D.6 Distribuição condicional regular
Para isso, vamos construir uma função mensurável em ambas as variáveis e tal que
para todos . Começamos estudando uma função que terá determinadas propriedades em “quase todos” os pontos e , depois usar para construir , e finalmente usar para construir .
Sejam e variáveis aleatórias definidas em um mesmo espaço de probabilidade.
Lema D.19.
Para todo , existe uma função mensurável , tal que
para todo .
Demonstração.
Seja fixo. Defina
para todo . Como , pelo Teorema de Radon-Nikodým, existe uma função mensurável , tal que
Como essa integral nunca é negativa, para -quase todo . Como nunca é negativo, segue que para -quase todo . Modificando em um conjunto de medida nula, podemos supor que para todo . ∎
Para construir a partir de , usaremos o fato de que é enumerável e denso em , e que uniões enumeráveis de conjuntos de medida nula têm medida nula.
Lema D.20.
Existe uma função com as seguintes propriedades:
-
(1)
é uma função de distribuição para todo fixo,
-
(2)
é uma função mensurável para todo fixo,
-
(3)
para todos e .
Demonstração.
Para cada , seja a função dada pelo Lema D.19. Agora, para cada par de racionais , seja
Definindo , temos que , pois para todos r < q. Com efeito, para todo , donde concluímos que o integrando é não-negativo para -quase todo .
Em seguida, para cada , definimos
Observe que
logo, pelo Teorema da Convergência Dominada,
e, como o integrando do lado direito é cotado superiormente pelo integrando do lado esquerdo, eles têm que ser iguais para -quase todo , ou seja, . Novamente, tomamos e definimos agora
e, pelo mesmo argumento utilizado para , pode-se mostrar que .
Finalmente definimos, para e
Para , definimos .
Na demonstração acima, a função foi obtida através do Lema D.19, que não diz como calculá-la. Ressaltamos que a função definida por (11.57) também satisfaz a essas três propriedades, porém a demonstração desse fato exige ferramentas de Teoria da Medida que vão muito além do escopo deste livro (ver Teorema 6.66 em [GM09]).
Demonstração do Teorema 11.58.
Seja como dada pelo Lema D.20.
Preliminarmente, afirmamos que, para todo , vale
Com efeito, ambos os lados determinam medidas de probabilidade em e, pelo item (3) do Lema D.20, essas medidas coincidem na classe , que forma um -sistema e contém , cuja união é , logo, pelo Teorema 3.37 (unicidade de medidas), elas coincidem para todo .
Para cada , definimos como a medida de probabilidade em correspondente à função de distribuição . Seja a classe de conjuntos tais que é uma função mensurável de e tais que
Observe que é um -sistema (exercício!). Seja a classe dos conjuntos da forma com . Para , é uma função mensurável de pelo item (2) do Lema D.20; ademais, (D.22) se reduz a (D.21). Ou seja, . Como é um -sistema e , segue do Teorema que , o que prova o Teorema 11.58. ∎
Demonstração do Teorema 11.59.
A ideia da prova é estudar a classe das funções para as quais vale o enunciado do teorema. Consideramos inicialmente para . Seja a classe dos conjuntos para os quais a integral interna em (11.60), com no lugar de , fornece uma função mensurável de e vale a igualdade (11.60). Observe que é um -sistema (exercício!). Seja . Pela Definição 11.56, temos que, para todos
que é uma função mensurável de e cuja integral com respeito a é igual a . Ou seja, . Como é um -sistema e , segue do Teorema que . Isso prova o teorema para funções mensuráveis que apenas assumem valores e . Por linearidade, vale o teorema para funções simples não-negativas. Finalmente, seja uma função mensurável. Tome , onde as funções são simples. Pelo Teorema da Convergência Monótona, e, como limite de funções mensuráveis é mensurável, segue que a integral interna em (11.60) fornece uma função mensurável de . Como
para todo , pelo Teorema da Convergência Monótona, vale a igualdade em (11.60). Isso conclui prova do Teorema 11.59. ∎