contribuiçao para o crescimento do número de programas de excelencia de Pós-graduação em Estatística no Brasil...no entanto ainda precisamos de muito mais.... ´Só a existencia de um maior número de mestrados e doutorados é que poderá realmente alavancar de forma mais ampla a Educação e a pesquisa brasileira. De que forma a Universidade brasileira poderá se ampliar e incluir 90% de jovens excluidos do ensino Superior? De que forma esta ampliação pode ser feita com o máximo de qualidade possível? Com a admiração de sempre Maria Tereza Serrano Barbosa 2009/6/4 <gauss@deinfo.ufrpe.br>Caro Prof. Jose Maria, Muito grato pelo seu email. O que tenho observado de inúmeros contactos com meus colegas da UFRPE e da UFPE é uma grande preocupação com os rumos da pós-graduação brasileira, principalmente com o gigantismo, onde o objetivo principal da CAPES é muito mais voltado para a quantidade do que a qualidade. Isso já aconteceu no âmbito do Governo FHC em relação a enxurrada de cursos de graduação. Nesse governo a bola da vez parece ser a pós-graduação. Faço pesquisa com muita dedicação e seriedade há quase 40 anos, sou bolsista 1A do CNPq com mais de 100 artigos publicados em periódicos internacionais na área de estatística de bom nível. E, confesso, que me preocupo muito com a pós-graduação brasileira há vários anos, principalmente com aquelas praticadas nos dias de hoje à distância formando alunos de péssima qualidade e as outras profissionalizantes que funcionam apenas como caça niquel. Vários colegas têm se mostrado preocupado com programas do tipo Minter/Dinter. Pode ser que seja uma iniciativa que funcione em termos teóricos mas que não está correspondendo às reais expectativas no geral. Claro que deve haver exceções - patrocinadas por pessoas sérias comprometidas com a academia-, mas posso lhe assegurar que muitos cursos de pós-gradaução no País apoiados pela CAPES são medíocres no sentido amplo do termo. Estarei a sua inteira disposição para trocarmos mais ideias sobre a academia. Em tempo: usei de Gaulle como pano de fundo obviamente. Cordiais Saudações, Gauss Cordeiro Quoting jmpsouza <jmpsouza@usp.br>: Caros colegas:permito-me fazer alguns comentários sobre a mensagem do colega Gauss Cordeiro. Minha Instituição e a Universidade Federal do Acre estão conduzindo um programa Minter/Dinter com muita seriedade e a previsão dos resultados é bem otimista, com base nos projetos propostos, nas apresentações das várias qualificações já feitas e no andamento das pesquisas, algumas prontas para defesa. Seria interessante saber quantos foram "os que se pronunciaram" em relação ao total de coordenadores e se a realidade comentada é baseada em impressões pessoais, devido a algumas experiências particulares mal sucedidas, ou em algum levantamento bem conduzido, que identificasse as falhas reais para que pudessem ser corrigidas. A pós-graduação brasileira certamente não é perfeita, tem muito que melhorar, mas a afirmação que parcela razoável dela está caminhando para um enorme faz-de-conta não pode ser feita sem argumentos sólidos, apenas para aproveitar uma frase que, inclusive, não é certeza ter sido dito pelo marechal. Atenciosamente, José Maria Jose Maria Pacheco de Souza, Professor Titular (aposentado) Departamento de Epidemiologia/Faculdade de Saude Publica, USP Av. Dr. Arnaldo, 715 01246-904 - S. Paulo/SP - Brasil fones (11)3061-7747; (11)3768-8612 fax (11)3714-2403 www.fsp.usp.br/~jmpsouza ----- Original Message ----- From: <gauss@deinfo.ufrpe.br> To: <abe-l@ime.usp.br>; <rbras@rbras.org.br> Sent: Thursday, June 04, 2009 2:21 PM Subject: Parafrasenado Charles de Gaulle! Caros Redistas, Estou presenciando - ideia de alguma eminência parda da CAPES-, algo que pode se constituir em mais um dos demandos do sistema de pós-graduação no País: DINTER (doutorado inter-institucional) e MINTER (mestrado inter-institucional). Por estar mais dedicado às minhas pesquisas, confesso que quando me informaram pela primeira vez da sigla DINTER cheguei a pensar que se tratava de um órgão do DETRAN. Segundo um grande amigo, participante de recente reunião dos coordenadores de pós-graduação na CAPES, "os que se pronunciaram sobre o DINTER estão extremamente chateados porque a realidade é que os alunos querem apenas concluir seus cursos de doutorado e mestrado sem fazer nenhuma pesquisa. Querem ainda que ninguém seja reprovado." É atribuída a Charles de Gaulle, o grande estadista francês, a célebre frase "Le Brésil n'est pas um pays sérieux" (O Brasil não é um país sério). Sem medo de errar, pode-se aqui parafraseá-lo afirmando que uma parcela razoável da pós-graduação brasileira está caminhando a passos largos para um enorme faz-de-conta. Cordiais Saudações, Gauss Cordeiro