14.4 Rotação do círculo
Rotação racional do círculo não é ergódica
Seja com e . Considerando o evento
podemos ver que é -invariante e , logo não é ergódica.
Rotação irracional do círculo é ergódica
Vamos supor daqui em diante que é irracional.
Provaremos inicialmente que é ergódica usando séries de Fourier. Uma prova auto-contida porém mais tediosa será dada mais abaixo.
Seja uma função mensurável limitada, periódica de período e -invariante. Da Análise de Fourier, sabemos que existe a única sequência tal que em quando , onde
Substituindo por na equação acima,
Por outro lado, como em e preserva medida, segue que em . E como , temos que em .
Assim, pela unicidade da sequência , concluímos que
Entretanto, como é irracional, , logo , para todo . Portanto para quase todo ponto . Logo, é constante q.t.p. Pela Proposição 14.19, é ergódica.
Rotação irracional do círculo não é misturadora
Vejamos agora que não é misturadora.
Observamos inicialmente que, para todos e intervalo aberto não-vazio, para infinitos valores de , isto é, a órbita de é densa em . A demonstração fica como exercício.
Agora tome . Como consequência do fato de que as órbitas são densas, temos para infinitos valores de , mas , logo não pode ser misturadora.
Rotação irracional do círculo é ergódica. Demostração alternativa
Faremos aqui uma prova alternativa de que é ergódica. Ela será mais longa. Todavia, não será necessário o uso de Análise de Fourier.
Seja . Faremos uma sucessão de aproximações para concluir que
donde segue que q.t.p. e, portanto, ou .
Seja . Mostraremos primeiro que existe e uma função periódica de período tal que
e tal que
para todos tais que .
Com efeito, Pelo Teorema 13.5 (aproximação por álgebras), existe um boreliano da forma e tal que . Agora defina para e para tal que para algum . Definimos nos intervalos restantes interpolando linearmente. Isso define em , depois definimos para todo de forma periódica. Como , vale (14.36). Ademais, tomando , também vale (14.37).
Agora, usando (14.36), mostraremos que
Com efeito,
onde a igualdade vale porque preserva medida e é -invariante.
Finalmente, mostraremos que,
onde . Para isso, vamos mostrar que, para todo ,
Seja . Como as órbitas de são densas em , existe tal que . Daí decorre que para todo . Combinando essa desigualdade com (14.38), obtemos (14.40). Invertendo as integrais, obtemos
onde usamos o Teorema de Tonelli para inverter as integrais, provando (14.39).