Começamos motivando a ideia da prova. Suponha que e são medidas finitas e .
Estamos à busca de uma função mensurável tal que
(D.15)
Descrever é o mesmo que descrever os subconjuntos de onde assume determinados valores.
Seja .
Por (D.15),
Observe que a relação acima não faz referência explícita a .
Para percorrer o caminho oposto, gostaríamos de ir fatiando em conjuntos da forma com essa propriedade, e usar esses conjuntos para ir construindo .
O primeiro passo seria decompor de forma que
(D.16)
Para isso, vamos estudar a função dada por
Uma carga (ou medida com sinal) em é uma função tal que e, para toda sequência de conjuntos em disjuntos, pelo menos uma das somas e é finita, e .
Dizemos que é um conjunto negativo para se para todo . O conjunto vazio é um exemplo trivial de conjunto negativo.
Demonstração.
Podemos supor que , pois caso contrário podemos tomar .
Vamos definir uma sequência decrescente e verificar que é o conjunto procurado. Definimos inicialmente . Se já foi definido, tome e note que . Seja (precisamos do mínimo para assegurar-nos de que no caso ) e tome tal que e .
Defina e .
Observando que e que esta última união é disjunta,
Falta mostrar que é negativo.
Observe que , pois caso contrário teríamos .
Portanto, quando e, por conseguinte, .
Agora seja tal que .
Como , pela definição de , temos para todo .
Portanto, , o que mostra que é um conjunto negativo.
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Demonstração.
Como preliminar, observamos que não pode assumir ambos os valores e .
Com efeito, se para algum , segue que e, analogamente, se para algum , então .
Portanto, podemos supor, sem perda de generalidade, que para todo (caso contrário bastaria considerar ao invés de e tomar no lugar de ).
Seja e note que .
Tome uma sequência de conjuntos negativos tal que , e defina .
Como a união enumerável de conjuntos negativos é negativa (exercício!), segue que é um conjunto negativo.
Afirmamos que e, em particular, .
Com efeito,
onde as desigualdades seguem da definição de e da negatividade de .
Finalmente, seja .
Como é negativo, segue que , e resta mostrar que .
Pelo Lema D.17, existe tal que , é negativo e .
Para mostrar que , observamos que, como é um conjunto negativo,
e podemos subtrair pois , completando a prova.
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Prova do Teorema de Radon-Nikodým.
Vamos supor inicialmente que e sejam medidas finitas, e posteriormente extrapolar para o caso geral.
Para cada , pelo Teorema de Decomposição de Hahn existe satisfazendo (D.16).
Definimos
,
,
,
e assim por diante.
Observe que esses conjuntos são disjuntos e .
Defina .
Observamos que formam uma partição de .
Além disso, como temos por (D.16) que e, como isso vale para todo e , temos .
Como , segue que .
Como observação à parte, sem a hipótese de , poderíamos decompor e encontrar a derivada de com respeito a .
Nossa primeira aproximação para será dada por
De (D.16), obtemos, para todo e todo ,
e
Somando sobre , temos
Vamos agora subdividir cada intervalo ao meio.
Para cada ,
definimos
e .
Novamente, a família forma uma partição de .
Definimos
Com essa definição, temos e, de forma análoga à relação anterior,
Partindo novamente os intervalos ao meio, construímos
tal que
e assim por diante obtemos
tal que
Tomando , pelo Teorema da Convergência Monótona temos (D.15) pois , o que prova o teorema no caso de e finitas.
Mostraremos agora o caso geral, ou seja, quando e são -finitas.
Neste caso, existe uma partição de tal que e são medidas finitas e . Tome , e defina . Verificar que é imediato:
Isso conclui a prova do teorema.
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