SeçãoA.8Máximos e mínimos locais em abertos de \(\R^2\)
Iniciamos agora o estudo dos máximos e mínimos locais de funções de várias variáveis reais. Neste primeiro momento vamos tratar a situação análoga ao que vimos no Cálculo 1 para pontos de máximo e mínimo em intervalos abertos: o Teorema A.1.3 e o teste da segunda derivada, dado no Exercício 1.1.7.
Para tanto, estabelecemos as definições de ponts de máximos e mínimos (locais e globais) de uma função \(f\colon
A\subseteq\R^n\to\R\) (faremos com \(n=2\text{,}\) mas tudo se generaliza funções de \(n\) variáveis a valores reais).
DefiniçãoA.8.1.
A bola aberta de centro em \((x_0,y_0)\) e raio \(r>0\) de \(\R^2\) é o conjunto
Sejam \(f\colon A\subseteq\R^2\to\R\) e \((x_0,y_0)\in
A\text{.}\) Dizemos que
\((x_0,y_0)\) é um ponto de máximo local de \(f\) se existe \(r>0\) tal que para todo \((x,y)\in
B_r(x_0,y_0)\bigcap A\text{,}\) temos \(f(x,y)\leq
f(x_0,y_0)\text{.}\)
\((x_0,y_0)\) é um ponto de mínimo local de \(f\) se existe \(r>0\) tal que para todo \((x,y)\in
B_r(x_0,y_0)\bigcap A\text{,}\) temos \(f(x,y)\geq
f(x_0,y_0)\text{.}\)
\((x_0,y_0)\) é um ponto de máximo (global) de \(f\) se \(f(x,y)\leq f(x_0,y_0)\) para todo \((x,y)\in A\text{.}\)
\((x_0,y_0)\) é um ponto de mínimo (global) de \(f\) se \(f(x,y)\geq f(x_0,y_0)\) para todo \((x,y)\in
A\text{.}\)
Se \(f\) admite derivadas parciais em \((x_0,y_0)\) e \(\nabla f(x_0,y_0)=(0,0)\text{,}\) então \((x_0,y_0)\) é um ponto crítico de \(f\).
Assista ao vídeo abaixo para uma motivação dos resultados a seguir. FiguraA.8.3.Máximos e mínimos locais.
TeoremaA.8.4.
Sejam \(A\subseteq\R^2\) um aberto contendo o ponto \((x_0,y_0)\) e \(f\colon A\to\R\) uma função que admite derivadas parciais em \((x_0,y_0)\text{.}\) Se \((x_0,y_0)\) é um opnto de máximo ou mínimo local de \(f\text{,}\) então \(\nabla
f(x_0,y_0)=(0,0)\text{.}\)
Demonstração.
Se \((x_0,y_0)\) é, digamos um ponto de máximo local, então \(x_0\) é ponto de máximo local de \(g(x)=f(x,y_0)\) num intervalo aberto \(I\text{,}\) contendo o ponto \(x_0\text{.}\) Segue-se então, do Teorema A.1.3 que
É importante mencionar que a recíproca do teorema acima, assim como visto na nota do Teorema A.1.3 para o caso de uma veriável, é falsa: considere \(f(x,y)=x^2-y^2\text{,}\) definida em todo o plano \(\R^2\) (um aberto). Temos que \(\nabla f(0,0)=(0,0)\) e este não é um ponto de máximo local, nem de mínimo local, já que \(f(0,y)< f(0,0) < f(x,0)\text{,}\) para quaisquer \((x,y)\neq
(0,0)\text{.}\)
Um ponto crítico, no domínio de uma função, que não é de máximo local nem de mínimo local é chamado de ponto de sela daquela função. A nomenclatura vem da semelhança do gráfico da função acima com uma sela. Veja a Figura A.2.7.
A fim de tentar generalizar o teste da segunda para classificar os pontos críticos de funções de duas variáveis, precisamos levar em conta as quatro segundas derivadas e aplicar técnica análoga à empregada no Exercício 1.1.7. Para isso apresentamos rapidamente a fórmula de Taylor para funções de classe \(\mathscr{C}^2\) a duas variáveis reais.
TeoremaA.8.5.(Fórmula de Taylor).
Sejam \(f\colon A\subseteq\R^2\to\R\) de classe \(\mathscr{C}^2\) no ponto \((x_0,y_0)\) do convexo \(A\text{.}\) Então
com \(\gamma(t)=\big(x(t),y(t)\big)=(x_0,y_0)+t(x-x_0,y-y_0)\text{,}\) para \(t\) num intervalo abeto contendo \([0,1]\) tal que a imagem de \(\gamma\) esteja contida em \(A\text{.}\)
Assim, temos \(g(0)=f(x_0,y_0)\) e, aplicando a regra da cadeia sucessivas vezes, que
ou seja, a fórmula apresentada no enunciado, onde \((\overline{x},\overline{y})=\gamma(\overline{t})\text{.}\)
Com isso podemos apresentar o chamado critério do Hessiano:
TeoremaA.8.6.
Sejam \(A\subseteq\R^2\) um aberto e \((x_0,y_0)\in A\) um ponto crítico da função \(f\colon A\to\R\text{,}\) de classe \(\mathscr{C}^2\) em \((x_0,y_0)\text{.}\) Se
\(\det H_f(x_0,y_0)> 0\) e \(f_{xx}(x_0,y_0)>
0\text{,}\) então \((x_0,y_0)\) é um ponto de mínimo local de \(f\text{.}\)
\(\det H_f(x_0,y_0)> 0\) e \(f_{xx}(x_0,y_0)<
0\text{,}\) então \((x_0,y_0)\) é um ponto de máximo local de \(f\text{.}\)
\(\det H_f(x_0,y_0)< 0\) então \((x_0,y_0)\) é um ponto de sela de \(f\text{.}\)
Aqui \(H_f(x_0,y_0)=\begin{bmatrix} f_{xx}(x_0,y_0)&
f_{yx}(x_0,y_0)\\ f_{xy}(x_0,y_0)& f_{yy}(x_0,y_0)\\
\end{bmatrix}\) é a matriz Hessiana de \(f\) em \((x_0,y_0)\text{.}\)
NotaA.8.7.
Note que este resultado nada afirma no caso em que \(\det
H_f(x_0,y_0)=0\text{.}\) Tais casos devem ser estudados de maneira "artesanal".