5.3 Aproximação e convergência da esperança
Em inúmeras situações estaremos interessados no limite de para uma sequência de variáveis aleatórias. Mais precisamente, gostaríamos de poder comutar a esperança com um limite em , e por isso queremos estabelecer condições sob as quais . Vale lembrar que derivadas e integrais também são limites.
Para ler o livro em um nível mais básico, esta seção pode ser omitida. Para a leitura em um nível intermediário, as ferramentas desta seção serão usadas principalmente nas Seções 7.4, 8.3 e 10.3. A leitura em nível mais avançado requer o conteúdo da Seção 5.5, que inclui essas ferramentas.
5.3.1 Teorema da Convergência Monótona
Começamos pelo Teorema da Convergência Monótona, que tem menos pré-requisitos técnicos, e o usaremos para demonstrar várias propriedades da esperança enunciadas na seção anterior, usando aproximação por variáveis aleatórias simples e separando as partes positiva e negativa. Este teorema também será usado na Seção 8.3.
Teorema 5.44 (Teorema da Convergência Monótona).
Sejam e variáveis aleatórias não-negativas, tais que, para todo , é não-decrescente e converge para . Então quando .
Demonstração.
Como , temos que existe e , restando mostrar a desigualdade oposta. Seja qualquer, e tome tal que . Seja . Escrevemos
pois . De forma análoga,
Combinando as desigualdades acima, . Como isso vale para todo , segue que . Como isso vale para todo , segue que , concluindo a prova. ∎
Uma primeira aplicação deste teorema é a fórmula para esperança de funções de variáveis aleatórias discretas.
Demonstração do Teorema 5.36.
Para provar a propriedade de linearidade do Teorema 5.30, usaremos linearidade para variáveis aleatórias simples combinada com o fato de que sempre é possível aproximar variáveis não-negativas por variáveis simples.
Proposição 5.45.
Existe uma sequência de funções não-decrescentes , cada uma das quais assumindo finitos valores, e tais que para todo .
Demonstração.
Observe que cada assume finitos valores. Ademais, dado , temos que para todo , e para temos também . Portanto, esta sequência de funções satisfaz às propriedades enunciadas. ∎
Demonstração do Teorema 5.30.
Já provamos unitariedade e monotonicidade. Para a linearidade, primeiro observamos que da definição de esperança segue que , restando apenas mostrar que .
Suponha inicialmente que e sejam não-negativas. Seja a sequência de funções monótonas dadas pela Proposição 5.45. Usando o Teorema 5.9 e o Teorema da Convergência Monótona três vezes,
Finalmente, sejam e duas variáveis aleatórias quaisquer. Expandindo,
donde
Como todas as variáveis aleatórias acima são não-negativas, pelo caso anterior temos
Como estamos supondo que está definida, temos ou . Suponhamos que valha o primeiro caso (se for o segundo, o argumento será análogo). Como é integrável, e . Assim, podemos subtrair esses três termos, obtendo
o que conclui a prova da linearidade. ∎
5.3.2 Teorema da Convergência Dominada
Veremos agora o Teorema da Convergência Dominada, cuja demonstração exige ferramentas um pouco mais avançadas. Isto nos permitirá, por exemplo, dar condições para tomar derivadas dentro da esperança, o que será usado nas Seções 10.1 e 10.2.
Teorema 5.47 (Teorema da Convergência Dominada).
Sejam e variáveis aleatórias. Se e para todo , com integrável, então quando .
Demonstração.
A prova usa o seguinte fato. Dada uma sequência de variáveis aleatórias não-negativas tais que é finito para todo , vale
Com efeito, tomando e definindo , obtemos . Pelo Teorema da Convergência Monótona, Como , temos , provando a desigualdade acima.
Passemos à prova do teorema. Sem perda de generalidade, podemos supor que e para todo (exercício!). Como , temos , e portanto podemos aplicar (5.48), obtendo
Como é integrável, vale , e
Aplicando o mesmo argumento com no lugar de , obtemos a desigualdade oposta ∎
Uma das aplicações desse teorema é quando estamos considerando uma grandeza expressa em termos de uma variável aleatória e um parâmetro real. Sob certas condições, podemos derivar dentro da esperança.
Teorema 5.49.
Seja contínua, com também contínua, e seja uma variável aleatória. Suponha que é integrável para todo , e que existe uma variável aleatória integrável tal que
Então é diferenciável em e
Em e , as derivadas acima são derivadas laterais. O mesmo vale se consideramos o intervalo aberto .
Demonstração.
Pelo Teorema do Valor Médio, para todos e todos tais que ,
onde está entre e . Portanto,
Tomando uma sequência qualquer, podemos usar o Teorema da Convergência Dominada, obtendo
O termo da esquerda é igual a e o termo da direita é . Caso ou , tomamos . Isso conclui a prova. ∎