8.3 Leis Fortes de Kolmogorov
Nesta seção provaremos outras duas versões de Leis Forte dos Grandes Números com hipóteses mais generosas que aquelas dos Teoremas 8.5 e 8.6.
A Primeira Lei Forte de Kolmogorov, provada em 1930, permite que as variáveis não tenham a mesma distribuição, mas tem uma condição sobre as variâncias. A chamada Lei Forte de Kolmogorov, provada em 1933, estabelece que a hipótese de integrabilidade é suficiente no caso de variáveis i.i.d., e é baseada na Primeira Lei Forte combinada com o método de truncamento.
A prova que daremos para a Primeira Lei Forte de Kolmogorov usa a elegante ideia, introduzida por Etemadi em 1981, de considerar variáveis não-negativas e estudar uma subsequência que cresce exponencialmente rápido porém com expoente pequeno. Com essa ideia precisamos apenas que as variáveis sejam independentes duas a duas, mas temos que supor uma condição sobre o primeiro momento que não era usada na demonstração original. Isso também permite provar a Lei Forte de Kolmogorov supondo apenas que as variáveis sejam independentes duas a duas.
Teorema 8.8 (Primeira Lei Forte dos Grandes Números).
Sejam variáveis independentes duas a duas. Suponha que e . Então
Demonstração.
Utilizando a decomposição , podemos supor, sem perda de generalidade, que é não-negativa para todo . Denotamos as somas por . Mostraremos primeiro que
para uma família especial de subsequências . Seja . Defina . Note que (pois para todo ) e . Para cada , escrevemos .
Estimando a partir da Desigualdade de Tchebyshev, obtemos
onde na primeira igualdade usamos a hipótese de que as variáveis são independentes duas a duas. Pelos Lema de Borel-Cantelli e Proposição 7.16,
Para concluir a prova, falta preencher as lacunas, controlando a diferença
para todo grande e não apenas na subsequência . É aqui que usamos a hipótese de que as variáveis são não-negativas. Para cada , tomamos , de forma que . Usando o fato de que e são não-decrescentes e , vamos trabalhar a expressão acima para reduzir o problema a (8.9). Para isso, primeiro majoramos, depois alinhamos os índices do numerador, e finalmente os do denominador:
Usando (8.9), vemos que q.c. Como isso vale para todo , q.c. De forma análoga, mostramos que q.c., o que conclui a prova. ∎
Lema 8.10.
Seja uma sequência de variáveis aleatórias identicamente distribuídas e integráveis. Para cada , defina . Então .
Demonstração.
Escrevendo por simplicidade,
onde usamos o Teorema da Convergência Monótona para comutar soma e esperança, além da estimativa para . ∎
Teorema 8.11 (Segunda Lei Forte dos Grandes Números).
Seja sequência de variáveis aleatórias, independentes duas a duas, identicamente distribuídas e integráveis. Então
Demonstração.
Seja para cada . Combinando o Lema 8.10 com a Primeira Lei Forte dos Grandes Números, obtemos
Por outro lado, do Teorema da Convergência Dominada,
e, por conseguinte,
Combinando estes limites, obtemos
Finalmente, escrevemos , onde . Veja que
pela Proposição 5.35. Pelo Lema de Borel-Cantelli, , logo e portanto
concluindo a prova. ∎