10.1 Função geradora de momentos
Definição 10.1.
Seja uma variável aleatória. Define-se a função geradora de momentos de como a função dada por
Pelo Teorema 5.36, podemos calcular a função geradora de momentos por
se é discreta. Pelo Teorema 5.39,
se é absolutamente contínua com densidade .
Exemplo 10.2 (Bernoulli).
Se , então
Exemplo 10.3 (Geométrica).
Se , então
Exemplo 10.4 (Poisson).
Se , então
Proposição 10.5.
Se e são independentes, então
para todo .
Demonstração.
Como e são independentes, e também o são, pela Observação 4.13. Logo, podemos escrever
Exemplo 10.6 (Binomial).
Se , então é distribuída como a soma de variáveis independentes com distribuição . Portanto,
A proposição abaixo explica o porquê do nome função geradora de momentos.
Proposição 10.7.
Se é finita em algum intervalo , então os momentos de podem ser obtidos através das derivadas de por
Demonstração.
Para lembrar da fórmula, fazemos informalmente
No caso de ser uma variável aleatória simples, essa é a demonstração, pois a esperança é uma soma finita e podemos derivar dentro da soma. No caso geral, há que se justificar passagem da derivada para dentro da esperança.
Para continuar a demonstração, o leitor tem que ter passado pela Seção 5.3, pois vamos usar o Teorema 5.49.
Vamos mostrar, por indução em , que a fórmula acima vale para todo . Para , a identidade vale trivialmente. Suponhamos a identidade acima válida para algum . Queremos mostrar que
para todo . Sejam e tais que . Definimos , de forma que . Observe que, para ,
onde depende de , e . Como o último termo das desigualdades acima é integrável, pelo Teorema 5.49 temos (10.8) para todo . Como é arbitrário, o mesmo vale para todo , o que conclui a prova. ∎
Nos exemplos abaixo, ilustramos como calcular e para algumas distribuições cujas funções geradoras de momento já nos são conhecidas.
Exemplo 10.9 (Geométrica).
Se , então
Exemplo 10.10 (Poisson).
Se , então
O teorema abaixo nos diz que a função geradora de momentos determina a distribuição de modo único. A demonstração envolve aspectos técnicos acima dos nossos objetivos, e de fato é difícil encontrá-la em livros-texto (veja a Seção 30 de [BIL95]).
Teorema 10.11 (Unicidade).
Dadas e variáveis aleatórias, se existe tal que para todo , então .
Exemplo 10.12 (Soma de variáveis Poisson independentes).
Se e são independentes, então
onde . Portanto, . ∎
Concluímos esta seção com uma generalização da Proposição 10.7 para o caso , que considera apenas a derivada lateral.
Proposição 10.13.
Se é finita em algum intervalo , então a esperança de pode ser obtida como derivada lateral
Demonstração.
A prova exige familiaridade com as Seções 5.3 e 5.4. Sem perda de generalidade, podemos supor que . Seja uma sequência de números reais estritamente crescente, tal que e . Temos que mostrar que
Por clareza, vamos considerar primeiro dois casos particulares. Suponhamos inicialmente que q.c. Observe que, se , então a sequência é não-decrescente, como consequência do fato de que função que leva em é convexa. Pelo Teorema da Convergência Monótona, obtemos o limite desejado, provando a proposição no caso não-negativo, incluindo o caso em que .
Suponhamos agora que q.c. Observamos que, se , então a sequência acima é não-crescente, também por convexidade. Assim, os termos da sequência são dominados pelo primeiro termo, , que é integrável por hipótese. Pelo Teorema da Convergência Dominada, obtemos o limite desejado também neste caso.
Finalmente, consideramos o caso geral. Aplicando os casos anteriores às esperanças condicionais, obtemos
e
Usando novamente a hipótese, temos que
logo podemos combinar os limites acima e obter
onde também usamos a Proposição 5.55, concluindo esta prova. ∎