15.3 Demonstração do Teorema de Cramér
Dividiremos a prova do Teorema de Cramér em duas partes distintas, uma dedicada à prova da cota inferior e outra dedicada à cota superior.
Prova da cota inferior
Vamos primeiro mostrar que, para qualquer tal que e qualquer , vale
Essa estimativa vale sob as hipóteses do Teorema 15.6. No entanto, vamos também supor que o supremo em (15.5) é atingido para algum . De fato, vamos supor que tal está no interior do intervalo onde é finita, donde vale (15.7). Abandonar essa hipótese requer passos técnicos e complicados que vão além dos nossos objetivos.
A principal observação é que a expressão do lado esquerdo corresponde à esperança de uma variável aleatória cuja distribuição é obtida a partir da distribuição de , distorcida por um fator da forma . Ou seja, para uma variável aleatória cuja distribuição é dada por
temos pela regra da cadeia, pois a derivada de Radon-Nikodým entre as duas distribuições é dada por
onde . Portanto, para variáveis i.i.d. distribuídas como esta versão distorcida de , a ocorrência de não é um evento raro.
A prova então consiste em controlar a razão entre as probabilidades de e ) tomarem valores em um subconjunto de que é típico para este último vetor, de forma tal que tal razão não fique menor que .
Seja . Fixe , e defina o conjunto
Então
Esta última probabilidade converge para um pela Lei dos Grandes Números, e portanto
para todo suficientemente grande. Como é arbitrário, isso prova (15.12).
Agora seja novamente. Tome tal que . Tome tal que . Por (15.12),
Como a desigualdade acima é válida para todo , temos
o que conclui a prova da cota inferior no Teorema de Cramér.
Prova da cota superior
Vejamos como a cota superior no Teorema 15.6 é uma consequência imediata do Teorema 15.3. Começamos com propriedades de monotonicidade da função taxa.
Proposição 15.13.
A função taxa é não-crescente em e não-decrescente em . Além disso, ,
Demonstração.
Tomando , temos , logo para todo . Agora, pela desigualdade de Jensen, , donde
Isso implica que . Isso também implica que, para e , assim . Analogamente, para , temos .
Para provar monotonicidade em , vejamos que, se ,
A prova da monotonicidade da função taxa em se faz de modo análogo. ∎
Demonstração da cota superior no Teorema 15.6.
Escrevemos . Se , e não há nada a provar. Podemos então assumir que , pois o caso é análogo. Seja . Pela Proposição 15.13, temos
observe que a Proposição 15.13 foi utilizada em ambas as igualdades acima, na primeira, a monotonicidade, na segunda, que o supremo é atingido em . Logo, dado , podemos tomar tal que . Agora, usando a estimativa (15.2) obtemos
Como é arbitrário, concluindo a prova. ∎