12.5 Convergência de martingales em
Na seção anterior, estudamos condições para que um submartingale convirja quase certamente, o que não necessariamente implica convergência dos respectivos momentos, conforme podemos observar nos exemplos abaixo.
Exemplo 12.35.
Seja uma sequência de variáveis aleatórias i.i.d. com , e considere sua filtração natural. Defina . Então é um martingale não-negativo e quase certamente. Observe que o martingale não converge em pois . ∎
O exemplo acima é uma reformulação do Exemplo 12.22. Há outros exemplos do mesmo fenômeno. No processo de ramificação crítico (), vimos que é um martingale com , mas . Também vimos no Exemplo 12.30 que o passeio aleatório simétrico começando em e parado em é um martingale que satisfaz mas .
Gostaríamos de saber quando a esperança é preservada no limite. A definição a seguir terá um papel importante na convergência de martingales em .
Definição 12.36 (Integrabilidade uniforme).
Dizemos que uma sequência de variáveis aleatórias é uniformemente integrável se
Teorema 12.37 (Teorema de Convergência de Vitali).
Seja uma sequência uniformemente integrável. Então . Se, ademais, , então é integrável e em .
Demonstração.
Para a primeira afirmação, basta tomar tal que
pois isso nos dá para todo .
Para a segunda, suponha que . Pelo Lema de Fatou, , logo é integrável.
Agora seja . Tome tal que e para todo . Defina . Estimaremos
Como é contínua, e, pelo Teorema da Convergência Dominada, . Como , temos que e . Portanto, , para todo , concluindo a prova. ∎
Observação 12.38.
Integrabilidade uniforme implica mas não vale a recíproca. Por exemplo, se , então mas essa sequência não é uniformemente integrável. ∎
Teorema 12.39.
Seja um submartingale uniformemente integrável. Então, existe uma variável aleatória , tal que quase certamente e em . Além disso, q.c. para todo . Em particular, se é um martingale uniformemente integrável, q.c.
Demonstração.
Pelo Teorema de Convergência de Vitali, . Logo, pelo Teorema da Convergência de Martingales, existe uma variável aleatória estendida tal que . Pelo Teorema de Convergência de Vitali novamente, é integrável e em . Finalmente, seja . Como em e para , temos
Como ambos e são -mensuráveis e a desigualdade vale para todo , pelo Exercício 5.64 concluímos que q.c. ∎
Podemos inspecionar o martingale definido no Exemplo 12.35 e verificar diretamente que ele converge certamente mas não é uniformemente integrável nem converge em . Abaixo, discutimos mais alguns exemplos.
Exemplo 12.40.
Seja o passeio aleatório simétrico começando de e parado em , como definido no Exemplo 12.30. Observe que pois q.c. e para todo , donde pudemos concluir que converge q.c. Entretanto, , logo não pode valer convergência em e esse martingale não é uniformemente integrável. ∎
Exemplo 12.41.
O processo de ramificação crítico satisfaz pois q.c. e para todo . Isso foi usado para mostrar que . Novamente, não pode valer convergência em e esse martingale não é uniformemente integrável. ∎
As proposições seguintes são critérios úteis para verificar a integrabilidade uniforme.
Proposição 12.42.
Seja uma sequência de variáveis aleatórias. Se para algum , então é uniformemente integrável.
Demonstração.
Basta observar que
quando , pois . ∎
Proposição 12.43.
Seja um martingale tal que q.c. Suponha que para todo . Então
Em particular, se é um martingale tal que , então é uniformemente integrável, logo converge q.c. e em .
Demonstração.
Mostraremos a primeira parte por indução em . Expandindo os todos termos, vemos que
Observe que é integrável, pois para todos e em . Como é um martingale,
Tomando a esperança na equação acima, obtemos , o que termina a prova por indução.
Exemplo 12.44 (Processo de ramificação supercrítico).
Continuando o Exemplo 12.29, mostraremos que quando há probabilidade positiva de a população crescer exponencialmente ao invés de se extinguir. Como é um martingale não-negativo, sabemos que converge quase certamente para alguma variável aleatória . Basta então mostrar que .
Para isso, vamos estimar . Observe que
Tomando a esperança e usando independência entre e ,
Logo, . Pela Proposição 12.43, converge em . Portanto, e . ∎
O teorema abaixo diz que uma variável aleatória pode ser aproximada por sua esperança condicional dada uma -álgebra de uma filtração qualquer.
Teorema 12.45.
Sejam uma filtração e uma variável aleatória integrável. Defina . Então
Demonstração.
Para todo , definimos , que é um martingale com respeito à filtração conforme vimos no Exemplo 12.6. Mostraremos inicialmente que é uniformemente integrável. Seja . Como é integrável, podemos tomar de modo que . Sendo assim,
onde na última desigualdade, tomamos . Isto mostra a integrabilidade uniforme de . Portanto, pelo Teorema 12.39, q.c. e em .
Resta mostrar que . Primeiro, podemos tomar , de forma que é -mensurável pelo Lema 3.50. Observe que para todos e , pela definição de temos que
Como , podemos tomar o limite na integral, obtendo
Lembrando que e são integráveis, podemos definir para todo ,
obtendo duas medidas finitas e definidas em , que coincidem na classe . Como essa classe é um -sistema, pelo Teorema 3.37 (unicidade de medidas), as medidas coincidem na -álgebra . Assim,
Como é -mensurável, segue que q.c. ∎
Se um martingale satisfaz para algum , podemos combinar a Proposição 12.42 com o Teorema 12.39 para concluir que q.c. e em . Entretanto, nesse caso podemos concluir algo bem mais forte, conforme enunciado abaixo.
Teorema 12.46 (Convergência em ).
Sejam e um martingale, ou um submartingale não-negativo, e suponha que . Então, existe uma variável aleatória , tal que quase certamente e em .
Demonstração.
Defina . Usando o Teorema 12.21 e o Teorema da Convergência Monótona, temos . Já sabemos que pelo parágrafo acima. Como para todo , podemos aplicar o Teorema da Convergência Dominada em , concluindo a prova. ∎