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Re: [ABE-L]: A irresponsável meritocracia



Prof. Julio,

Nao me entenda mal. O sistema meritocratico americano eh invejavel. Estou vendo isso pessoalmente, com duas pessoas da familia (as outras duas ainda falta um tempo rsrs). A pilha de material de propaganda de colleges que minha filha mais velha vem recebendo desde marco, quando sairam as notas do PSAT, eh absurda. Dos colleges que ela almeja (os 30-40 melhores), todos mandaram material convidando-a a aplicar. Estamos no aguardo de respostas do Early, mas ela ja tem uma bolsa de $24,000 para o RIT (Rochester Institute of Technology), para qualquer curso que ela quiser, devido ao desempenho dela na high school.

Isso eh admiravel. Nao consigo imaginar o Brasil com algo semelhante, num futuro tao proximo. As bolsas que as universidades (com tuitions carissimas) dao por aqui INCLUEM comida, moradia e livros, e algumas inclusive viagens para casa para visitar a familia. Uma universidade gratuita no Brasil NAO EH equivalente a isso. Fora que nao ha restricao aa moradia de familias nos alojamentos estudantis daqui (moramos em um), e principalmente, a jornada de trabalho para quem precisa sustentar uma casa enquanto estuda eh extremamente flexivel. Isso sim eh meritocracia.

Esse sistema que eles montaram aqui (mesmo com a elite existente aqui), eh simplesmente admiravel. Ele consegue (claro que nao de maneira perfeitamente eficiente) alavancar pessoas com habilidades (intelectuais, artisticas, ate mesmo esportivas) para niveis que se essas mesmas pessoas tivessem nascido no Brasil, ou nao conseguiriam, ou seria extremamente dificil. E sinceramente, da pra melhorar, mas do jeito que esta, eh muito bom. Alias, conheco o sistema de ensino daqui inteiro por pedacos - do 5th grade ate o 12th, e alguma coisa do PhD (como mae e esposa de alunos, alem de participar de comissao de pais, etc, etc, como ja fazia no Brasil). 

Quero ver o dia que conseguiremos implementar algo similar no Brasil. Nao vejo perspectiva disso tao cedo.

Abs,
Danielle


De: Julio Stern <jmstern@hotmail.c
Para: Basilio de Bragança Pereira <basilio@hucff.ufrj.br>
Cc: Carlos Pereira <cpereira@ime.usp.br>; ABE Lista <abe-l@ime.usp.br>
Enviadas: Sábado, 12 de Novembro de 2011 19:13
Assunto: RE: [ABE-L]: A irresponsável meritocracia



Caro Basilio: 

Sei muito bem a sua historia (da qual o Carlinhos conta um pouco em e-mail paralelo na rede).   Quando falo da Real Familia (Orleans e) Braganca, estou so brincando com voces dois.  


Ademais, minha experiencia pessoal ensina que para crescer nesta vida, bencaos e maldicoes, dificuldade e facilidade, azar e sorte, tem que vir em equilibrio, na medida certa. 

Um caminho feito so de tristeza, destroi a alma; um caminho so de alegria, leva aa fraqueza. 

Uma vez escrevi com o Carlinhos um artigo sobre ciencia ambiental, onde eu nao conseguia entender porque os ratinhos obsevados em uma area contaminada apresentavam alguns indicadores melhores que os ratinhos de uma reserva ecologica. 

O Carlinhos matou a charada na hora: 
Eh o -efeito nordestino- ele disse: Os que sobrevivem, sao fortes!    


Cara Danielle: 

O melhor amigo do preconceito e a memoria curta e seletiva.  
A velha aristocracia do Mayflower, virou aristocracia 150 anos depois de chegar ao novo mundo. 
Na velha Inglaterra, o pessoal do Mayflower era apenas um bando de Puritanos e Protestantes desprezados pela velha aristocracia Anglicana de sangue azul. 

Mas a vida eh assim mesmo, Os caes ladram e a caravana passa... 

---Julio 

Referencias
A.M.S.Bueno, C.A.B.Pereira, M.N.Rabelo-Gay, J.M.Stern (2002). Environmental Genotoxicity Evaluation: Bayesian Approach for a Mixture Statistical Model. SERRA - Stochastic Environmental Research and Risk Assessment, 16, 267-278.
   


________________________________
> Date: Sat, 12 Nov 2011 09:32:43 -0200
> From: basilio@hucff.ufrj.br
> To: jmstern@hotmail.com
> CC: cpereira@ime.usp.br; abe-l@ime.usp.br
> Subject: Re: [ABE-L]: A irresponsável meritocracia

> Caro Julio

> Com todo respeito de um Cristao Novo , Pereira,  discordo de voce por 
> ter sentido na pele a discriminaçao no meu proprio trabalho por nao ser 
> da boa e velha familia. A meritocracia me fez ultrapassar aqueles que 
> discriminavam.
> O que me desagrada é que existe uma falsa meritocracia , que nao ve 
> exatamente a boa formaçao academica e somente os resultados que na rede 
> da ABE se acordou chamar de "produtivistas"
> No caso da estatistica isso pouco ocorre pois a maioria das nosssas 
> posgraduaçoes primam por uma boa formaçao mas em outras areas vejo 
> muito idiota passando por genio e formando mal os adeptos ( para nao 
> desfazer da palavra discipulo neste contexto)
> O nosos amigo Jorge de Souza escreveu um texto muito bom sobre o 
> assunto criticando o ensino desde o primeiro grau ate o hoje 
> desvirtuado Pos Doutoramento que falsamente se convencionou considerar 
> um grau academico!!!!!
> Vou tentar conseguir o texto e enviar a rede.
> Abraço
> Basilio

> Em 12 de novembro de 2011 08:10, Julio Stern 
> <jmstern@hotmail.com<mailto:jmstern@hotmail.com>> escreveu:


> Basilio:

> A distincao que voce faz eh importante.

> - Boa tecnica eh uma condicao necessaria mas nem de longe suficiente 
> para boa ciencia. (Idem para economia, e mais ainda filosofia)
> O problema que o artigo sugere que se suplemente esta primeira 
> distincao com uma segunda distincao, baseada em uma qualificacao que 
> nao eh ad-res, mas ad-homine:

> - Aristocratas de boa e velha familia  vs. intelectuais selecionados 
> por mecanismos que permitem alta mobilidade social.

> Considero ambas as distincoes elitistas mas, do meu ponto de vista 
> pessoal, a primeira eh altamente positiva e progressiva, enquanto a 
> segunda eh altamente negativa e retrograda.

> Sei que voce, Basilio, eh um representante da augusta e nobre familia 
> de-Braganca. Acho que tudo que seu maninho esta dizendo eh que pobres 
> plebeus como eu  tambem podem chegar a merecer seu lugar ao sol...  :-)

> Um abraco, ---Julio


> ________________________________
>  > Date: Fri, 11 Nov 2011 20:49:54 -0200
>  > From: basilio@hucff.ufrj.br<mailto:basilio@hucff.ufrj.br>
>  > To: cpereira@ime.usp.br<mailto:cpereira@ime.usp.br>
>  > CC: abe-l@ime.usp.br<mailto:abe-l@ime.usp.br>
>  > Subject: Re: [ABE-L]: A irresponsável meritocracia
>  >
>  > Caro irmao
>  > Voce tem razao nas duas coisas , o artigo tem preconceito e tambem
>  > (como no dialogo Frost/Nixon) vontade de derrubar.
>  > Entretanto temos que ver que  a falta de humildade indicada muitas
>  > vezes ocorre.
>  > No caso de ciencia é preciso distinguir formaçao de pesquisadores com
>  > formaçao de produtores de artigos.
>  > Na matematica e estatistica é mais dificil publicar sem ser
>  > competencia, mas em todas asareas  existem muitos ( poe muito nisso)
>  > docentes  que nao se preocupam que o aluno tenha um minimo de
>  > raciocinio e competencia,. alem é claro de humildade para reconhecer
>  > suas deficiencias.Basta que resulte em artigos de suas dissertaçoes e
>  > teses .
>  > Me lembro de um comentario na politica :  que é mais perigoso ter um
>  > politico mal intencionado e  inteligente do que um burro.
>  > Basilio
>  >
>  > Em 11 de novembro de 2011 18:49,
>  > 
> <cpereira@ime.usp.br<mailto:cpereira@ime.usp.br><mailto:cpereira@ime.usp.br<mailto:cpereira@ime.usp.br>>> 
> escreveu:
>  > Caros redistas:
>  > Lendo o estadão de ontem fiquei muito incomodado, talvez indignado, com
>  > o teor do seguinte artigo.  Será que entendi mal ou é mesmo uma
>  > reflexão preconceituosa?
>  > Vejam abaixo
>  >
>  > Carlinhos
>  >
>  > http://blogs.estadao.com.br/radar-global/12121/
>  >
>  >
>  >
>  > VISÃO GLOBAL: A irresponsável meritocracia
>  >
>  > Usando a inteligência para o próprio bem, a elite é responsável por
>  > levar-nos para o abismo nos últimos anos
>  > Por Ross Douthat ? New York Times*
>  >
>  > Esta é uma história sobre a promessa da América. Um menino cresce na
>  > zona rural de Illinois, neto de um agricultor que perdeu tudo na Grande
>  > Depressão. Ele frequenta a escola secundária da pequena cidade, depois
>  > cursa a universidade do Estado, onde é honrado com o título de membro
>  > Phi Beta Kappa (sociedade americana que congrega estudantes
>  > universitários que atingiram o mais alto nível nos estudos).
>  >
>  > Ele cumpre seu serviço militar, obtém seu MBA e depois vai trabalhar
>  > num dos bancos regionais do Meio Oeste. Numa era diferente, ele talvez
>  > permanecesse ali durante todo o restante de sua carreira. Mas o jovem
>  > teve a sorte de viver nas décadas de 60 e 70, exatamente quando a elite
>  > branca, protestante e anglo-saxã estava se dissipando e as grandes
>  > instituições da Costa Leste abriam suas portas para pessoas lutadoras
>  > de todos os lugares. Assim, nosso menino de uma fazenda de Illinois
>  > prossegue ascendendo na carreira.
>  >
>  > Ele muda para New Jersey e vai trabalhar no banco Goldman Sachs.
>  > Progride na carreira e se torna CEO da instituição e muitas vezes
>  > milionário. Entra na política, conquista um mandato no Senado e é
>  > eleito governador de New Jersey. Quando perde a disputa para sua
>  > reeleição como governador, retorna a Wall Street como diretor de uma
>  > empresa de serviços financeiros.
>  >
>  > Neste momento você pode ter percebido que estou falando de Jon Corzine.
>  > Neste caso, provavelmente sabe também que esta história inspiradora
>  > teve um final infeliz ? para New Jersey, que se deparou com um enorme
>  > desastre orçamentário quando Corzine deixou o cargo; para sua empresa
>  > de Wall Street, MF Global, que na semana passada pediu falência depois
>  > de perder US$ 600 milhões de clientes; e para o antigo menino da
>  > fazenda de Illinois, que renunciou na sexta-feira completamente
>  > desacreditado.
>  >
>  > Mas essa súbita queda não torna a história de vida de Jon Corzine menos
>  > emblemática da nossa era da meritocracia. De fato, sua ascensão,
>  > irresponsabilidade e ruína são uma coisa só. Há décadas os EUA vêm
>  > abrindo caminho no sentido de privilegiar seus jovens mais brilhantes e
>  > determinados, selecionando os melhores e mais brilhantes jovens de
>  > Illinois, Mississippi e Montana e colocando-os em funções de poder em
>  > Manhattan e Washington. Ao promover os filhos de agricultores e
>  > porteiros, como também advogados e corretores de bolsas, criamos o que
>  > parecia ser a elite mais trabalhadora e capaz, com um alto QI de toda a
>  > história da humanidade.
>  >
>  > Interesses. Mas nos últimos dez anos o que vimos foi esta mesma elite
>  > nos levar para o abismo ? principalmente por usar sua inteligência para
>  > seu próprio bem. Nas aristocracias hereditárias, as debacles costumam
>  > surgir com a estupidez e a obstinação. Nas meritocracias, contudo, é a
>  > própria inteligência de nossos líderes que cria os piores desastres.
>  > Convencidos de que suas capacidades pessoais conseguem fazer frente a
>  > qualquer tarefa ou desafio, os meritocratas assumem riscos que as
>  > elites menos brilhantes jamais contemplariam.
>  >
>  > Inevitavelmente, quanto maior o orgulho, maior o tombo. Robert McNamara
>  > e os meninos gênios da era do Vietnã achavam que conseguiram reduzir a
>  > guerra a uma ciência exata. Alan Greenspan e Robert Rubin pensavam ter
>  > feito o mesmo no tocante à economia global.
>  >
>  > Para os arquitetos da Guerra do Iraque, o Exército americano libertaria
>  > o Oriente Médio das ciladas da História; os artífices da União Europeia
>  > acreditavam que uma moeda comum faria o mesmo no caso da Europa. E para
>  > Jon Corzine sua sagacidade o capacitava a transformar uma corretora de
>  > segundo escalão numa próxima Goldman Sachs, investindo muito, apostando
>  > muito e esperando pelas recompensas.
>  >
>  > No lugar de meritocratas irresponsáveis, não precisamos de ignorantes
>  > incapazes, mas de líderes inteligentes que conhecem os próprios
>  > limites, pessoas experientes cujas vidas as ensinou o que é a
>  > prudência. Ainda necessitamos dos melhores e mais brilhantes, mas é
>  > preciso que eles, de alguma maneira, tenham aprendido ao longo da vida
>  > a ser mais humildes.
>  >
>  > *É COLUNISTA
>  > TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
>  >
>  >
>  > Carlos Alberto de Braganca Pereira
>  > 
> <cpereira@ime.usp.br<mailto:cpereira@ime.usp.br><mailto:cpereira@ime.usp.br<mailto:cpereira@ime.usp.br>>>
>  >
>  >
>  >
>  > --
>  >
>  > Basilio de Bragança Pereira ,DIC and PhD(Imperial College), DL(COPPE)
>  > *UFRJ-Federal University of Rio de Janeiro
>  > *Titular Professor of  Bioestatistics and of Applied Statistics
>  > *FM-School of Medicine and COPPE-Posgraduate School of Engineering and
>  > HUCFF-University Hospital Clementino Fraga Filho.
>  >
>  > *Tel: 55 21 2562-7045/7047/2618/2558
>  > 
> www.po.ufrj.br/basilio/<http://www.po.ufrj.br/basilio/><http://www.po.ufrj.br/basilio/>
>  >
>  > *MailAddress:
>  > COPPE/UFRJ
>  > Caixa Postal 68507
>  > CEP 21941-972 Rio de Janeiro,RJ
>  > Brazil
>  >
>  >




> -- 

> Basilio de Bragança Pereira ,DIC and PhD(Imperial College), DL(COPPE)
> *UFRJ-Federal University of Rio de Janeiro
> *Titular Professor of  Bioestatistics and of Applied Statistics
> *FM-School of Medicine and COPPE-Posgraduate School of Engineering and
> HUCFF-University Hospital Clementino Fraga Filho.

> *Tel: 55 21 2562-7045/7047/2618/2558
> www.po.ufrj.br/basilio/<http://www.po.ufrj.br/basilio/>

> *MailAddress:
> COPPE/UFRJ
> Caixa Postal 68507
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