13.1 Álgebras e espaços de sequências
Começamos pelo espaço de sequências infinitas. Denotamos o conjunto de todas as sequências de números reais por
Dizemos que um conjunto é um conjunto cilíndrico se
para algum e .
Definição 13.1 (Conjuntos borelianos em ).
Definimos a -álgebra de Borel em , denotada por , como a -álgebra gerada pela classe dos conjuntos cilíndricos.
Observe que a projeção de em que leva em sua -ésima coordenada é uma função mensurável em , pois é um conjunto cilíndrico para todo .
Definição 13.2.
Dado um espaço amostral e uma família de funções de em , dizemos que é cilíndrico com respeito a se existem , e tais que . Definimos como a -álgebra gerada pelos conjuntos cilíndricos com respeito a . A -álgebra é a menor -álgebra em para a qual todas as são mensuráveis.
Em geral, a classe dos conjuntos cilíndricos não forma uma -álgebra. Por isso, consideramos uma estrutura mais simples.
Definição 13.3 (Álgebra).
Uma classe de subconjuntos de é chamada uma álgebra em se
-
(1)
,
-
(2)
para todo ,
-
(3)
para todos .
É muito útil poder trabalhar com álgebras por pelo menos dois motivos: os elementos de uma álgebra costumam ser muito mais simples de descrever e estudar, e algumas classes importantes de conjuntos são álgebras mas não são -álgebras. Por exemplo, a classe dos conjuntos cilíndricos com respeito a é uma álgebra mas não é uma -álgebra, assim como a classe dos conjuntos cilíndricos de .
Mas o que significa poder trabalhar com álgebras? Significa que conjuntos de uma -álgebra podem ser aproximados, em um sentido bastante forte, por conjuntos de uma álgebra, como veremos a seguir.
Definição 13.4 (Diferença simétrica).
Dados dois conjuntos e , a sua diferença simétrica é definida como .
Observe que a diferença simétrica satisfaz um análogo da desigualdade triangular: , e também satisfaz e (verifique essas três propriedades!).
Teorema 13.5 (Aproximação por álgebras).
Sejam um espaço de probabilidade e uma álgebra. Então, dados quaisquer e , existe tal que
Demonstração.
Seja a classe dos conjuntos que satisfazem à afirmação do teorema: Observe que , pois . Logo, basta mostrar que é uma -álgebra. É imediato que , pois . Se , então dado , existe tal que ; como e , segue que . Para concluir que é uma -álgebra, falta mostrar que é fechado por uniões enumeráveis. Sejam e . Defina e tome tal que . Tome tais que , para todo . Observando que
por subaditividade obtemos
Portanto, , o que completa a prova de que é uma -álgebra. ∎
O uso mais frequente do teorema acima é quando queremos aproximar um boreliano de por conjuntos cilíndricos.