Convergência de séries aleatórias
Seja uma sequência de variáveis aleatórias independentes.
Conforme vimos na seção anterior o evento é caudal, logo pela Lei 0-1 de Kolmogorov, sua probabilidade é zero ou um.
Isto é, converge quase certamente ou diverge quase certamente. Nesta seção estudaremos critérios que nos permitem determinar qual dois casos acima ocorre quase certamente.
.
Seja uma sequência de variáveis aleatórias independentes, com distribuição
para todo .
Pelo Lema de Borel-Cantelli, e portanto converge quase certamente.
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No exemplo acima, foi relativamente fácil concluir que a série converge quase certamente.
Suponha agora que é i.i.d. com distribuição e considere a série harmônica com sinal aleatório .
Esta série converge ou diverge quase certamente?
Não podemos proceder como no exemplo acima, e precisamos de critérios mais efetivos.
Inicialmente, estabeleçamos um critério para a convergência quase certa de uma sequência de variáveis aleatórias.
.
Uma sequência de variáveis aleatórias converge quase certamente se, e somente se, , para todo .
Demonstração.
Observamos que uma sequência de números reais converge se, e somente se,
.
Logo, converge q.c. se, e somente se,
Seja .
Como é uma sequência monótona, segue das Proposições 7.25 e 7.32 que se, e somente se, .
Mas como
concluímos que se, e somente se,
o que prova o lema.
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A seguir provaremos dois lemas. O primeiro é uma interessante desigualdade envolvendo o segundo momento da soma de variáveis aleatórias, pois vai na direção oposta à de Tchebyshev; enquanto o segundo lema é uma versão mais forte da Desigualdade de Tchebyshev e é interessante por si só.
.
Sejam e uma sequência de variáveis aleatórias independentes tais que e para todo .
Então, para todo , vale
onde .
Demonstração.
Pela Desigualdade de Paley-Zygmund,
Para estimar o quociente, expandimos como na demonstração do Teorema 8.5 e majoramos
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o que conclui a prova.
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(Desigualdade Maximal de Kolmogorov).
Sejam variáveis aleatórias independentes com média zero e segundo momento finito.
Defina .
Então, para todo ,
Demonstração.
Defina
Observe que
.
Expandindo ,
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onde utilizamos que tem média zero e é independente de .
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O lema acima também segue diretamente da Desigualdade de Doob-Kolmogorov, provada no Capítulo 12.
(Teorema de Uma Série).
Seja uma sequência de variáveis aleatórias independentes com para todo . Então
-
(a)
Se , então
.
-
(b)
Se
e
existe tal que para todo ,
então .
Demonstração.
Queremos estudar a convergência de .
Começamos pelo item (a).
Pela Desigualdade Maximal de Kolmogorov,
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para todo .
Pelo Lema 13.24, converge quase certamente.
Passamos ao item (b).
Suponha que
e que
existe tal que q.c. para todo .
Pelos Lema de Fatou e Lema 13.25,
donde concluímos que .
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(-série aleatória).
Seja uma sequência de variáveis aleatórias i.i.d. com distribuição para todo . Considere a -série aleatória com .
Como
e para todo , segue do Teorema de Uma Série que converge quase certamente se, e somente se,
Portanto, converge quase certamente se e diverge quase certamente se . Em particular, a série harmônica com sinal aleatório, mencionada no início desta seção, converge quase certamente.
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O próximo teorema é um refinamento do anterior, que retira a hipótese de .
Em troca, teremos que verificar a convergência de duas séries de números reais ao invés de uma.
(Teorema das Duas Séries).
Seja uma sequência de variáveis aleatórias independentes. Valem as seguintes proposições:
-
(a)
Se e convergem,
então .
-
(b)
Se
e existe tal que para todo ,
então
e convergem.
Demonstração.
Começamos pelo item (a).
Como converge, pelo
Teorema de Uma Série, converge q.c.
Por hipótese, também converge, logo converge q.c.
Passamos ao item (b).
Seja uma sequência de variáveis aleatórias independentes entre si e independentes de , tais que para todo (para construir tal sequência é suficiente tomar o produto de consigo mesmo).
Se converge q.c., então converge q.c. e consequentemente, também converge quase certamente.
Por hipótese, para todo , logo .
Como , pelo item (b) do Teorema de Uma Série, converge.
Por outro lado, como e são independentes,
Logo, converge e, utilizando o item (a) do Teorema de Uma Série, converge q.c.
Como converge q.c., concluímos que converge.
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O próximo teorema nos fornece uma condição equivalente à convergência quase certa de uma série de variáveis independentes.
Em compensação, ganhamos uma terceira série de números reais para analisar.
Dada uma variável aleatória e , definimos a variável truncada
(Teorema das Três Séries).
Sejam uma sequência de variáveis aleatórias independentes e a sequência truncada em .
-
(a)
Se existe tal que as três séries
e convergem,
então .
-
(b)
Reciprocamente, se
,
então as três séries e convergem para todo .
Demonstração.
Começamos pelo item (a).
Pelo
Teorema das Duas Séries, converge q.c.
Por outro lado, pelo Lema de Borel-Cantelli,
Isto é, quase certamente, e diferem para, no máximo, finitos valores do índice .
Como converge quase certamente, segue que também converge quase certamente.
Passamos ao item (b).
Seja .
Como converge quase certamente, .
Pela Proposição 7.16, , logo converge q.c.
Logo, pelo
Teorema das Duas Séries, e convergem.
Ademais, como as variáveis são independentes, o Lema de Borel-Cantelli assegura que converge.
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