D.2 Teorema de Extensão de Carathéodory

Nesta seção estudaremos o Teorema de Extensão de Carathéodory e o usaremos para provar o Teorema 1.51 (existência da medida de Lebesgue).

Recordemo-nos da definição de álgebra vista na Seção 13.1. Dado um espaço amostral Ω\Omega e uma álgebra 𝒜\mathcal{A}, dizemos que a função μ:𝒜[0,+]\mu:\mathcal{A}\to[0,+\infty] é uma medida finitamente aditiva se μ(∅︀)=0\mu(\emptyset)=0 e μ(AB)=μ(A)+μ(B)\mu(A\cup B)=\mu(A)+\mu(B) para todo par A,B𝒜A,B\in\mathcal{A} disjuntos. Note que medidas finitamente aditivas podem não ser medidas. A teoria das medidas finitamente aditivas é bastante limitada, pois elas podem não ter a propriedade de serem contínuas por baixo. Felizmente, se uma medida finitamente aditiva está definida em uma álgebra, é suficiente pedir que μ\mu seja “σ\sigma-aditiva sempre que possível” para garantir que ela não apresente anomalias. Dado um espaço amostral Ω\Omega e uma álgebra 𝒜\mathcal{A}, dizemos que uma medida finitamente aditiva μ:𝒜[0,+]\mu:\mathcal{A}\to[0,+\infty] é uma pré-medida se for σ\sigma-aditiva, isto é, μ(nAn)=nμ(An)\mu(\bigcup_{n}A_{n})=\sum_{n}\mu(A_{n}) para toda família enumerável de conjuntos disjuntos An𝒜A_{n}\in\mathcal{A} cuja união AA esteja em 𝒜\mathcal{A}.

Teorema D.6 (Teorema de Extensão de Carathéodory).

Seja 𝒜\mathcal{A} uma álgebra em Ω\Omega e μ\mu uma pré-medida em (Ω,𝒜)(\Omega,\mathcal{A}). Então existe uma medida μ¯\bar{\mu} em (Ω,σ(𝒜))(\Omega,\sigma(\mathcal{A})) tal que μ¯(A)=μ(A)\bar{\mu}(A)=\mu(A) para todo A𝒜A\in\mathcal{A}. Ademais, se μ(An)<\mu(A_{n})<\infty para alguma sequência AnΩA_{n}\uparrow\Omega de conjuntos em 𝒜\mathcal{A}, então há uma única medida μ¯\bar{\mu} com essa propriedade.

A demonstração será dada mais abaixo.

Agora fixe Ω=(0,1]\Omega=(0,1] e seja ={(a,b]:0ab1}\mathcal{E}=\{(a,b]:0\leqslant a\leqslant b\leqslant 1\}, a classe dos intervalos contidos em (0,1](0,1], abertos à esquerda e fechados à direita. Definimos 𝒜\mathcal{A} como a classe de todos os conjuntos que podem ser escritos como união disjunta e finita de elementos de \mathcal{E}. Observe que 𝒜\mathcal{A} é uma álgebra em (0,1](0,1].

Vamos definir uma pré-medida μ\mu em 𝒜\mathcal{A} da seguinte maneira. Dado A=(a1,b1](an,bn]A=(a_{1},b_{1}]\cup\dots\cup(a_{n},b_{n}] com a1b1a2b2anbna_{1}\leqslant b_{1}\leqslant a_{2}\leqslant b_{2}\leqslant\dots\leqslant a_{n% }\leqslant b_{n}, definimos

μ(A)=μ((a1,b1](an,bn])=j=1nbjaj.\mu(A)=\mu\big{(}(a_{1},b_{1}]\cup\dots\cup(a_{n},b_{n}]\big{)}=\sum_{j=1}^{n}% b_{j}-a_{j}.

Afirmamos que a fórmula acima está bem definida ainda que AA possa ser escrito de muitas formas diferentes como união finita disjunta de elementos de \mathcal{E}. Omitimos a tediosa prova deste fato, mas enfatizamos uma consequência importante, que a função μ:𝒜[0,+]\mu:\mathcal{A}\to[0,+\infty] é finitamente aditiva.

Lema D.7.

A função μ:𝒜[0,+]\mu:\mathcal{A}\to[0,+\infty] é uma pré-medida.

Demonstração.

É suficiente mostrar que, se An∅︀A_{n}\downarrow\emptyset e An𝒜A_{n}\in\mathcal{A} para todo nn, então μ(An)0\mu(A_{n})\to 0. Com efeito, dados DnD_{n} conjuntos disjuntos em 𝒜\mathcal{A} tais que nDn=D𝒜\cup_{n}D_{n}=D\in\mathcal{A}, podemos definir An=Dj=1nDjA_{n}=D\setminus\cup_{j=1}^{n}D_{j} de forma que An𝒜A_{n}\in\mathcal{A}, An∅︀A_{n}\downarrow\emptyset e μ(D)=μ(An)+j=1nμ(Dj)j=1μ(Dj)\mu(D)=\mu(A_{n})+\sum_{j=1}^{n}\mu(D_{j})\to\sum_{j=1}^{\infty}\mu(D_{j}). Vamos mostrar por contraposição. Seja {An}n𝒜\{A_{n}\}_{n}\subseteq\mathcal{A} uma sequência decrescente com μ(An)2ε\mu(A_{n})\geqslant 2\varepsilon para todo nn. Vamos provar que nAn∅︀\cap_{n}A_{n}\neq\emptyset. Para cada kk\in\mathbb{N}, podemos tomar Bk𝒜B_{k}\in\mathcal{A} tal que Bk¯Ak\overline{B_{k}}\subseteq A_{k} e μ(AkBk)ε2k\mu(A_{k}\setminus B_{k})\leqslant\varepsilon 2^{-k}, basta fazer os intervalos AkA_{k} um pouco mais curtos do lado esquerdo. Pela aditividade de μ\mu em 𝒜\mathcal{A}, temos μ(k=1n(AkBk))ε\mu(\cup_{k=1}^{n}(A_{k}\setminus B_{k}))\leqslant\varepsilon para cada nn. Por outro lado, Ank=1nBk=k=1n(AnBk)k=1nAkBkA_{n}\setminus\cap_{k=1}^{n}B_{k}=\cup_{k=1}^{n}(A_{n}\setminus B_{k})% \subseteq\cup_{k=1}^{n}A_{k}\setminus B_{k}, logo μ(Ank=1nBk)ε\mu(A_{n}\setminus\cap_{k=1}^{n}B_{k})\leqslant\varepsilon, e como μ(An)2ε\mu(A_{n})\geqslant 2\varepsilon, temos μ(k=1nBk)ε\mu(\cap_{k=1}^{n}B_{k})\geqslant\varepsilon. Definimos então Kn=k=1nBk¯∅︀K_{n}=\cap_{k=1}^{n}\overline{B_{k}}\neq\emptyset. Como os KnK_{n} são conjuntos compactos, n=1Kn∅︀\cap_{n=1}^{\infty}K_{n}\neq\emptyset pelo Teorema A.15. Portanto, n=1Ann=1Bn¯=n=1Kn∅︀\cap_{n=1}^{\infty}A_{n}\supseteq\cap_{n=1}^{\infty}\overline{B_{n}}=\cap_{n=1% }^{\infty}K_{n}\neq\emptyset, concluindo a prova. ∎

Combinando o lema acima com o Teorema de Extensão de Carathéodory, podemos estender μ\mu a ((0,1])\mathcal{B}((0,1]). Munidos da existência de tal medida, podemos finalmente justificar a existência da medida de Lebesgue em \mathbb{R}.

Demonstração do Teorema 1.51.

Para todo kk\in\mathbb{Z}, podemos definir a medida μk\mu_{k} em (,)(\mathbb{R},\mathcal{B}) por μk(A)=μ((Ak)(0,1])\mu_{k}(A)=\mu\big{(}(A-k)\cap(0,1]\big{)}, onde μ\mu é a medida em (0,1](0,1] obtida acima, e finalmente m(A)=kμk(A)m(A)=\sum_{k\in\mathbb{Z}}\mu_{k}(A). Observe que mm é uma medida. Observe também que m((a,b])=ba<m\big{(}(a,b]\big{)}=b-a<\infty para todo aba\leqslant b\in\mathbb{R}. Unicidade segue do Teorema 3.37 (unicidade de medidas): consideramos novamente o π\pi-sistema 𝒞={(a,b]:ab}\mathcal{C}=\{(a,b]:a\leqslant b\in\mathbb{R}\}, observamos que σ(𝒞)=\sigma(\mathcal{C})=\mathcal{B}, e que (n,n](-n,n] são conjuntos em 𝒞\mathcal{C} de medida finita cuja união é \mathbb{R}. ∎

No resto desta seção, vamos provar o Teorema de Extensão de Carathéodory.

Para cada subconjunto EE de Ω\Omega, consideramos a coleção 𝒟E\mathcal{D}_{E} de todas as sequências (An)n(A_{n})_{n} de conjuntos em 𝒜\mathcal{A} que cobrem EE:

𝒟E={(An)n:An𝒜 para todo n e EnAn}.\mathcal{D}_{E}=\Big{\{}(A_{n})_{n}:A_{n}\in\mathcal{A}\text{ para todo }n% \text{ e }E\subseteq{\bigcup}_{n}A_{n}\Big{\}}.
Definição D.8 (Medida exterior).

Seja μ\mu uma pré-medida em (Ω,𝒜)(\Omega,\mathcal{A}). Definimos a medida exterior μ:𝒫(Ω)[0,+]\mu^{*}:\mathcal{P}(\Omega)\to[0,+\infty] como

μ(E)=inf(An)n𝒟Enμ(An).\mu^{*}(E)=\inf_{(A_{n})_{n}\in\mathcal{D}_{E}}\sum_{n}\mu(A_{n}).

Podemos pensar na medida exterior como uma forma de medir o conjunto visto de fora. Observe que ela está definida para qualquer subconjunto de Ω\Omega e não apenas para os elementos de 𝒜\mathcal{A}.

Lema D.9 (Propriedades da medida exterior).

A medida exterior μ\mu^{*} satisfaz:

  1. (1)

    Para todos EFΩE\subseteq F\subseteq\Omega, μ(E)μ(F)\mu^{*}(E)\leqslant\mu^{*}(F),

  2. (2)

    Para (En)n(E_{n})_{n\in\mathbb{N}} subconjuntos de Ω\Omega, vale μ(nEn)nμ(En)\mu^{*}(\cup_{n}E_{n})\leqslant\sum_{n}\mu^{*}(E_{n}),

  3. (3)

    Para A𝒜A\in\mathcal{A}, vale μ(A)=μ(A)\mu^{*}(A)=\mu(A).

Demonstração.

Se EFE\subseteq F, então 𝒟F𝒟E\mathcal{D}_{F}\subseteq\mathcal{D}_{E}, o que implica μ(E)μ(F)\mu^{*}(E)\leqslant\mu^{*}(F).

Provaremos agora que μ(nEn)nμ(En)\mu^{*}(\cup_{n}E_{n})\leqslant\sum_{n}\mu^{*}(E_{n}). Seja ε>0\varepsilon>0. Para cada nn\in\mathbb{N}, pela definição de μ(En)\mu^{*}(E_{n}) podemos tomar (An,k)k(A_{n,k})_{k} em 𝒜\mathcal{A} tais que EnkAn,kE_{n}\subseteq\cup_{k}A_{n,k} e kμ(An,k)μ(En)+ε2n\sum_{k}\mu(A_{n,k})\leqslant\mu^{*}(E_{n})+\varepsilon 2^{-n}. Como nEnn,kAn,k\cup_{n}E_{n}\subseteq\cup_{n,k}A_{n,k}, pela definição de μ(nEn)\mu^{*}(\cup_{n}E_{n}) temos que μ(nEn)n,kμ(An,k)=nkμ(An,k)n(μ(En)+ε2n)=ε+nμ(En)\mu^{*}(\cup_{n}E_{n})\leqslant\sum_{n,k}\mu(A_{n,k})=\sum_{n}\sum_{k}\mu(A_{n% ,k})\leqslant\sum_{n}(\mu^{*}(E_{n})+\varepsilon 2^{-n})=\varepsilon+\sum_{n}% \mu^{*}(E_{n}). Como ε\varepsilon é arbitrário, a desigualdade segue.

Finalmente provaremos que μ(A)=μ(A)\mu^{*}(A)=\mu(A) para A𝒜A\in\mathcal{A}. Que μ(A)μ(A)\mu^{*}(A)\leqslant\mu(A) segue imediatamente tomando-se (A,∅︀,∅︀,∅︀)𝒟A(A,\emptyset,\emptyset,\emptyset\dots)\in\mathcal{D}_{A}. Mostraremos que μ(A)μ(A)\mu^{*}(A)\geqslant\mu(A) usando a hipótese de que μ\mu é σ\sigma-aditiva em 𝒜\mathcal{A}. Seja (An)n𝒟A(A_{n})_{n}\in\mathcal{D}_{A}. Tome Bn=AAn(k=1n1Akc)B_{n}=A\cap A_{n}\cap(\cap_{k=1}^{n-1}A_{k}^{c}), de forma que eles formam uma partição de AA. Logo, μ(A)=nμ(Bn)nμ(An)\mu(A)=\sum_{n}\mu(B_{n})\leqslant\sum_{n}\mu(A_{n}). Como isso vale para qualquer (An)n𝒟A(A_{n})_{n}\in\mathcal{D}_{A}, temos μ(A)μ(A)\mu(A)\leqslant\mu^{*}(A), concluindo a prova. ∎

Informalmente, os conjuntos problemáticos são maiores quando vistos por fora do que por dentro. Tentaremos excluir esse tipo de problema considerando conjuntos AΩA\subseteq\Omega tais que, para todo EΩE\subseteq\Omega, vale que

μ(E)=μ(EA)+μ(EAc).\mu^{*}(E)=\mu^{*}(E\cap A)+\mu^{*}(E\cap A^{c}).

Os conjuntos AA satisfazendo a essa condição são chamados μ\mu^{*}-mensuráveis, e \mathcal{F}^{*} denota a coleção desses conjuntos; isto é,

={AΩ:μ(E)=μ(EA)+μ(EAc) para todo EΩ}.\mathcal{F}^{*}=\{A\subseteq\Omega:\mu^{*}(E)=\mu^{*}(E\cap A)+\mu^{*}(E\cap A% ^{c})\text{ para todo }E\subseteq\Omega\}.

A segunda propriedade listada no lema acima implica que

μ(E)μ(EA)+μ(EAc),\mu^{*}(E)\leqslant\mu^{*}(E\cap A)+\mu^{*}(E\cap A^{c}),

de forma que os conjuntos problemáticos são aqueles AΩA\subseteq\Omega para os quais a desigualdade acima é estrita para algum EΩE\subseteq\Omega.

Proposição D.10 (Carathéodory).

A classe \mathcal{F}^{*} de conjuntos μ\mu^{*}-mensuráveis é uma σ\sigma-álgebra em Ω\Omega que contém 𝒜\mathcal{A}, e a restrição de μ\mu^{*} a \mathcal{F}^{*} é uma medida.

Demonstração.

Faremos uso extensivo do Lema D.9. Vamos provar primeiro que 𝒜\mathcal{A}\subseteq\mathcal{F}^{*}. Sejam A𝒜A\in\mathcal{A}, EΩE\subseteq\Omega e ε>0\varepsilon>0. Pela definição de μ\mu^{*} existem A1,A2,𝒜A_{1},A_{2},\dots\in\mathcal{A} com EnAnE\subseteq\cup_{n}A_{n} e nμ(An)μ(E)+ε\sum_{n}\mu(A_{n})\leqslant\mu^{*}(E)+\varepsilon. Logo,

μ(E)\displaystyle\mu^{*}(E) μ(EA)+μ(EAc)nμ(AnA)+nμ(AnAc)\displaystyle\leqslant\mu^{*}(E\cap A)+\mu^{*}(E\cap A^{c})\leqslant\sum_{n}% \mu^{*}(A_{n}\cap A)+\sum_{n}\mu^{*}(A_{n}\cap A^{c})
=nμ(AnA)+nμ(AnAc)=nμ(An)μ(E)+ε,\displaystyle=\sum_{n}\mu(A_{n}\cap A)+\sum_{n}\mu(A_{n}\cap A^{c})=\sum_{n}% \mu(A_{n})\leqslant\mu^{*}(E)+\varepsilon,

onde na segunda desigualdade usamos subaditividade de μ\mu^{*} duas vezes e na primeira igualdade, o fato de que μ=μ\mu^{*}=\mu em 𝒜\mathcal{A}. Como ε\varepsilon é arbitrário, temos que AA\in\mathcal{F}^{*}, logo 𝒜\mathcal{A}\subseteq\mathcal{F}^{*}.

Agora provaremos que \mathcal{F}^{*} é uma σ\sigma-álgebra e μ\mu^{*} é σ\sigma-aditiva em \mathcal{F}^{*}.

Passo 1. A classe \mathcal{F}^{*} é uma álgebra.

Trivialmente, Ω\Omega\in\mathcal{F}^{*} e AcA^{c}\in\mathcal{F}^{*} para todo AA\in\mathcal{F}^{*}. Sejam A,BA,B\in\mathcal{F}^{*}, usando a subaditividade de μ\mu^{*} obtemos

μ(E)\displaystyle\mu^{*}(E) μ(E(AB))+μ(E(AB)c)μ(EAB)\displaystyle\leqslant\mu^{*}(E\cap(A\cap B))+\mu^{*}(E\cap(A\cap B)^{c})% \leqslant\mu^{*}(E\cap A\cap B)
+μ(EABc)+μ(EAcB)+μ(EAcBc)\displaystyle+\mu^{*}(E\cap A\cap B^{c})+\mu^{*}(E\cap A^{c}\cap B)+\mu^{*}(E% \cap A^{c}\cap B^{c})
=μ(EA)+μ(EAc)=μ(E),\displaystyle=\mu^{*}(E\cap A)+\mu^{*}(E\cap A^{c})=\mu^{*}(E),

logo ABA\cap B\in\mathcal{F}^{*}; concluindo que \mathcal{F}^{*} é uma álgebra.

Passo 2. Sejam A1,,AnA_{1},\dots,A_{n}\in\mathcal{F}^{*} disjuntos. Mostraremos que

μ(E(k=1nAk))=k=1nμ(EAk)\mu^{*}\big{(}E\cap(\cup_{k=1}^{n}A_{k})\big{)}=\sum_{k=1}^{n}\mu^{*}(E\cap A_% {k})

para todo EΩE\subseteq\Omega. Com efeito, como A1A_{1}\in\mathcal{F}^{*}, temos que

μ(E(k=1nAk))\displaystyle\mu^{*}\big{(}E\cap(\cup_{k=1}^{n}A_{k})\big{)} =μ(E(k=1nAk)A1)+μ(E(k=1nAk)A1c)\displaystyle=\mu^{*}\big{(}E\cap(\cup_{k=1}^{n}A_{k})\cap A_{1}\big{)}+\mu^{*% }\big{(}E\cap(\cup_{k=1}^{n}A_{k})\cap A_{1}^{c}\big{)}
=μ(EA1)+μ(E(k=2nAk)),\displaystyle=\mu^{*}\big{(}E\cap A_{1}\big{)}+\mu^{*}\big{(}E\cap(\cup_{k=2}^% {n}A_{k})\big{)},

onde a última igualdade é devida ao fato que A1A_{1} e (k=2nAk)(\cup_{k=2}^{n}A_{k}) são disjuntos. Utilizando o mesmo argumento para A2A_{2}, depois A3A_{3}, e assim por diante até AnA_{n}, obtemos a identidade desejada.

Passo 3. Sejam A1,A2,A_{1},A_{2},\dots\in\mathcal{F}^{*} disjuntos. Mostraremos que nAn\cup_{n}A_{n}\in\mathcal{F}^{*} e μ(nAn)=nμ(An)\mu^{*}(\cup_{n}A_{n})=\sum_{n}\mu^{*}(A_{n}).

Para isso, vamos mostrar que

μ(E)μ(EG)+μ(EGc)k=1μ(EAk)+μ(EGc)μ(E),\mu^{*}(E)\leqslant\mu^{*}(E\cap G)+\mu^{*}(E\cap G^{c})\leqslant\sum_{k=1}^{% \infty}\mu^{*}(E\cap A_{k})+\mu^{*}(E\cap G^{c})\leqslant\mu^{*}(E),

onde G=nAnG=\cup_{n}A_{n}.

As duas primeiras desigualdades seguem da subaditividade de μ\mu^{*}. Para mostrar a última desigualdade, definindo Gn=k=1nAkG_{n}=\cup_{k=1}^{n}A_{k}, temos

μ(E)\displaystyle\mu^{*}(E) =μ(EGn)+μ(EGnc)=k=1nμ(EAk)+μ(EGnc)\displaystyle=\mu^{*}(E\cap G_{n})+\mu^{*}(E\cap G_{n}^{c})=\sum_{k=1}^{n}\mu^% {*}(E\cap A_{k})+\mu^{*}(E\cap G_{n}^{c})
k=1nμ(EAk)+μ(EGc)k=1μ(EAk)+μ(EGc),\displaystyle\geqslant\sum_{k=1}^{n}\mu^{*}(E\cap A_{k})+\mu^{*}(E\cap G^{c})% \to\sum_{k=1}^{\infty}\mu^{*}(E\cap A_{k})+\mu^{*}(E\cap G^{c}),

onde a primeira igualdade segue do Passo 1, pois GnG_{n}\in\mathcal{F}^{*}, e a segunda igualdade segue do Passo 2. Isso conclui a demonstração do Passo 3.

Como \mathcal{F}^{*} é uma álgebra fechada por uniões enumeráveis de conjuntos disjuntos, é um λ\lambda-sistema fechado por interseções, logo, pelo Lema D.4, \mathcal{F}^{*} é uma σ\sigma-álgebra. Como μ\mu^{*} é σ\sigma-aditiva em \mathcal{F}^{*}, isso conclui a prova da proposição. ∎

Demonstração do Teorema de Extensão de Carathéodory.

Observe que, pela Proposição D.10, 𝒜\mathcal{A}\subseteq\mathcal{F}^{*}, logo σ(𝒜)\sigma(\mathcal{A})\subseteq\mathcal{F}^{*}. Ademais, μ\mu^{*}, restrita a σ(𝒜)\sigma(\mathcal{A}), é σ\sigma-aditiva, logo é uma medida. Além disso, μ\mu^{*}, restrita a 𝒜\mathcal{A}, coincide com μ\mu. Isso prova a parte de existência. Para unicidade, suponha que μ\mu^{*} seja σ\sigma-finita, de forma que exista uma coleção enumerável {An}n\{A_{n}\}_{n} em σ(𝒜)\sigma(\mathcal{A}) tal que μ(An)<\mu^{*}(A_{n})<\infty para todo nn, e nAn=Ω\cup_{n}A_{n}=\Omega. Da Definição D.8, para cada nn existe uma coleção enumerável {An,k}k\{A_{n,k}\}_{k} tal que kAn,kAn\cup_{k}A_{n,k}\supseteq A_{n} e μ(An,k)<\mu^{*}(A_{n,k})<\infty. Reindexando essa coleção enumerável {An,k}n,k\{A_{n,k}\}_{n,k} como {Bj}j\{B_{j}\}_{j\in\mathbb{N}} e definindo C=B1BC_{\ell}=B_{1}\cup\dots\cup B_{\ell}, temos que C𝒜C_{\ell}\in\mathcal{A}, μ(C)<\mu(C_{\ell})<\infty e CΩC_{\ell}\uparrow\Omega. Observando-se que 𝒜\mathcal{A} é um π\pi-sistema, segue do Teorema 3.37 (unicidade de medidas) que μ\mu^{*} é a única medida em σ(𝒜)\sigma(\mathcal{A}) que coincide com μ\mu em 𝒜\mathcal{A}, concluindo essa demonstração. ∎