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Re: [ABE-L]: duas faces da moeda



Car*s,

> Quanto mais nebulosa for a intersecção, mais problemas profissionais
> teremos. Vejam, por exemplo, o que diz o PLS (Projeto de Lei do
> Senado) Nº 658 de 2007 apresentado pelo Conselho Federal de Economia,
> no seu "Art. 1-A A atividade profissional do Economista: (...) § 2°
> São atividades inerentes à profissão de Economista: (...) XII -
> estudos, pesquisas e análises estatísticas", ou seja, quaisquer
> estudos estatísticos ligados às finanças/economia deverão ser
> realizados por economistas de carteirinha! 

É, de fato, estranho. Todavia, é igualmente estranho dizer que
economistas não podem fazer análises estatísticas de fenômenos
econômicos. Há uma área da economia chamada econometria, que se ocupa
exatamente disso. Alunos de graduação e pós-graduação de economia cursam
várias disciplinas de econometria, há muitos livros e revistas
científicas da área, há sociedades científicas nacionais e
internacionais da área (e.g., Econometric Society, Sociedade Brasileira
de Econometria), há softwares econométricos no mercado, etc. Existem
defensores de carteirinhas que afirmam que economistas não podem
realizar análises econométricas. Isso soa bizarro a muitos ouvidos. Tão
bizarro quanto o que o texto acima. 

Já pensou se só matemáticos pudessem calcular derivadas e realizar
otimizações? Já pensou se só informáticos pudessem realizar
programações? Onde estaríamos nesse cenário? Sequer poderíamos calcular
um estimador de máxima verossimilhança (que requer otimização) ou um
esquema de bootstrap (que tipicamente requer programação). 

Acho que o mundo evoluiu sobremaneira nas últimas décadas. Visões
estanques e compartimentalizadas da ciência e de muitas atividades
profissionais tornaram-se, no período recente, ainda mais anacrônicas. 

Abraços científicos, 

FC

--
Francisco Cribari-Neto               voice: +55-81-21267425
Departamento de Estatística          fax:   +55-81-21268422
Universidade Federal de Pernambuco   e-mail: cribari@de.ufpe.br
Recife/PE, 50740-540, Brazil         http://www.de.ufpe.br/~cribari

   A statistician drowned while crossing a stream that was,
   on average, 6 inches deep.