1.
Considere a função \(f\colon\R^2\to\R\) dada por
\begin{equation*}
f(x,y)=
\begin{cases}
\dfrac{x^3-y^3}{x^2+y^2},&\text{ se } (x,y) \neq (0,0),\\
\hfill 0,&\text{ se } (x,y)=(0,0).
\end{cases}
\end{equation*}
- Decida se \(f\) é contínua em \((0,0)\text{.}\)
- Calcule as derivadas parciais de \(f\) em \((0,0)\text{.}\)
- Decida se \(f\) é diferenciável em \((0,0)\text{.}\)
- Calcule \(\dfrac{\partial f}{\partial \vec{u}}(0,0)\) sendo \(\vec{u} =(a,b)\) um vetor unitário.
Resposta.
- Sim, é contínua em \((0,0)\text{;}\)
- \(f_x(0,0)=1\) e \(f_y(0,0)=-1\text{.}\)
- Não é diferenciável em \((0,0)\text{.}\)
- \(\dfrac{\partial f}{\partial \vec{u}}(0,0)=a^3-b^3\text{.}\)
Solução.
Resolveremos cada item usando as definições.
- Basta usar o Teorema A.3.10 e verificar que\begin{align*} \lim_{(x,y) \to (0,0)} f(x,y) &= \lim_{(x,y) \to (0,0)}\frac{x^3-y^3}{x^2+y^2}\\ &=\lim_{(x,y)\to (0,0)} \left( \underbrace{x}_{\to 0} \underbrace{\frac{x^2}{x^2+y^2}}_{\text{limitado}} - \underbrace{y}_{\to 0} \underbrace{\frac{y^2}{x^2+y^2}}_{\text{limitado}}\right)\\ &=0=f(0,0), \end{align*}para concluir que \(f\) é contínua em \((0,0)\text{.}\)
- O denominador da primeira expressão que define \(f\) se anula em \((0,0)\text{,}\) então não podemos usar as regras de derivação. Procedemos utilizando a Definição A.4.1:\begin{align*} f_x(0,0)=\dfrac{\partial f}{\partial x}(0,0) &= \lim_{t \to 0} \frac{f(t,0) -f(0,0)}{t} = \lim_{t \to 0} \frac{{t^3}/{t^2}}{t} = 1,\\ f_y(0,0)=\dfrac{\partial f}{\partial y}(0,0) &= \lim_{t \to 0} \frac{f(0,t) -f(0,0)}{t} = \lim_{t \to 0} \frac{{-t^3}/{t^2}}{t} = -1. \end{align*}
- Devemos determinar se o limite\begin{equation*} \lim_{(h,k)\to (0,0)} \frac{f(h,k)-f(0,0) - f_x(0,0)h - f_y(0,0)k}{\sqrt{h^2+k^2}} = \lim_{(h,k) \to (0,0)} \frac{h^2k - hk^2}{(h^2+k^2)^{3/2}} \end{equation*}existe e é igual a zero. Através da curva \(\alpha\colon\R\to\R^2\) dada por \(\alpha(t) = (-t,t)\text{,}\) este limite se torna\begin{equation*} \lim_{t \to 0} \frac{2t^3}{2t^2 \sqrt{2t^2}} = \lim_{t \to 0} \frac{t}{\sqrt{2}|t|}, \end{equation*}que não existe (os limites laterais não coincidem). Isso implica que o limite original também não existe e, portanto, \(f\) não é diferenciável em \((0,0)\text{.}\)
- Dado \(\vec{u}=(a,b)\) unitário, temos\begin{equation*} \dfrac{\partial f}{\partial \vec{u}}(0,0) = \lim_{t \to 0} \frac{f(ta,tb) -f(0,0)}{t} = \lim_{t \to 0} \frac{1}{t}\frac{t^3(a^3-b^3)}{t^2(a^2+b^2)} = a^3 - b^3, \end{equation*}pois \(a^2+b^2 = 1\text{.}\) Convém observar que não podemos simplesmente tomar o produto interno do gradiente de \(f\) em \((0,0)\) pelo vetor \(\vec{u}\) porque \(f\) não é diferenciável em \((0,0)\text{!}\)
Apresentamos outra solução possível do item (c) usando os itens (b) e (d). Caso \(f\) fosse diferenciável em \((0,0)\text{,}\) teríamos
\begin{equation*}
\frac{\partial f}{\partial
\vec{u}}(0,0) = \big\langle \nabla f(0,0), \vec{u}\big\rangle =
\big\langle (1,-1), (a,b)\big\rangle= a-b.
\end{equation*}
Assim, para provar que \(f\) não é diferenciável é suficiente exibir um vetor unitário \(\vec{u}=(a,b)\) tal que \(a^3 - b^3 \neq a
- b\) como, por exemplo, \(\vec{u} = \Big(
\dfrac{\sqrt{2}}{2}, -\dfrac{\sqrt{2}}{2}\Big)\) (verifique).