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, mais do que livros ,falta responsabilidade e seriedade ........



Caro Gauss e Carvalho,

As suas colocações sobre o comportamento dos alunos da graduação e pós-graduação , em particular os alunos do bacharelado de Estatística, focalizam um problema que ao meu ver está agravando -se exponencialmente de ano para ano. A passividade e a indiferença da maioria dos alunos é inversamente proporcional ao entuasiamo e a criatividade do professor ( que é raro na nossa comunidade) ao tranferir os conhecimentos estatísticos aos alunos. O interesse da maioria é passar na disciplina a qualquer custo e receber o diploma. É curioso que isto esteja ocorrendo no melhor momento da Estatistica e apenas uma minoria formado por alunos talentosos realmente estejam comprometidos com o aprendizado. Infelizmente, este problema está agravando e não vejo nenhuma discussão sobre o assunto ou um caminho a seguir para controlar esta tendência. As turmas são cada vez maiores , a reprovação está aumentando e as classes de recuperação não funcionam. Sempre procurei escrever e atualizar as minhas notas de aula e deixar disponível para os alunos com antecedência para estimular o questionamento e a reflexão durante a aula, mas nada disso altera o comportamento da maioria dos alunos. Confesso que já esgotei todas as minhas energias e imaginação para resolver este problema e espero que a minoria talentosa desta nova geração consiga encontrar uma solução e acabar com esta hipocresia geral onde o aluno finge que está aprendendo e o mais grave, o professor finge que está ensinando prevalecendo um mediocre corporativismo acadêmico. Abs. Josemar ----- Original Message ----- From: "Jose Carvalho" <carvalho@statistika.com.br>
To: <abe-l@ime.usp.br>
Sent: Sunday, October 23, 2011 8:54 PM
Subject: Re: [ABE-L]: faltam livros...


Caro Gauss, boa noite!

Sou, mais uma vez, provocado por uma mensagem sua. Não é reclamação. Ao
contrário, um agradecimento por instigar.

Tenho igual apreciação sobre o problema aventado por V. Já há muito tempo
passado, em um curso de graduação na Unicamp, um aluno surtou em minha aula.
Fora provocado por uma exortação minha a que estudassem e que lessem muito.
Ele, aos prantos, disse que em sua família nunca entrara um livro. Como podia
eu exigir que ele lesse, e, mais ainda, livros em inglês? Ele conseguiu a
consideração de boa parte da turma. Isso eu entendo, dado o problema, o jeito
com que ele se dirigiu a mim, descontrolado, supostamente pela minha fala.
Pior é que alguns professores, sabendo do problema, acharam que ele tinha
certa razão. Afinal, coitado, ele merecia uma atenção especial.

Em geral, eu começava os cursos cheio de garra, dando notas escritas, cobrando exercícios, enfim fazendo o que devia fazer. Não vou dizer, de mim mesmo. que fazia COMO devia fazer. Deixo a outros a avaliação, se houver. Mas sei que, no
decorrer dos semestres letivos, ao ver  olhares de surfistas fitando o mar
vazio, a ausência de entusiasmo da maioria, e mesmo a falta de capacidade e de
base, a "garra" sumia. Não adiantava reprovar, pois isso não os forçaria a
estudar. Por razões e modos que não citarei aqui, nada impediria nem atrasaria
a progressão formal desses alunos à obtenção de um canudo no final.

Como V., também tive alunos excepcionais. Exceções a essa regra, mas eram
poucos.

Por outro lado, continuo na minha opinião que a formação profissional de
estatística devia dar-se, como nos EUA, na pós-graduação. Seria um jeito de
termos melhores alunos, e mais maduros, capazes de entender o que é
estatística. Esses alunos seriam melhor motivados.

A conversa é muito grande para esta lista. Mas que sua observação procede, não cabe dúvida. De resto, isso não é um reflexo do Brasil de hoje, onde qualidade e dedicação são substituídos pela acochambração? A corrupção generalizada é um
câncer, que desmoraliza e desmotiva  a todos, em tudo.

Abraços dominicais... :-)

Zé C.



On Sunday 23 October 2011 09:01:08 gauss@de.ufpe.br wrote:
Caros Redistas,

Ontem jantando com um amigo, engenheiro civil, empresário bem sucedido,
que estudou comigo na UFPE, ele me dizia que os últimos engenheiros
que sua empresa havia contratado, não tinham os livros básicos das
disciplinas de resistência dos materiais, concreto armado,
instalações hidráulica e elétrica.

Ele me contou, também, que um engenheirando do CEFET (eu não sabia que
os CEFETs tinham cursos de engenharia, pois pensava que era para
formação de técnicos), enfatizou que os próprios professores não
adotavam livros.

Em suma: eles faziam todo o curso de engenharia sem comprar esses livros.
Bem diferente da nossa época que seguíamos virando noites debruçadas
nesses livros. Nos cursos de Estatística, graduação e pós, presencio
vários alunos "sem élan" para nossa área. Claro, que alguns são bem
dedicados e mostram-se interessados em aprender, mas parece que esses
últimos formam um percentual bem menor. Nos dias de hoje, existem todas as
facilidades que não tínhamos quando entramos na universidade em 1970.
Entretanto, muitos alunos persistem na universidade literalmente sem
estudar e apenas aguardando o produto final: um diploma. Existem até
aqueles alunos que querem voar como um condor se não sabem voar nem como
um bacurau.

Que fique registrado aqui a nossa preocupação como educadores e na
formação de novos pesquisadores!

Bom domingo para todos.

Cordiais Saudações,

Gauss