Momentos e variância
Sejam e variáveis aleatórias com distribuições uniformes em e , respectivamente.
Está claro que tem uma dispersão de seus valores em torno de sua média menor que a de .
Um dos objetivos desta seção é quantificar o quanto uma variável aleatória se espalha em torno de determinado valor e, em particular, o quanto ela se espalha em torno de sua média.
.
Dada uma variável aleatória e , definimos o -ésimo momento de como , caso seja integrável.
Neste caso, dizemos que tem -ésimo momento finito, e definimos o -ésimo momento central de como .
Observamos que, se tem -ésimo momento finito, então tem -ésimo momento finito para (pois ) e, em particular, o -ésimo momento central está bem definido.
.
Se , então
e o segundo momento central é dado por
Como veremos a seguir, o segundo momento central é um excelente quantificador da dispersão de variável aleatória em torno de sua média, com propriedades muito especiais.
(Variância).
Seja uma variável aleatória integrável.
Define-se a variância da variável aleatória , denotada por , como
.
Se , então e , como calculado no Exemplo 6.2.
∎
(Propriedades da variância).
Seja uma variável aleatória com segundo momento finito.
Então:
-
(1)
.
Em particular, .
-
(2)
.
Além disso, se, e somente se, q.c.
-
(3)
.
Demonstração.
Para o item (1), basta expandir .
Para o item (2), pois .
Pelo item (4) da Proposição 5.31, implica que quase certamente; a recíproca é imediata.
Para provar o item (3), expandimos
.
∎
.
Se , então
Observe que a variância é máxima no caso simétrico .
.
Seja .
Sabemos que com (Exercício 3.28) e que (Exemplo 5.41).
Usando proposição acima, obtemos .
∎
.
Se então , onde é uma uniforme no intervalo , cuja variância foi calculada no Exemplo 6.4. Logo, segue do item (3) da proposição anterior que .
∎
Podemos observar que é uma medida da dispersão de em torno de sua média, mas que dimensionalmente não é expressa nas mesmas unidades de .
Por exemplo, se for medida em então é medida em .
Para que tenhamos uma medida de dispersão na mesma escala da variável aleatória , somos motivados a introduzir a próxima definição.
(Desvio-padrão).
O desvio-padrão da variável aleatória é dado pela raiz quadrada da variância
.
Se , então
.
Se , do Exemplo 6.7, segue que .
∎
Gostaríamos de estudar a variância da soma de duas ou mais variáveis aleatórias e, se possível, relacioná-la com a variância das variáveis envolvidas.
Expandindo a fórmula da variância, obtemos
|
|
|
|
Ou seja, a variância de é igual à soma das variâncias de e de , mais um termo cruzado que envolve ambas as variáveis.
Isto nos motiva a introduzir o seguinte conceito.
(Covariância).
Dadas duas variáveis aleatórias e com segundo momento finito, definimos a covariância de e como
A expressão acima está definida e é finita, pois .
Observe que , (a covariância é simétrica), e
Se , dizemos que e são não-correlacionadas, e isso vale se, e somente se, .
Se as variáveis aleatórias e são independentes e têm segundo momento finito então e são não-correlacionadas e .
Entretanto, nem sempre vale a recíproca, pois não implica e independentes.
.
Sejam e variáveis aleatórias tomando valores com
distribuição conjunta dada por
.
Então ,
mas e não são independentes.
∎
Outras propriedades importantes da covariância são dadas na proposição abaixo.
(Propriedades da Covariância).
Sejam e variáveis aleatórias com segundo momento finito e e números reais.
Então:
-
(1)
para todo ;
-
(2)
-
(3)
Demonstração.
Expandindo , mostramos o item (1).
O item (2) segue da expansão
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Para provar o item (3), expandimos
|
|
|
|
|
|
|
|
e observamos que todo par de e distintos aparece duas vezes na última soma acima.
∎
Pelo último item acima, se as variáveis aleatórias são não-correlacionadas, então a variância da soma é a soma das variâncias.