Vetores aleatórios discretos e contínuos
Dizemos que um vetor aleatório
é discreto se existe um subconjunto enumerável tal que
.
Neste caso, a função de probabilidade conjunta de é dada por
Um vetor aleatório é discreto se, e somente se, suas coordenadas
são discretas.
A função de probabilidade marginal de uma componente é obtida somando-se nas demais variáveis:
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Para a última igualdade acima basta observar que o evento pode ser escrito como a união disjunta de
com o evento , que tem probabilidade zero.
.
No Exemplo 4.4, vamos obter a função de probabilidade conjunta de , e as funções de probabilidade marginais de e .
Primeiramente, pela descrição do vetor , sabemos que
,
,
e vale zero fora desses três pontos.
Somando em sobre , encontramos a função de probabilidade marginal, que é dada por
e
.
Observe que os mesmos valores podem ser lidos a partir dos saltos da função de distribuição marginal obtida no Exemplo 4.8.
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(Critério de independência, caso discreto).
Seja um vetor aleatório discreto.
Então
são independentes
se, e somente se,
para todo .
Demonstração.
A implicação direta é trivial.
Para a implicação inversa, suponha que para todo .
Neste caso,
para todos ,
e portanto as são independentes.
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Dados um vetor aleatório e uma função mensurável
,
dizemos que
é absolutamente contínuo com função de densidade conjunta se
para todas as escolhas de para .
A função de distribuição conjunta de um vetor aleatório absolutamente contínuo com densidade conjunta pode ser calculada por:
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Se suspeitamos que um vetor aleatório possui densidade conjunta, podemos obter um candidato a densidade calculando
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Uma vez calculada por essa fórmula, podemos verificar se é de fato uma densidade conjunta mostrando que sua integral coincide com .
A função de densidade marginal de uma componente é obtida integrando-se nas demais variáveis:
Vejamos que a densidade marginal é uma densidade de .
Como é não-negativa, segue que será não-negativa para cada .
Além disso, para todo intervalo , definindo a região , obtemos
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Logo, é uma densidade de .
.
Considere o quadrado , e suponha que e tenham densidade conjunta dada por .
Podemos determinar a densidade marginal de integrando:
Analogamente, se integramos em obtemos .
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(Critério de independência, caso contínuo).
Seja um vetor aleatório cujas coordenadas tenham função de densidade .
Então são independentes se, e somente se, a função dada por
é uma densidade conjunta de .
Demonstração.
Suponha que
seja uma densidade conjunta de .
Integrando,
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e, pela Proposição 4.10, são independentes.
Reciprocamente, suponha que são independentes.
Neste caso,
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e, portanto,
é uma densidade conjunta de .
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Observemos que a proposição acima não fornece um critério imediato para concluir que não são independentes, pois densidades conjuntas não são únicas.
Para isso, devemos verificar que existe toda uma região não-degenerada onde , para justificar que a Definição 4.9 não é satisfeita, ou mostrar a desigualdade em um ponto onde todas as funções envolvidas são contínuas.
.
No Exemplo 4.16, verifiquemos formalmente que e não são independentes.
Para isto, basta observar que para todo , enquanto .
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Se um vetor aleatório possui densidade conjunta, então cada uma das suas componentes
são variáveis aleatórias que também possuem densidade (a marginal), mas não vale a recíproca!
Abaixo temos um exemplo simples de vetor aleatório contínuo que não tem densidade.
(Inexistência de densidade conjunta).
Seja , .
Apesar de e serem absolutamente contínuas com densidade , o vetor é singular.
Mais precisamente, para todo ponto , mas não tem densidade conjunta.
Para ver que ele não pode ter densidade, observe que assume valores em um segmento de reta, e a integral de qualquer função em um segmento de reta sempre dá zero.
É interessante também analisar a função de distribuição conjunta, dada por
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Calculando a derivada cruzada, vemos que para
todo par no plano , exceto em duas retas e um segmento de reta, onde a derivada cruzada não existe.
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