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MAT–2454: Soluções de Exercícios e de Provas

Seção 2.3 Terceira Prova

Exercícios Exercícios

1.

Considere a superfície \(S\) em \(\R^3\) dada pela equação \(z^3+x^3+yz+xy^3=0\) e uma função qualquer \(f\colon\R^2\to\R\) diferenciável tal que \(\nabla f(1,0)=(3,1)\text{.}\) Sabendo-se que a interseção de \(S\) com o gráfico de \(f\) define uma curva \(\gamma\colon I\to\R^3\text{,}\) diferenciável e contendo o ponto \(P=(1,0,-1)\text{,}\) determine a equação da reta tangente a \(\gamma\) em \(P\text{.}\)
Resposta.
\(r\colon (x,y,z)=(1,0,-1)+\lambda (-2,12,6)\text{,}\) \(\lambda\in\R\text{.}\)
Solução.
Sabemos que, na condições do enunciado o vetor que dá a direção tangente à curva é paralelo ao produto vetorial do vetor normal a \(S\) com o vetor normal ao gráfico de \(f\text{,}\) ambos calculados no ponto de tangência \(P\text{.}\)
O primeiro destes vetores pode ser obtido enxergando \(S\) como a superfície de nível \(0\) da função \(g(x,y,z)=z^3+x^3+yz+xy^3\text{.}\) Desta forma o vetor normal a \(S\) em cada um de seus pontos é é o gradiente de \(g\text{,}\) \(\nabla g(x,y,z)=(3x^2+y^3,3xy^2+z,3z^2+y)\text{.}\) Em \(P\) isso dá \(\boxed{\nabla g(1,0,-1)=(3,-1,3)}\text{.}\)
O segundo vetor é obtido diretamente do que foi estudado na parte anterior do curso: \(n_f(x,y)=\big(f_x(x,y),f_y(x,y),-1\big)\text{.}\) Como \(P\in\mathrm{Gr}\, f\text{,}\) vamos usar \((x,y)=(1,0)\text{,}\) donde até sabemos que \(f(1,0)=-1\text{,}\) mas não usamos aqui). Desta forma temos, \(\boxed{n_f(1,0)=(3,1,-1)}\text{.}\)
O vetor diretor da reta pedida é então
\begin{equation*} v=\nabla g(1,0,-1)\times n_f(1,0)= (3,-1,3)\times (3,1,-1)=(-2,12,6). \end{equation*}
E a equação da reta pedida é
\begin{equation*} r\colon (x,y,z)=(1,0,-1)+\lambda (-2,12,6),\quad\lambda\in\R. \end{equation*}

2.

Seja \(f\colon\R^2\to\R\) dada por \(f(x,y)=x^2y(x-2)(y-4)\text{.}\) Sabe-se que
\begin{equation*} \dfrac{\partial f}{\partial x}(x,y)=xy(3x-4)(y-4)\quad\text{e}\quad \dfrac{\partial f}{\partial y}(x,y)=2x^2(x-2)(y-2). \end{equation*}
Além disso, também sabe-se que
\begin{align*} \dfrac{\partial^2 f}{\partial x^2}(x,y)&=(6x-4)(y-4)y,\\ \dfrac{\partial^2 f}{\partial y\partial x}(x,y)&=x(3x-4)(2y-4)\text{ e }\\ \dfrac{\partial^2 f}{\partial y^2}(x,y)&=2x^2(x-2). \end{align*}
Usando essas informações,
  1. determine todos os pontos críticos de \(f\text{;}\)
  2. monte a matriz hessiana de \(f\) e classifique os pontos críticos de \(f\) nos quais o determinante dessa matriz não se anula;
  3. classifique o ponto crítico \((0,0)\text{.}\)
Dica.
Use o critério da matriz Hessiana quando for possível. Quando não for possível, examine a expressão da função ao longo de caminhos passando pelo ponto em análise.
Resposta.
  1. \((0,y)\text{,}\) com \(y\in\R\text{;}\) \(\big(\frac{4}{3},2\big)\text{;}\) \((2,0)\text{;}\) \((2,4)\text{.}\)
  2. Veja solução abaixo.
  3. \((0,0)\) é um ponto crítico que não é máximo local nem mínimo local.
Solução.
  1. Seguimos aqui o roteiro da Seção A.8. Para determinar os pontos críticos de \(f\text{,}\) procuramos os pontos onde \(\nabla f(x,y)=(0,0)\text{,}\) ou seja, as soluções do sistema
    \begin{equation*} \begin{cases} xy(3x-4)(y-4)&=0\\ 2x^2(x-2)(y-2)&=0 \end{cases}\implies (x,y)\in\Big\{(0,y),\text{ com }y\in\R;\big(\frac{4}{3},2\big); (2,0); (2,4)\Big\}. \end{equation*}
  2. A matriz hessiana de \(f\) é dada por
    \begin{equation*} H_f(x,y)=\begin{bmatrix} (6x-4)(y-4)y& x(3x-4)(2y-4)\\ x(3x-4)(2y-4)& 2x^2(x-2)\end{bmatrix}, \end{equation*}
    a qual claramente se anula em todos os pontos da forma \((x,y)=(0,y)\) \(y\in\R\text{.}\)
    Resta então a análise nos três outros pontos
    • \(H_f\big(\frac{4}{3},2\big)=\begin{bmatrix} -16&0 \\ 0& -\frac{64}{27}\end{bmatrix}\text{,}\) que tem determinante positivo e primeira entrada negativa, logo este é um ponto de máximo local;
    • \(H_f\big(2,0\big)=\begin{bmatrix} 0&-16 \\ -16&0\end{bmatrix}\text{,}\) que tem determinante negativo, logo este é um ponto de sela;
    • \(H_f\big(2,4\big)=\begin{bmatrix} 0&16 \\ 16&0\end{bmatrix}\text{,}\) que tem determinante negativo, logo este também é um ponto de sela;
  3. Basta analisar \(g(t)=f(t,t)=t^3(t-2)(t-4)\text{:}\) \(g(0)=f(0,0)=0\) e, para \(0<t<2\text{,}\) temos \(g(t)> 0\) enquanto que, para \(t<0\text{,}\) temos \(g(t)< 0\text{.}\) Isso mostra que \((0,0)\) é um ponto crítico que não é máximo local nem mínimo local de \(f\text{.}\)
Veja o gráfico de \(f\) e seus pontos críticos isolados:
Figura 2.3.1. Gráfico de função não derivável e candidato a plano tangente

3.

Sejam \(D=\big\{(x,y)\in\R^2\colon x^2+y^2\leq 2, x\geq 0; y\leq 0\big\}\) e \(f\colon D\to \R\) dada por \(f(x,y)=xye^{-x^2-y^2}\text{.}\) Justifique a existência dos pontos onde \(f\) assume o maior e o menor valor. Determine tais pontos.
Dica.
Há pontos no interior? Podemos usar multiplicadores de Lagrange?
Resposta.
Os pontos de máximo global são os de \(D\) que estão sobre os eixos coordenados e o de mínimo local é \(\big(\frac{\sqrt{2}}{2},-\frac{\sqrt{2}}{2}\big)\text{.}\)
Solução.
O conjunto \(D\text{,}\) indicado na figura abaixo, é um compacto (fechado e limitado) e a função \(f\) é contínua em \(D\text{.}\) Pelo teorema de Weierstrass, sabemos que existem pontos de máximo e mínimo globais de \(f\) em \(D\text{.}\)
Figura 2.3.2. O conjunto \(D\text{.}\)
Para determinar os pontos pedidos, precisamos decompor a região em seu interior, dado pelas inequações \(x^2+y^2<2\text{,}\) \(x>0\) e \(y<0\text{,}\) e a fronteira, dada por \(x^2+y^2=2\text{,}\) \((x,0),0\leq x\leq\sqrt{2}\) e \((0,y), -\sqrt{2}\leq y\leq 0\text{.}\)
No interior os candidatos são aqueles onde \(\nabla f(x,y)=(0,0)\text{,}\) ou seja,
\begin{equation*} \begin{cases} y(2x^2-1)&=0\\ x(2y^2-1)&=0 \end{cases}\implies (x,y)=\big(\frac{\sqrt{2}}{2},-\frac{\sqrt{2}}{2}\big), \end{equation*}
pois as demais soluções do sistema não estão no interior de \(D\text{.}\) Aqui temos \(\boxed{f\big(\frac{\sqrt{2}}{2},-\frac{\sqrt{2}}{2}\big)=-\frac{1}{2e}}\text{.}\)
Na fronteira observamos incialmente que \(\boxed{f(x,0)=0}\) e \(\boxed{f(0,y)=0}\text{.}\) O arco de círculo poderia ser parametrizado e resolveríamos assim utilizando técnicas do cálculo diferencial para funções de uma variável. Vamos utilizar o método de Lagrange do Teorema A.9.5. A restrição aqui é a curva de nível \(0\) da função \(g(x,y)=x^2+y^2-2\text{,}\) considerando-se apenas seu quarto quadrante. Procuramos os pontos onde os gradientes de \(f\) e \(g\) são paralelos e que estão na curva de nível \(0\) de \(g\text{.}\) Algebricamente isso se traduz no sistema
\begin{equation*} \begin{cases} \det\begin{bmatrix} y(2x^2-1)&x(2y^2-1)\\ x& y \end{bmatrix}&=0\\ x^2+y^2-2&=0\end{cases}\iff \begin{cases} x^2-y^2&=0\\ x^2+y^2-2&=0\end{cases}, \end{equation*}
cuja única solução em \(D\) é \((x,y)=\big(1,-1\big)\text{.}\) O valor da função neste ponto é \(\boxed{f\big(1,-1\big)=-\dfrac{1}{e^2}}\text{.}\)
Comparando os valores em destaque temos
\begin{equation*} f\big(\frac{\sqrt{2}}{2},-\frac{\sqrt{2}}{2}\big)< f\big(1,-1\big)<f(x,0)=f(0,y), \end{equation*}
donde os pontos onde a função assume o maior valor são aquele em \(D\) que estão sobre os eixos coordenados e o de menor valor é o ponto \(\big(\frac{\sqrt{2}}{2},-\frac{\sqrt{2}}{2}\big)\text{.}\)
Não pode faltar a figura:
Figura 2.3.3. Gráfico de função não derivável e candidato a plano tangente

4.

Seja \(S\) a superfície de equação \(x^2+y^2+3z^2=21\text{.}\) Justifique a existência dos pontos \((x,y,z)\in S\) tais que a soma de suas coordenadas é máxima. Determine tais pontos.
Dica.
Uma função de três varíaveis para ser maximizada sobre um elipsoide. Sabemos exatamente o que fazer!
Resposta.
O ponto de \(S\) que tem soma das coordenadas máxima é \((3,3,1)\text{.}\)
Solução.
Queremos maximizar a função \(f(x,y,z)=x+y+z\text{,}\) que é contínua, sobre a superfície \(S\text{,}\) um elipsoide e portanto compacta. Pelo teorema de Weierstrass sabemos que o problema admite solução.
Para determiná-la, utilizamos a técnica dos multiplicadores de Lagrange, vista no Teorema A.9.7. Considerando \(S\) como a superfície de nível \(0\) da função \(g(x,y,z)=x^2+y^2+3z^2-21\text{,}\) procuramos por pontos de \(S\) onde os gradientes de \(f\text{,}\) \(\nabla f(x,y,z)=(1,1,1)\text{,}\) e de \(g\text{,}\) \(\nabla g(x,y,z)=(2x,2y,6z)\) são linearmente dependentes.
Isso equivale a ter \(\nabla f(x,y,z)\times \nabla g(x,y,z)=(0,0,0)\text{.}\) Mais explicitamente, como
\begin{equation*} \nabla f(x,y,z)\times \nabla g(x,y,z)=2(3z-y,x-3z,y-x), \end{equation*}
temos que resolver o sistema
\begin{equation*} \begin{cases} y&=3z\\ x&=3z\\ x&=y\\ x^2+y^2+3z^2-21&=0 \end{cases}\iff 21z^2=21\iff z=\pm1, \end{equation*}
e portanto as soluções são apenas \((x,y,z)=(3,3,1)\) e \((x,y,z)=(-3,-3,-1)\text{.}\)
Calculando os valores de \(f\) nesses pontos, temos
\begin{equation*} f(3,3,1)=7>-7=f(-3,-3,-1), \end{equation*}
donde concluimos que o ponto com soma máxima das coordenadas é \((3,3,1)\text{.}\)
Geometricamente, procuramos pelo ponto de \(S\) onde seu plano tangente é o mesmo que o de uma curva de nível de \(f\text{:}\)
Figura 2.3.4. Gráfico de função não derivável e candidato a plano tangente