Uma variável aleatória é dita simples se assume apenas finitos valores.
Definição 5.1.
Dada uma variável aleatória simples , definimos a esperança de , ou média de , denotada por , por
Note que na soma acima há apenas finitos termos não-nulos.888
Sempre que aparecer “”, a soma é realizada sobre todos os valores de para os quais o termo da soma é não-nulo.
A esperança de pode ser pensada como o “centro de massa” da variável aleatória , como ilustrado na Figura 5.1.
Figura 5.1: A esperança de como o centro de massa de .
Outra interpretação de é dada pelo valor médio após muitas realizações de um mesmo experimento.
Sejam os possíveis valores recebidos em uma rodada de um jogo e o resultado efetivamente ganho após a rodada.
Suponhamos também que jogaremos esse jogo vezes, e denotamos o resultado de cada jogada por , independentes e com a mesma distribuição de .
A noção intuitiva de probabilidade como frequência relativa diz que a proporção dentre essas repetições em que o resultado é se aproxima de para grande, ou seja,
Dessa forma, para o ganho total dividido pelo número de jogadas,
obtemos
Vejamos alguns exemplos simples.
Exemplo 5.2.
Ao lançar um dado, seja o valor observado em sua face superior.
Neste caso,
Exemplo 5.3.
Lançamos uma moeda vezes, seja a variável aleatória que conta quantas vezes saem cara.
Neste caso,
Exemplo 5.4.
Seja dada por para algum .
Neste caso,
.
Ou seja,
Reciprocamente, se então podemos considerar o evento dado por , de forma que e .
∎
Exemplo 5.5.
Ao lançar um dado duas vezes, seja a soma dos valores observados.
Neste caso,
Exemplo 5.6.
Retiramos cartas de um baralho comum, seja o número de reis retirados.
Neste caso,
Exemplo 5.7.
Se , então
Exemplo 5.8.
Seja a variável que denota o produto dos valores observados ao lançarmos um dado duas vezes.
Uma propriedade fundamental da esperança é a seguinte.
Teorema 5.9(Linearidade).
Sejam e variáveis aleatórias simples e .
Então .
Antes da demonstração, vejamos alguns exemplos do uso da linearidade.
Exemplo 5.10.
No Exemplo 5.3, podemos escrever , onde denota a função indicadora de que saiu cara no -ésimo lançamento.
Logo, .
∎
Exemplo 5.11.
No Exemplo 5.5, observamos que , onde e representam os valores observados no primeiro e no segundo lançamentos do dado.
Logo,
Exemplo 5.12.
No Exemplo 5.6, observamos que , onde é a indicadora de que a -ésima carta retirada é rei.
Ao contrário dos exemplos anteriores, aqui , e não são independentes.
Ainda assim, cada uma individualmente satisfaz , e podemos calcular
Exemplo 5.13.
No Exemplo 5.7, observamos que tem a mesma distribuição de , com i.i.d. , e portanto
Nos exemplos anteriores, é mais curto calcular a esperança usando linearidade do que usando a distribuição de diretamente. Existem muitos outros casos em que descrever a distribuição de é muito difícil ou até mesmo impossível, mas ainda assim é possível calcular a esperança usando linearidade.
Exemplo 5.14.
Uma gaveta contém pares de meias, todos diferentes. Abre-se a gaveta no escuro e retiram-se meias. Qual é a esperança do número de pares formados pelas meias retiradas?
Se numeramos as meias retiradas, e contamos a quantidade de meias cujo par também foi retirado, estaremos contando cada par duas vezes, portanto .
A probabilidade de que o par da primeira meia retirada também seja retirado é . Somando sobre as meias, obtemos , e portanto .
∎
Uma prova curta do Teorema 5.9 utiliza a seguinte propriedade.
Teorema 5.15.
Sejam e variáveis aleatórias simples.
Então,
para qualquer função .
Em particular,
para qualquer função .
Demonstração.
Particionando segundo os valores de e ,
A segunda parte é um caso particular tomando-se constante.
∎