Muitas vezes conseguimos dividir em pedaços que podem ser estudados separadamente para depois ver-se o todo.
Nesta seção vamos trabalhar com partições finitas, isto é, partições da forma para algum .
Exemplo 11.1.
Sejam variáveis aleatórias assumindo valores em .
O espaço pode ser dividido em quatro eventos onde ambas e são
constantes.
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Recordemos a definição de esperança condicional de uma variável aleatória simples dado um evento , vista na Seção 5.4:
Definição 11.2(Esperança condicional dada uma partição).
Sejam uma variável aleatória simples e uma partição finita de .
Definimos a esperança condicional de dado , denotada por , como sendo a variável aleatória dada por
Ou seja, para cada , a variável aleatória assume o valor quando ocorre.
A esperança condicional é a uma aproximação para que depende apenas da informação relacionada à partição .
Ela é grosseira o suficiente para atender à restrição de ser constante no eventos de , mas fina o suficiente para ser a melhor entre todas as aproximações sujeitas a essa restrição.
Veja a Figura 11.1.
Figura 11.1: Ilustração da definição de esperança condicional.
Exemplo 11.3.
Um dado honesto é lançado.
Seja o valor exibido pelo dado e defina a partição .
Neste caso,
Assim,
Proposição 11.4(Propriedades da esperança condicional).
Sejam e variáveis aleatórias simples, uma partição finita de e . Então valem as seguintes propriedades:
(a)
.
(b)
Se , então .
(c)
.
Demonstração.
A prova é baseada no fato de que essas mesmas propriedades valem quando condicionamos a um evento fixo.
Com efeito,
,
e, se , vale
.
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Teorema 11.5(Esperança iterada).
Sejam uma variável aleatória simples e uma partição finita.
Então
Demonstração.
Expandindo a definição de , obtemos
sendo que a terceira igualdade segue da Proposição 5.54.
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Exemplo 11.6.
No lançamento do dado considerado no Exemplo 11.3,
Definição 11.7.
Seja uma partição finita e uma variável aleatória simples.
Dizemos que é -mensurável se existem números , não necessariamente distintos, tais que
A equação acima diz que é constante nos eventos de , o que também interpretamos como que a informação sobre determina o valor de .
Observe que sempre é -mensurável.
O teorema a seguir diz que, se uma dada variável aleatória é -mensurável, então ela sai da esperança condicional como se fosse uma constante.
Teorema 11.8.
Sejam e variáveis aleatórias simples e uma partição finita.
Se é -mensurável, então
e, em particular, .
Demonstração.
Escrevendo , para cada fixado, vale a identidade
donde para todo .
Como isso vale para todo , vale a identidade para todo .
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Observação 11.9(Melhor aproximação na média quadrática).
Vejamos que é a melhor aproximação -mensurável para , no sentido de que, dentre todas as variáveis aleatórias que são -mensuráveis, é a que minimiza o erro quadrático médio .
Com efeito, tomando , mostraremos que para toda variável , -mensurável. Expandindo e usando o Teorema 11.8 duas vezes,
pois e são -mensuráveis.
Tomando esperança na equação acima,
Observamos que a esperança condicional é a única variável aleatória -mensurável tal que
(11.10)
para todo .
A unicidade aqui é no sentido de que qualquer outra variável aleatória cumprindo essas duas condições tem que ser necessariamente igual a exceto nos eventos de que tenham probabilidade zero.
As principais propriedades da esperança condicional podem ser obtidas diretamente a partir desta caracterização de .
Veremos como essa definição alternativa ajuda na prova do teorema abaixo.
Dadas duas partições e , dizemos que é mais fina que , denotado por
, se para todo existe tal que
.
Isso significa que tem “mais informação” do que , pois os eventos de formam uma subdivisão dos eventos de .
Teorema 11.11(Esperança condicional iterada).
Sejam uma variável aleatória simples e e partições finitas de .
Se , então
Figura 11.2: Diagrama ilustrando a esperança condicional iterada.
Demonstração.
Para clarificar a notação, denotamos e .
Para o item (1), como é -mensurável e , segue que é -mensurável, donde .
Provemos agora o item (2).
Seja .
Pela definição de , temos
Por outro lado, , com e, pela definição de , temos
para .
Somando sobre , obtemos
Como é -mensurável e para todo , concluímos que q.c. pela observação acima.
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