12.2 Tempos de parada
Ao participar de rodadas sucessivas de um jogo de azar, ou mesmo ao investir dinheiro em um determinado ativo financeiro, surgem perguntas bastante naturais. Em que momento devemos parar de jogar? Em que momento devemos vender o ativo? A resposta óbvia seria quando obtivermos o maior lucro possível! A questão é que para sabermos que estamos passando por este momento, devemos ter informação acerca do futuro, pois se hoje é o dia que obterei o maior lucro com meu ativo financeiro é porque amanhã ele se desvalorizará. Ou seja, há tempos aleatórios que somente conseguimos determinar se olharmos para o futuro. A seguinte definição caracteriza aqueles tempos aleatórios factíveis, isto é, aqueles que conseguimos determinar apenas com a informação contida até o presente.
Definição 12.14.
Seja uma variável aleatória estendida que toma valores em . Dizemos que a variável é um tempo de parada com respeito à filtração se para todo .
Alguns livros definem tempo de parada pedindo que para todo , o que é equivalente (verifique!). Se interpretamos que a -álgebra carrega toda a informação disponível até o tempo , temos que, ser um tempo de parada significa que o evento pode ser determinado com base na informação contida apenas até esse tempo .
Exemplo 12.15.
Sejam um processo adaptado e . É frequente estarmos interessados no primeiro tempo de passagem pelo conjunto (por exemplo, gostaríamos de vender determinado ativo financeiro quando ele atinge determinado preço pela primeira vez). Isto é, estamos interessados na variável aleatória
com a convenção . Como
para todo , segue que é um tempo de parada. ∎
Dados um processo estocástico e um tempo aleatório assumindo valores em , definimos a variável que corresponde ao processo observado no tempo . Definimos o processo parado em como , onde , que geralmente representa um processo que para de evoluir quando uma determinada condição é cumprida.
Teorema 12.16 (Teorema do Martingale Parado).
Sejam um submartingale e um tempo de parada, com respeito à mesma filtração. Então o processo parado também é um submartingale. Em particular, se é um martingale, então também é martingale.
Demonstração.
Como
e todas as variáveis na equação acima são -mensuráveis, é -mensurável, e como , também é integrável. Para verificar (12.8), veja que
Na segunda igualdade utilizamos o fato de que , pois é tempo de parada. Na desigualdade usamos a propriedade de submartingale. ∎
Exemplo 12.17 (O segundo valete).
Retiramos cartas do baralho ao acaso e sucessivamente, até que não reste nenhuma carta. Sabemos que, para cada , a probabilidade de que a -ésima carta retirada seja um valete é igual a . Uma propriedade talvez surpreendente é que a probabilidade de os dois primeiros valetes aparecerem juntos também é !
Para justificar essa afirmação, definimos como a indicadora do evento em que a -ésima carta retirada é um valete, e como o número de cartas retiradas até que saia um valete. Queremos mostrar que .
Tomamos como a filtração natural de e definimos como a proporção de valetes restantes no baralho após a -ésima retirada, isto é,
Observe que, para cada fixo, , ou seja, a probabilidade condicional de que a próxima carta seja um valete é igual à proporção de valetes restantes no baralho. Multiplicando por , somando sobre e tomando a esperança, obtemos a identidade . Assim, queremos mostrar que .
Afirmamos que é um martingale com respeito a , com Com efeito,
e, como é -mensurável e ,
e, portanto, é de fato um martingale. Pelo Teorema do Martingale Parado, . ∎
Proposição 12.18.
Sejam um submartingale e um tempo de parada, com respeito à mesma filtração. Então
Demonstração.
Basta expandir
onde na desigualdade usamos a propriedade de submartingale. ∎
Essas propriedades de martingales parados permitem estender desigualdades envolvendo a posição final para desigualdades sobre toda a trajetória.
Teorema 12.19.
Seja um submartingale. Então, para cada valem
e
Demonstração.
Teorema 12.20 (Desigualdade de Doob-Kolmogorov).
Seja um martingale. Então, para cada e vale
Demonstração.
Caso , a desigualdade vale trivialmente. Caso contrário, como a função é convexa, é um submartingale e aplicamos o teorema anterior com no lugar de . ∎
Com algum esforço extra e usando a Desigualdade de Hölder (Apêndice D.7), é possível provar o seguinte.
Teorema 12.21 (Desigualdade de Doob em ).
Seja um martingale, ou um submartingale não-negativo. Então para todo vale