> A questão de definir-se a estatística ou pelo menos delimitar a sua área de Caros Estatisticos (de carteirinha): Cito com orgulho o sabio Artigo 1 e seu paragrafo unico, do regimento da antiga ORSA, (hoje transmutada em INFORMS, apos a fusao com a TIMS), a Sociedade Americana de Pesquisa Operacional, ou American Society of Operations Research (OR). A-1: Apenas a Direoria da ORSA pode se pronunciar sobre a definicao de OR, suas areas de pertinencia e atuacao. A1, P-1: Recomenda-se fortemente que a diretoria da ORSA guarde o mais absoluto silencio sobre o assunto especificado no caput deste artigo. Um abraco a todos, --- Julio (Stern) > Date: Mon, 16 May 2011 18:50:48 -0300 > From: caio@ime.usp.br > To: carvalho@statistika.com.br > CC: asimonis@ime.usp.br; basilio@hucff.ufrj.br; pedronsilva@gmail.com; abe-l@ime.usp.br > Subject: Re: [ABE-L]: Uma pequena provocação, para animar o sábado, um exto de um estatístico de renome, citaado um gigante, seu professor > > > Caros Zé Carvalho , Pedro Nascimento, Adilson, Basílio e redistas > Volto a questão denominada provocação pelo Zé Carvalho e que vocês > contribuíram para a discussão. Concordo com o Basílio que não se trata > de uma provocação e sim de uma polêmica muito estimulante. A questão > de definir-se a estatística ou pelo menos delimitar a sua área de > pertinência bem como de estabelecer-se o que é teoria e o que são > aplicações é uma das mais difíceis e controversas. > Reproduzo aqui a tradução livre apresentada pelo Zé Carvalho do > trecho do Rubin , citado por ele. > "Depois de regressar a Harvard para o meu segundo e terceiro anos em > matemática aplicada, eu descobri que havia um departamento chamado > "Estatística" que parecia incluir o estudo das coisas que eu já estava > fazendo. No meu quarto ano na Universidade de Harvard, eu era um PhD > estudante nesse departamento, com um tópico pronto para minha tese, e > com um fabuloso orientador, que também era um ser humano maravilhoso, > William G. Cochran. Bill, que era um dos três professores sêniores no > Departamento de Estatística da Universidade de Harvard, sendo os > outros Arthur Dempster e Frederick Mosteller, teve uma poderosa > influência sobre mim. Ele me ensinou o que significava estatística: > fazer algo para resolver um verdadeiro problema importante. Se um > projeto não tivesse alguma relevância para o mundo real, a visão de > Bill era que ele poderia ser de interesse para alguns, e que estava > OK, mas não era de interesse para ele. Podia ser excelente matemática, > mas então eu deveria convencer um matemático, não ele. Ele não se > interessava, nem seria capaz trabalhar naquilo. Ao longo dos anos, eu > tentei incutir a mesma atitude em meus alunos de doutorado em > estatística." > A meu ver o Donald Rubin citando o Cochran não define ou caracteriza > a Estatística , pois o que ele afirma aplica-se a qualquer campo das > ciências exatas quando se procura resolver problemas do mundo real. É > assim na física, na matemática, em ciências biológicas e nas > engenharias. Os engenheiros tem essa visão por excelência pois, estão > interessados em resolver problemas do mundo real: construir canais , > portos , prédios, siderúrgicas , automóveis e assim por diante . O que > esta em jogo é uma distinção entre teoria e aplicações. A meu ver a > distinção entre teoria e aplicações corresponde a dois estados de > espírito ou preferências dos pesquisadores para abordar o > conhecimento e a ciência - os aplicados são aqueles que estão > interessados em resolver problemas e que na busca das soluções usam > além de seu talento ferramentas teóricas podendo desenvolvê-las ou > criá-las. Os teóricos são aqueles cujo interesse fundamental reside na > especulação teórica sem preocupar-se com os resultados das mesmas. > Muitas teorias matemáticas foram elaboradas não se vislumbrando > aplicações como por exemplo a lógica Booleana. Na realidade não há > compartimentos. Há pessoas que são estatísticos teóricos., outras que > são estatísticos aplicados e outras que são matemáticos , estatísticos > teóricos e aplicados. Apenas para dar um exemplo - David Freedman > quando chegou a Berkeley depois de obter o PH.D. em Princeton sob > orientação de Feller era um probabilista e se não me engano manteve-se > como tal por vários anos. Depois interessou-se pelas aplicações e > dedicou-se as mesmas até o final de sua vida continuando a produzir > teoria. Acho que a definição ?A estatística é a ciência que trata de > fazer-se inferência ou tomar decisões na presença de incerteza. ? é > simples e define o campo da estatística que é então bem distinto do > campo da matemática. Para finalizar gostaria dizer que na primeira > referência Rubin julguei tratar-se de Heman Rubin. As primeiras > menções a Hermam Rubin que ouvi foram feitas por Blackwell e Le Cam em > uma conversa pessoal. Referiam-se a ele como um cara genial e com um > comportamento de um ? enfant terrible? . Eles mencionaram que em seu > pós-doutoramento no Institute for Advanced Studies em Princeton aos 21 > e 22 anos Herman Rubin costumava entrar na sala dos professores mais > seniores e propor-lhes problemas retornando depois para solicitar as > soluções ou apresentar-lhes a sua solução. Eu anexo uma entrevista de > Herman Rubin para que possam ver a múltipla atuação dele em > matemática, estatística tanto na teoria como nas aplicações. > Atenciosamente Carlos Caio Dantas > P.S. Foi com profundo pesar que ao finalizar esta nota recebí a > notícia do falecimento do Wilton Bussab. Wilton foi um colega muito > importante para a Estatística no IME nos seus primórdios e continuou > fazendo um trabalho muito relevante para a estatística brasileira. > > > Carlos A B Dantas <caio@ime.usp.br>Citando Jose Carvalho > <carvalho@statistika.com.br>: > > > Caríssimo Adilson: > > > > Em primeiro lugar, agradeço sua atenção à minha diatribe. A intenção não foi > > captar elogios, mas o de lançar um tema à discussão. Muito bom, que V. tenha > > se manifestado contrariamente. A unanimidade é burra, repetia Nelson > > Rodrigues. A ABE, em seu conjunto, está muito, muito longe disso! E V. não > > precisa desculpar-se por discordar de mim, agora ou em tempo algum. Se V. > > concordar comigo inteiramente, eu ficarei mais seguro, por respeitá-lo. Mas > > quando V. discordar e me mostrar seu pensamento, então me estará dando a > > oportunidade de aprender. > > > > Peço desculpas por não ter sido claro e levá-lo a me entender erradamente. De > > modo algum, sou contra o trabalho em teoria. Sei muito bem que a distinção > > entre teoria e prática é vaga e cambiável. Mas meu ponto era outro. > > > > Há uma enorme confusão entre matemática e estatística. A estatística não é um > > ramo de matemática. Diferentemente de álgebra, ou geometria ou até de > > probabilidades, a estatística não se encaixa na matemática. O fato de que a > > estatística usa muita matemática não a torna um ramo da matemática. Isso já > > foi discutido várias vezes aqui. Curioso é que não se diz que teoria de > > controle - um ramo da engenharia, é matemática. Essa é uma área que > > acompanho, > > como hobby. Teoria de controle usa muita matemática - e que > > matemática! Aliás, > > com apenas a mudança de nomes, muito do que se faz em TC é o que fazemos nós, > > estatísticos. Não vejo matemáticos, sem outra formação, dando aulas de teoria > > de controle na engenharia. Mas vejo vários ensinando na estatística. > > (Note que > > não me refiro à formação básica - sou a favor de liberdade nisso. > > Matemáticos, > > engenheiros, médicos podem ser estatísticos - desde que sejam estatísticos!). > > > > A estatística tem teoria. E profunda, difícil, muitas vezes, de se > > acompanhar. > > Mas não é matemática. E trabalhar-se em problemas matemáticos, mesmo > > suscitados pela estatística, não faz de um matemático um estatístico. Um > > estatístico pode desenvolver soluções para problemas de estatística, usando > > matemática, e não será um matemático. > > > > O que o Rubin disse é isso. Problemas matemáticos, per se, não são para > > estatísticos, que tem muito o que fazer para se ocupar disso. E há muito de > > "matemática" que se faz, em estatística inclusive, que nada mais é do que WFF > > ("wófs), well formed formulae. Isto é, proposições que são feitas, desde o > > início, para serem demonstradas. Um exemplo levantado por J. Wolfowitz, é > > teorema da fatoração. Wolfowitz afirmou que o conceito de > > suficiência, inventado > > por Fisher, e o teorema da fatoração, nada ganharam com a extensão > > de Halmos e > > Savage, usando o teorema de Radon-Nikodym. Cito Wolfowitz por que ninguém > > poderá dizer que foi um matemático fraco e que falava isso por despeito. > > > > Acho que a estatística não cabe na matemática, tem corpo próprio. E até em > > atitude, temos mais a ver com engenheiros do que com ciências > > básicas, que são > > apenas nossos pilares. No passado, já dei murro em ponta de faca, ao sugerir > > que a estatística não deveria estar em faculdades ou institutos de > > matemática, > > como departamento. Para pegar um exemplo correlato, veja-se o exemplo da > > computação na UNICAMP. Quando era departamento do IMECC, na minha opinião, > > "tomava surras" da engenharia de computação, que trabalhava mais e melhor. Ao > > se separar e formar o Instituto de Computação, progrediu notavelmente. > > > > Era isso o que eu pensava, quando me animei com o texto do grande Rubin. Ele, > > um homem que tratava com rigor e cuidado o problema da causalidade em estudos > > observacionais (versus experimentais), sabia bem o que era estatística. De > > resto, apenas lancei o texto à lista, para provocar reações. O que virá daí, > > de gente mais capaz do que eu, me servirá de ensinamento. > > > > Um bom domingo e um abraço, > > > > > > Zé Carvalho > > > > On Saturday 30 April 2011 23:44:11 you wrote: > >> Caro Prof. Jose Carvalho, > >> > >> Escrevo para você por um simples motivo: Respeito muito > >> suas intervenções na lista da ABE e sei que o seu e-mail, > >> provocador, digamos assim, terá muitos elogios. > >> Nada contra. Isto deve fazer bem. > >> Mas, gostaria, data venia, de dizer que discordo de você. > >> A Teoria é a única atividade fim que nos cabe. > >> A prática é, por exemplo, descobrir como os elefantes que seguravam > >> o planeta, nos séculos anteriores ao século III, faziam para > >> se alimentar e defecar sem deixar a Terra cair. > >> Não existe a prática. O que existe é a tentativa de adequar nossa > >> interpretação ao que modelamos. > >> Um abraço, > >> PS: Na prática não terá elogios unânimes! > >> Abs > >> A.S. > > > > > |