Ir ao conteúdo principal
Logo image

MAT–2454: Soluções de Exercícios e de Provas

Seção 3.2 Segunda Prova

Exercícios Exercícios

1.

Seja \(f\colon\R^2\to\R\) diferenciável tal que \(2x+3y+z=1\) é o plano tangente ao gráfico de \(f\) no ponto \(\big(-1,2, f(-1,2)\big)\text{.}\) Determine
  1. O valor de \(f(-1,2)\text{.}\)
  2. A reta tangente ao gráfico de \(g\colon\R\to\R\) dada por \(g(t)=f(te^t- \cos t, 2e^t +t)\) no ponto \(\big(0,g(0)\big)\text{.}\)
  3. O plano tangente ao gráfico de \(h(u,v)=u f(uv, u^2+v^2)\) no ponto \(\big(1,-1, h(1,-1)\big)\text{.}\)
Resposta.
  1. \(f(-1,2)=-3\text{.}\)
  2. \(y= -11x-3\text{.}\)
  3. \(7x-4y+z-8 = 0\text{.}\)
Solução.
  1. Basta lembrar que o ponto \(\big(-1,2, f(-1,2)\big)\) pertence do plano dado como tangente ao gráfico de \(f\) nesse ponto. Assim \(2\cdot(-1)+3\cdot 2+f(-1,2)=1\implies \boxed{f(-1,2)=-3}\text{.}\)
  2. Prestando a devida atenção aos sinais, a equação do plano dado nos diz que \(\nabla f(-1,2)=(-2,-3)\text{.}\) A equação da reta tangente ao gráfico de \(g\) (uma função de \(\R\) em \(\R\) é dada por \(y=g(0)+g'(0)x\text{.}\) Determinamos os coeficientes, observando que \(g(t)=f\big(\gamma(t)\big)\text{,}\) onde \(\gamma(t)=(te^t- \cos t, 2e^t +t)\)). Com isso,
    \begin{align*} g(0)&=f\big(\gamma(0)\big)=f(-1,2)=-3;\\ g'(0)&=(f\circ\gamma)'(0)=\big\langle\nabla f\big(\gamma(0)),\gamma'(0)\big\rangle=-11, \end{align*}
    pois \(f\) e \(\gamma\) são diferenciáveis, com \(\nabla f(-1,2)=(-2,-3)\) obtido no item anterior e \(\gamma'(0)=(1,3)\text{.}\) Assim, a reta procurada é \(\boxed{y=-11x-3}\text{.}\)
  3. Precisamos do valor \(h(1,-1)=1\cdot f(-1,2)=-3\) e das derivadas parciais de \(h\) no ponto \((1,-1)\text{,}\) o que vem da Regra da Cadeia. Primeiro as derivadas num ponto qualquer:
    \begin{align*} h_u(u,v)&=f(uv,u^2+v^2)+u\Big[f_x(uv,u^2+v^2)v+f_y(uv,u^2+v^2)(2u)\Big];\\ h_v(u,v)&=u\Big[f_x(uv,u^2+v^2)u+f_y(uv,u^2+v^2)(2v)\Big]; \end{align*}
    No ponto \((u,v)=(1,-1)\text{,}\) temos \(h_u(1,-1)=-7\) e \(h_v(1,-1)=4\text{.}\) Assim o plano tangente pedido tem equação
    \begin{equation*} \pi\colon -7(x-1)+4(y+1)-z-3=0\iff \boxed{\pi\colon 7x-4y+z-8 = 0}\text{.} \end{equation*}

2.

Seja \(f\colon\R^3\to\R\) dada por \(f(x,y,z)=(x+y)z\) e considere
\begin{equation*} C=\big\{(x,y,z)\in\R\colon x^2 + y^2 - z^2 = 1\text{ e }(x-1)^2+(y-1)^2+z^2=1\big\}. \end{equation*}
  1. Encontre um vetor unitário tangente à curva \(C\) em \((1,1,1)\text{.}\)
  2. Denotando por \(\vec{u}\) o vetor encontrado no item anterior, calcule \(\dfrac{\partial f}{\partial \vec{u}}(1,1,1)\text{.}\)
Resposta.
  1. As duas possíveis respostas são \(\vec{u_1}=\dfrac{1}{\sqrt{2}}(1,-1,0)\) ou \(\vec{u_2}=\dfrac{1}{\sqrt{2}}(-1,1,0)\text{;}\)
  2. \(\dfrac{\partial f}{\partial \vec{u}}(1,1,1)=0\text{.}\)
Solução.
Existem aqui duas estratégias de solução, uma usando a teoria e fazendo menos contas e outras mais artesanal, parametrizando a curva:
Solução 1 (utilizando a relação entre gradientes e superfícies de nível):
  1. Consideremos as funções (de classe \(\mathscr{C}^1\)) \(g,h\colon\R^3\to\R\) dadas por
    \begin{equation*} g(x,y,z) = x^2 + y^2 - z^2 \quad \text{e} \quad h(x,y,z) = (x-1)^2 + (y-1)^2 + z^2, \end{equation*}
    cujos gradientes são
    \begin{equation*} \nabla g(x,y,z) = 2(x,y,-z) \quad \text{e} \quad \nabla h(x,y,z) = 2 (x-1, y-1, z). \end{equation*}
    Em particular, \(\nabla g(1,1,1) = 2(1,1,-1)\) e \(\nabla h(1,1,1) = 2(0,0,1)\) são linearmente independentes. Como \(C\) é a intersecção das superfícies de nível \(c=1\) de \(g\) e \(h\text{,}\) sabemos que a reta tangente a \(C\) em \((1,1,1)\) é a interseção dos planos tangentes às superfícies de nível acima e portanto normal aos vetores \((1,1,-1)\) e \((0,0,1)\text{.}\) Deste modo, um vetor diretor desta reta é
    \begin{equation*} \vec{v} = (1,1,-1) \times (0,0,1) = (1,-1,0). \end{equation*}
    Assim, os vetores
    \begin{equation*} \vec{u_1} = \frac{1}{\sqrt{2}}(1,-1,0) \quad \text{e} \quad \vec{u_2} = \frac{1}{\sqrt{2}}(-1,1,0) \end{equation*}
    são ambos unitários e tangentes a \(C\) em \((1,1,1)\text{.}\)
  2. Como \(f\) é diferenciável, sabemos que
    \begin{equation*} \frac{\partial f}{\partial \vec{u}}(1,1,1) = \big\langle \nabla f(1,1,1), \vec{u_1}\big\rangle = \big\langle (1,1,2), \vec{u_1}\big\rangle = 0 \end{equation*}
    e, analogamente, \(\dfrac{\partial f}{\partial \vec{u_2}}(1,1,1) = 0\text{.}\) Observe que \(\nabla f(1,1,1) = (1,1,2)\) é combinação linear de \(\nabla g(1,1,1)\) e \(\nabla h(1,1,1)\text{.}\) Tal fato está ligado à solução do Exercício 3.2.4.
Solução 2 (Parametrizando a curva "por partes"):
  1. Somando as equações que definem \(C\) e completando quadrados, obtemos
    \begin{equation*} \Big(x - \frac{1}{2}\Big)^2 + \Big(y - \frac{1}{2}\Big)^2 = \frac{1}{2} \end{equation*}
    e podemos escrever
    \begin{align*} x - \frac{1}{2} = \dfrac{\sqrt{2}}{2}\cos t &\implies x = \frac{\sqrt{2}}{2}\cos t + \frac{1}{2},\\ y - \frac{1}{2} = \frac{\sqrt{2}}{2}\sin t &\implies y = \frac{\sqrt{2}}{2}\sin t + \frac{1}{2}. \end{align*}
    Para determinar \(z\) em termos de \(t\text{,}\) basta substituir na primeira equação:
    \begin{equation*} z^2 = \dfrac{\sqrt{2}}{2} (\sin t + \cos t) \implies z = \pm \frac{\sqrt{\sin t + \cos t}}{\sqrt[4]{2}}. \end{equation*}
    Como estamos interessados no ponto \((1,1,1)\text{,}\) vamos considerar apenas
    \begin{equation*} z = \frac{\sqrt{\sin t + \cos t}}{\sqrt[4]{2}}. \end{equation*}
    Note que a expressão dentro da raiz quadrada acima deve ser maior ou igual a zero, o que impõe uma restrição ao domínio da nossa parametrização procurada. Devemos ter \(\sin t + \cos t \geq 0\text{,}\) o que equivale a \(t \in \Big[-\frac{\pi}{4},\frac{3\pi}{4}\Big]\text{.}\)
    (Uma maneira rápida de verificar isto é notar que
    \begin{equation*} \sin t + \cos t \geq 0 \iff \frac{\sqrt{2}}{2} \sin t + \frac{\sqrt{2}}{2} \cos t \geq 0 \iff \sin(t + \pi/4) \geq 0.) \end{equation*}
    A curva \(\gamma\colon \Big[ -\frac{\pi}{4}, \frac{3\pi}{4}\Big]\to\R^3\) dada por
    \begin{equation*} \gamma(t) = \Big( \frac{\sqrt{2}}{2}\cos t + \frac{1}{2}, \frac{\sqrt{2}}{2}\sin t + \frac{1}{2},\frac{\sqrt{\sin t + \cos t}}{\sqrt[4]{2}}\Big) \end{equation*}
    é, portanto, uma parametrização de parte de \(C\) que passa por \((1,1,1)\text{.}\) Para encontrar um vetor tangente a \(\gamma\) em \((1,1,1)\text{,}\) precisamos calcular determinar \(t_0 \in \Big] -\frac{\pi}{4}, \frac{3\pi}{4}\Big[\) tal que \(\gamma(t_0) = (1,1,1)\) e, em seguida, calcular a derivada de \(\gamma\) neste ponto.
    Notemos que \(\gamma(t) = (1,1,1)\) se, e somente se,
    \begin{equation*} \frac{\sqrt{2}}{2}\cos t + \frac{1}{2} = \frac{\sqrt{2}}{2}\sin t + \frac{1}{2} = \frac{\sqrt{\sin t + \cos t}}{\sqrt[4]{2}} = 1, \end{equation*}
    que admite apenas \(t= \frac{\pi}{4}\) como solução no intervalo \(\Big] -\frac{\pi}{4}, \frac{3\pi}{4}\Big[\) (verifique).
    Como
    \begin{equation*} \gamma'(t) = \left( -\frac{\sqrt{2}}{2}\sin t, \frac{\sqrt{2}}{2}\cos t,\frac{\cos t - \sin t}{2\sqrt[4]{2}\sqrt{\sin t + \cos t}}\right), \forall t \in \left] -\frac{\pi}{4}, \frac{3\pi}{4}\right[, \end{equation*}
    concluímos que
    \begin{equation*} \gamma'\left(\frac{\pi}{4}\right) = \left( - \frac{1}{2}, \frac{1}{2}, 0\right) \end{equation*}
    é tangente a \(C\) em \((1,1,1)\text{.}\) Note que este vetor é paralelo ao vetor \(\vec{v}\) obtido na solução anterior!
  2. Uma vez encontrado o vetor tangente a \(C\) a derivada direcional é calculada como na solução anterior.
Um figura sempre ajuda:
Figura 3.2.1. Superfícies da Exercício 3.2.2

3.

Determine os pontos críticos da função
\begin{equation*} f(x,y) = x^2y +xy^2 -xy \end{equation*}
e classifique-os como pontos de máximo local, mínimo local ou de sela.
Resposta.
Os pontos \((0,0)\text{,}\) \((1,0)\) e \((0,1)\) são de sela, enquanto que \((1/3,1/3)\) é de mínimo local.
Solução.
Note que \(f\) é de classe \(\mathscr{C}^2\) e seu gradiente é
\begin{equation*} \nabla f(x,y) = (2xy+y^2 -y, 2xy+x^2 - x). \end{equation*}
Deste modo, os pontos críticos de \(f\) são as soluções do sistema
\begin{equation*} \begin{cases} 2xy+y^2-y&=0,\\ 2xy+x^2-x&=0.\end{cases} \end{equation*}
A primeira equação equivale a \(y=0\) ou \(y=1-2x\text{.}\) Vamos analisar os dois casos:
  • substituindo \(y=0\) na segunda equação, obtemos \(x^2-x=0\text{,}\) isto é, \(x=0\) ou \(x=1\text{.}\) Temos, assim, os pontos \((0,0)\) e \((1,0)\text{;}\)
  • substituindo \(y=1-2x\) na segunda equação, obtemos \(-3x^2+x=0\text{,}\) isto é, \(x=0\) ou \(x=1/3\text{.}\) Para \(x=0\) temos \(y=1\text{;}\) para \(x=1/3\) temos \(y=1/3\text{.}\) Isto nos dá os pontos \((0,1)\) e \((1/3,1/3)\text{.}\)
Uma vez encontrados os pontos críticos de \(f\text{,}\) vamos classificá-los usando o Critério da Hessiana (Teorema A.8.6). Precisamos das derivadas de segunda ordem de $f$:
\begin{equation*} \frac{\partial^2 f}{\partial x^2}(x,y) = 2y, \quad \frac{\partial^2 f}{\partial y\partial x}(x,y) = 2x+2y-1, \quad \frac{\partial^2 f}{\partial y^2}(x,y) = 2x. \end{equation*}
Denotando por \(H_f(x,y)\) a matriz Hessiana de \(f\) no ponto \((x,y)\text{,}\) temos:
  • \(\det H_f(0,0) = \det\begin{bmatrix} 0 & -1\\ -1 & 0 \end{bmatrix} = -1 < 0 \implies (0,0)\) é ponto de sela de \(f\text{.}\)
  • \(\det H_f(1,0) = \det\begin{bmatrix} 0 & 1\\ 1 & 2 \end{bmatrix} = -1 < 0 \implies (1,0)\) é ponto de sela de \(f\text{.}\)
  • \(\det H_f(0,1) = \det\begin{bmatrix} 2 & 1\\ 1 & 0 \end{bmatrix} = -1 < 0 \implies (0,1)\) é ponto de sela de \(f\text{.}\)
  • \(\det H_f(1/3,1/3) = \det\begin{bmatrix} 2/3 & 1/3\\ 1/3 & 2/3 \end{bmatrix} = 1/3 > 0\) e \(\dfrac{\partial^2 f}{\partial x^2}(1/3,1/3) = 2/3> 0 \implies (1/3,1/3)\) é ponto de mínimo local de \(f\text{.}\)

4.

Seja \(f\colon\R^3\to\R\) dada por \(f(x,y,z)=(x+y)z\text{.}\) Determine o valor máximo e o valor mínimo de \(f\) em
\begin{equation*} C= \big\{ (x,y,z) \in \R^3\colon x^2 + y^2 - z^2 = 1\text{ e } (x-1)^2 + (y-1)^2 +z^2 =1\big\}. \end{equation*}
Resposta.
O valor máximo de \(f\) é \(2\text{,}\) atingido no ponto \((1,1,1)\text{,}\) enquanto o mínimo é \(-2\text{,}\) atingido no ponto \((1,1,-1)\text{.}\)
Solução.
Observamos, primeiramente, que \(f\) é contínua e \(C\) é compacto (é a intersecção de um hiperboloide de uma folha, que é fechado, e uma esfera, que é fechada e limitada). O Teorema de Weierstrass assegura então que o problema proposto tem solução.
Usando a mesma notação da solução do Exercício 3.2.2, vamos considerar as funções \(g,h\colon\R^3\to\R\) dadas por
\begin{equation*} g(x,y,z) = x^2 + y^2 - z^2 \quad\text{e}\quad h(x,y,z) = (x-1)^2 + (y-1)^2 + z^2. \end{equation*}
As funções \(f\text{,}\) \(g\) e \(h\) são de classe \(\mathscr{C}^1\) e seus gradientes são \(\nabla f(x,y,z) = (z,z, x+y)\text{,}\) \(\nabla g(x,y,z) = 2(x,y,-z)\) e \(\nabla h(x,y,z) = 2 (x-1, y-1, z)\text{.}\)
O Método dos Multiplicadores de Lagrange (Teorema A.9.9) garante que os candidatos a máximos e mínimos locais de \(f\) em \(C\) são as soluções do sistema
\begin{equation*} \begin{cases} \{ \nabla f(x,y,z), \nabla g(x,y,z), \nabla h(x,y,z)\}\; \text{é linearmente dependente},\\ x^2 + y^2 - z^2 = 1,\\ (x-1)^2 +(y-1)^2+ z^2 = 1. \end{cases} \end{equation*}
A primeira condição equivale a
\begin{equation*} \det\begin{bmatrix} z & z & x+y\\ x & y & -z\\ x-1 & y-1 & z \end{bmatrix} = 0 \iff 2z^2(y-x)+y^2 - x^2 = 0, \end{equation*}
ou seja, \((2z^2 + x+ y)(y-x)=0\text{,}\) de modo que \(x=y\) ou \(x+y+2z^2=0\text{.}\) Vamos analisar estes dois casos.
  • Caso 1 \(x=y\text{.}\) Substituindo isso nas outras duas equações temos
    \begin{equation*} \begin{cases} 2x^2 - z^2 &= 1,\\ 2(x-1)^2 + z^2 &= 1. \end{cases} \end{equation*}
    Somando estas equações, concluímos que
    \begin{equation*} x^2 - x = 0 \implies x = 0\; \text{ou}\; x = 1. \end{equation*}
    Se \(x=0\text{,}\) então \(y=0\) e \(z^2 + 1 = 0\text{,}\) um absurdo. Se \(x=1\text{,}\) então \(y=1\) e
    \begin{equation*} z^2 = 1 \implies z = \pm 1. \end{equation*}
    Isto nos dá os candidatos \((1,1,1)\) e \((1,1,-1)\text{.}\)
  • Caso 2 \(2z^2+x+y=0\text{.}\) Somando as duas últimas equações obtemos \(x^2+y^2=x+y\) que, junto com a hipótese desse caso, prodduz \(x^2+y^2+2z^2=0\text{,}\) ou seja, \((x,y,z)=(0,0,0)\text{.}\) Este ponto não atende às restrições do problema (duas últimas equações do sistema de Lagrange).
Com isso, os únicos candidatos são \((1,1,1)\) e \((1,1,-1)\text{,}\) onde \(f(1,1,1)=(1+1)\cdot 1=2\) é valor máximo e \(f(1,1,-1)=(1+1)\cdot (-1)=-2\) é o valor mínimo.
Observamos que o problema poderia ser resolvido parametrizando-se a curva \(C\) e analisando a derivada de sua composta com a função \(f\text{.}\)