Capítulo 8 Lei dos Grandes Números
Um dos principais tópicos da Teoria da Probabilidade é o estudo da chamada Lei dos Grandes Números. Ela diz que a soma de muitas variáveis aleatórias independentes (ou não-correlacionadas, etc.) tende a estar próxima da sua esperança. Mais precisamente, a média observada , que é aleatória, se aproxima da média teórica , que é determinística.
Sua manifestação mais simples é na frequência relativa. Imagine que realizamos o mesmo experimento muitas vezes, sob as mesmas condições, e contamos quantos desses experimentos resultaram em sucesso e quantos resultaram em fracasso. Tomando para indicar sucesso na -ésima tentativa em para indicar fracasso, a frequência relativa observada é dada justamente por . Enquanto escreviam este preâmbulo, os autores simularam o lançamento de uma moeda honesta um milhão de vezes, e obtiveram coroa 499.947 vezes. Repetindo o mesmo procedimento, obtiveram coroa 499.508 vezes, depois 500.318 vezes, e depois 500.512 vezes. Como previsto pela Lei dos Grandes Números, a frequência relativa ficou sempre muito próxima da probabilidade de se obter coroa em cada lançamento, que é exatamente . Intuitivamente, tendemos a associar probabilidade de sucesso a frequência relativa de sucessos, e essa associação já está quase naturalizada no nosso pensamento. Entretanto, no estudo da Teoria da Probabilidade como uma teoria axiomática, isso será um teorema e não uma definição. Se, por um lado, não definimos a probabilidade de se obter coroa no lançamento da moeda como sendo dada pela frequência relativa, por outro lado, é reconfortante que a teoria seja capaz de autojustificar-se ao estabelecer que tal frequência relativa deve se aproximar do valor teórico quando o número de realizações do experimento aumenta.
De forma mais geral, o resultado relevante de cada experimento não precisa ser ou para representar fracasso ou sucesso, de fato pode ser qualquer variável aleatória. Antes de escrever este parágrafo, os autores lançaram um dado dez vezes, e a soma dos valores obtidos foi de 38. Repetindo o mesmo procedimento, obtiveram 33, 28, 37 e por último 43. Não pareceu que esta soma estivesse muito bem concentrada próxima de algum valor determinístico. Entretanto, os autores depois simularam dez mil lançamentos do dado, e a soma dos resultados foi 35.082. Repetindo o mesmo procedimento, obtiveram como soma 34.769, depois 35.419, e depois 34.691. Como previsto pela Lei dos Grandes Números, quando o número de lançamentos foi grande, a média observada se aproximou da média teórica, dada por .
Nas seções seguintes, vamos provar que vale a Lei dos Grandes Números sob diferentes hipóteses, com demonstrações que vão aumentando em nível de complexidade. Ademais, como visto no capítulo anterior, a noção de “aproximar-se” pode ter mais de um significado quando falamos de quantidades aleatórias, o que se traduz em distintas formulações da Lei dos Grandes Números. Estudaremos hipóteses sob as quais essa aproximação se dará em diferentes sentidos. Finalizamos com algumas aplicações na última seção.