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Re: [ABE-L]: duas faces da moeda




Caros Redistas,

Aproveitando os e-mails do Francisco Cribari e da Dóris,
gostaria de ressaltar que recebi cinco posicionamentos
sobre a minha assertiva (infelizmente, por questão de
temperamento, as pessoas se pronunciam em "off"):

"Infelizmente, existe na área de estatística do País, a outra face
da moeda: pessoas sem compromisso real com a pesquisa estatística
assumem um posicionamento de faz-de-conta na orientação
de dissertações de mestrado e teses de doutorado.
A estatística deve crescer pautada nos primeiros mas
é seguramente penalizada por ações deletérias dos
segundos".

Todas eles convergiram para enfatizar que esse problema não era
apenas da área de estatística mas de todas as áreas acadêmicas.
Concordo com o ponto da convergência mas na estatística o
problema se mostra muito mais significativo, pois nosso capital
humano é muito reduzido e, facilmente, distinguimos o joio do
trigo, ou seja, os oportunistas de plantão daqueles que realmente
fazem estatística com dedicação e trabalho.

Não acredito em nenhum bom fruto que não seja oriundo do
binômio "dedicação e trabalho".

Cordiais Saudações,

Gauss







Quoting Francisco Cribari <cribari@de.ufpe.br>:

Car*s,

Quanto mais nebulosa for a intersecção, mais problemas profissionais
teremos. Vejam, por exemplo, o que diz o PLS (Projeto de Lei do
Senado) Nº 658 de 2007 apresentado pelo Conselho Federal de Economia,
no seu "Art. 1-A A atividade profissional do Economista: (...) § 2°
São atividades inerentes à profissão de Economista: (...) XII -
estudos, pesquisas e análises estatísticas", ou seja, quaisquer
estudos estatísticos ligados às finanças/economia deverão ser
realizados por economistas de carteirinha!

É, de fato, estranho. Todavia, é igualmente estranho dizer que
economistas não podem fazer análises estatísticas de fenômenos
econômicos. Há uma área da economia chamada econometria, que se ocupa
exatamente disso. Alunos de graduação e pós-graduação de economia cursam
várias disciplinas de econometria, há muitos livros e revistas
científicas da área, há sociedades científicas nacionais e
internacionais da área (e.g., Econometric Society, Sociedade Brasileira
de Econometria), há softwares econométricos no mercado, etc. Existem
defensores de carteirinhas que afirmam que economistas não podem
realizar análises econométricas. Isso soa bizarro a muitos ouvidos. Tão
bizarro quanto o que o texto acima.

Já pensou se só matemáticos pudessem calcular derivadas e realizar
otimizações? Já pensou se só informáticos pudessem realizar
programações? Onde estaríamos nesse cenário? Sequer poderíamos calcular
um estimador de máxima verossimilhança (que requer otimização) ou um
esquema de bootstrap (que tipicamente requer programação).

Acho que o mundo evoluiu sobremaneira nas últimas décadas. Visões
estanques e compartimentalizadas da ciência e de muitas atividades
profissionais tornaram-se, no período recente, ainda mais anacrônicas.

Abraços científicos,

FC

--
Francisco Cribari-Neto               voice: +55-81-21267425
Departamento de Estatística          fax:   +55-81-21268422
Universidade Federal de Pernambuco   e-mail: cribari@de.ufpe.br
Recife/PE, 50740-540, Brazil         http://www.de.ufpe.br/~cribari

   A statistician drowned while crossing a stream that was,
   on average, 6 inches deep.