3.6 Existência e unicidade de distribuições

Para o leitor que passou pela Seção 1.4, continuamos colecionando ferramentas que serão necessárias para estudar os capítulos mais avançados.

Aqui provamos os Teoremas 3.103.16. No caminho para a prova daquele, vamos definir π\pi-sistemas e enunciar um teorema sobre unicidade de medidas, que será utilizado em outros capítulos.

Definição 3.36 (π\pi-sistemas).

Uma classe 𝒞\mathcal{C} de conjuntos é chamado um π\pi-sistema se é fechada por interseções, isto é, AB𝒞A\cap B\in\mathcal{C} para todos A,B𝒞A,B\in\mathcal{C}.

Teorema 3.37 (Unicidade de medidas).

Sejam μ\mu e ν\nu medidas num espaço mensurável (Ω,)(\Omega,\mathcal{F}), e seja 𝒞\mathcal{C}\subseteq\mathcal{F} um π\pi-sistema. Suponha que μ(An)=ν(An)<\mu(A_{n})=\nu(A_{n})<\infty para alguma sequência AnΩA_{n}\uparrow\Omega de conjuntos em 𝒞\mathcal{C}. Se μ=ν\mu=\nu em 𝒞\mathcal{C}, então μ=ν\mu=\nu em σ(𝒞)\sigma(\mathcal{C}).

A demonstração será dada no Apêndice D.1.

Demonstração do Teorema 3.10.

Seja 𝒞={(,b]:b}\mathcal{C}=\{(-\infty,b]:b\in\mathbb{R}\} a classe de todos os intervalos fechados e semi-infinitos à esquerda. Observe que 𝒞\mathcal{C} é um π\pi-sistema e, pela Proposição 1.43, σ(𝒞)=\sigma(\mathcal{C})=\mathcal{B}. Por hipótese,

X((,b])=FX(b)=FY(b)=Y((,b]),\mathbb{P}_{X}((-\infty,b])=F_{X}(b)=F_{Y}(b)=\mathbb{P}_{Y}((-\infty,b]),

portanto X(A)=Y(A)\mathbb{P}_{X}(A)=\mathbb{P}_{Y}(A), para todo A𝒞A\in\mathcal{C}. Além disso, a sequência (An)n(A_{n})_{n} dada por An=(,n]A_{n}=(-\infty,n], satisfaz An𝒞A_{n}\in\mathcal{C} e X(An)=Y(An)<\mathbb{P}_{X}(A_{n})=\mathbb{P}_{Y}(A_{n})<\infty para todo nn\in\mathbb{N} e AnA_{n}\uparrow\mathbb{R}. Pelo Teorema 3.37, segue que X(C)=Y(C)\mathbb{P}_{X}(C)=\mathbb{P}_{Y}(C), para todo Cσ(𝒞)C\in\sigma(\mathcal{C}), o que conclui a prova. ∎

Concluímos esta breve seção com uma demonstração da existência de uma variável aleatória com distribuição 𝒰[0,1]\mathcal{U}[0,1].

Demonstração do Teorema 3.16.

Recordemos que existe uma medida mm em (,)(\mathbb{R},\mathcal{B}) tal que m((a,b])=bam((a,b])=b-a para todos a<ba<b\in\mathbb{R}, como enunciado no Teorema 1.51. Tome Ω=\Omega=\mathbb{R}, =\mathcal{F}=\mathcal{B}, =m|[0,1]\mathbb{P}=m_{|_{[0,1]}} e U(ω)=ωU(\omega)=\omega. Então FU(u)=m([0,1](,u])=uF_{U}(u)=m([0,1]\cap(-\infty,u])=u para todo u[0,1]u\in[0,1]. ∎