Ir ao conteúdo principal
Logo image

MAT–2454: Soluções de Exercícios e de Provas

Seção 1.11 Máximos e mínimos em conjuntos compactos

Exercícios Exercícios

3.b.

Determine o valor máximo e o valor mínimo de \(f(x,y,z) = x^2 + y^2 +2z^2 -4xy -4z + 3x\) na região \(R = \big\{(x,y,z) \in \R^3\colon x+y+z \leq 4, x\geq 0, y\geq 0\text{ e } z\geq0\big\}\text{.}\)
Dica.
Divida a análise em três etapas: no interior de \(R\text{,}\) nas faces de \(R\) (excluídas as arestas) e nas arestas (atenção aos vértices!).
Resposta.
O valor máximo de \(f\) é \(28\) e o valor mínimo de \(f\) é \(-\dfrac{11}{4}\text{.}\)
Solução.
Note que \(f\) é contínua e \(R\) é um tetraedro sólido, fechado e limitado, portanto compacto. Deste modo o Teorema de Weierstrass (Teorema A.9.2) assegura que o problema proposto tem solução.
A análise será dividida em três etapas: encontraremos os candidatos no interior de \(R\text{,}\) no "interior" das faces de \(R\) (isto é, as faces com as arestas excluídas) e, finalmente, nas arestas de \(R\text{.}\) O motivo dessa análise "excluindo" essas "fronteiras", fica claro ao estudar a demonstração dos teoremas finais da Seção A.9 (Teorema A.9.7 e Teorema A.9.9).
Ao trabalho:
  • Candidatos no interior de \(R\text{:}\) o interior de \(R\) é o conjunto (aberto)
    \begin{equation*} \text{int}(R) = \big\{(x,y,z) \in \R^3\colon x+y+z < 4, x> 0, y> 0\text{ e } z> 0\big\}. \end{equation*}
    Neste caso, usamos a versão para três variáveis (totalmente análoga) do Teorema A.8.4, concluindo que os candidatos são os pontos críticos de \(f\) neste conjunto. Como
    \begin{equation*} \nabla f(x,y,z) = (2x-4y+3, 2y-4x, 4z-4), \end{equation*}
    o único ponto crítico é \(\big(\dfrac{1}{2}, 1, 1\big)\text{.}\) Note que este ponto pertence a int\((R)\text{.}\)
  • Candidatos nas faces (excluídas as arestas): procuramos os candidatos nos conjuntos
    \begin{align*} F_1 &= \big\{(x,y,z) \in \R^3\colon x+y+z = 4, x>0, y>0\text{ e } z>0\big\},\\ F_2 &= \big\{(x,y,z) \in \R^3\colon x+y+z < 4, x= 0, y> 0\text{ e } z> 0\big\},\\ F_3 &= \big\{(x,y,z) \in \R^3\colon x+y+z < 4, x> 0, y= 0\text{ e } z> 0\big\},\\ F_4 &= \big\{(x,y,z) \in \R^3\colon x+y+z < 4, x> 0, y> 0\text{ e } z= 0\big\}. \end{align*}
    São as faces de \(R\text{,}\) excluídas as arestas. Em cada face, vamos "eliminar" uma das variáveis e reduzir o problema ao estudo de funções de duas variáveis em abertos de \(\R^2\text{.}\) Outra abordagem possível seria usar o Método dos Multiplicadores de Lagrange (Teorema A.9.7), o qual foi utilizado no Exercício 1.12.5.
    Na face \(F_1\text{,}\) podemos escrever \(z = 4 - x - y\) e estudar a função
    \begin{equation*} g_1(x,y) = f(x,y,4-x-y) = 3x^2 + 3y^2 -9x -12y +16 \end{equation*}
    no aberto
    \begin{equation*} U_1 = \big\{ (x,y) \in \R^2\colon x+ y<4, x >0\text{ e } y>0\big\}. \end{equation*}
    Como
    \begin{equation*} \nabla g_1(x,y) = (6x-9, 6y-12), \end{equation*}
    o ponto \(\Big( \dfrac{3}{2}, 2\Big) \in U_1\) é o único ponto crítico de \(g_1\text{.}\) Este ponto corresponde ao candidato \(\Big( \dfrac{3}{2}, 2, \dfrac{1}{2}\Big) \in F_1\text{.}\)
    Na face \(F_2\text{,}\) temos \(x=0\) e estudamos a função
    \begin{equation*} g_2(y,z) = f(0,y,z) = y^2 + 2z^2 -4z \end{equation*}
    no aberto
    \begin{equation*} U_2 = \big\{ (y,z) \in \R^2\colon y+z < 4, y > 0\text{ e } z>0\big\}. \end{equation*}
    Como
    \begin{equation*} \nabla g_2(y,z) = (2y,4z-4), \end{equation*}
    o único ponto crítico de \(g_2\) é \((0,1)\text{,}\) que não pertence a \(U_2\text{.}\) Deste modo, não há candidatos em \(F_2\text{.}\)
    Em \(F_3\text{,}\) obtemos a função
    \begin{equation*} g_3(x,z) = f(x,0,z) = x^2 + 2z^2 -4z + 3x \end{equation*}
    no aberto
    \begin{equation*} U_3 = \big\{ (x,z) \in \R^2\colon x+z < 4, x > 0\text{ e } z>0\big\}. \end{equation*}
    O gradiente de \(g_3\)
    \begin{equation*} \nabla g_3(x,z) = (2x+3,4z-4) \end{equation*}
    se anula apenas no ponto \(\Big( -\dfrac{3}{2}, 1\Big)\text{,}\) que não pertence a \(U_3\text{.}\) Também não temos candidatos em \(F_3\text{.}\)
    Finalmente, em \(F_4\text{,}\) analisamos
    \begin{equation*} g_4(x,y)=f(x,y,0) = x^2 + y^2 -4xy+3x \end{equation*}
    no aberto
    \begin{equation*} U_4 = \big\{(x,y)\in\R^2\colon x+y < 4, x>0\text{ e }y> 0\big\}=U_1. \end{equation*}
    Como
    \begin{equation*} \nabla g_4(x,y) = (2x-4y+3, 2y-4x), \end{equation*}
    o único ponto crítico de \(g_4\) é o ponto \(\Big(\dfrac{1}{2},1\Big) \in U_4\text{,}\) que corresponde ao candidato \(\Big( \dfrac{1}{2}, 1, 0\Big) \in F_4\text{.}\)
    Isto completa a busca dos candidatos nas faces de \(R\text{.}\)
  • Candidatos nas arestas de \(R\text{:}\) as arestas de \(R\) são os segmentos de reta
    \begin{align*} A_1 &= \big\{(x,y,z) \in \R^3\colon y=z=0\text{ e } 0 \leq x \leq 4\big\},\\ A_2 &= \big\{(x,y,z) \in \R^3\colon x=z=0\text{ e } 0 \leq y \leq 4\big\},\\ A_3 &= \big\{(x,y,z) \in \R^3\colon x=y=0\text{ e } 0 \leq z \leq 4\big\},\\ A_4 &= \{(x,y,z) \in \R^3\colon z=0\text{ e } x+y=4\big\},\\ A_5 &= \{(x,y,z) \in \R^3\colon y=0\text{ e } x+z=4\big\},\\ A_6 &= \{(x,y,z) \in \R^3\colon x=0\text{ e } y+z=4\big\}. \end{align*}
    A estratégia é parametrizar cada aresta a estudar a composta de \(f\) com as parametrizações. Poderíamos aqui aplicar o Método dos Multiplicadores de Lagrange (Teorema A.9.9), como fizemos no Exercício 1.11.4.b.
    Em \(A_1\text{,}\) consideramos
    \begin{equation*} h_1(x) = f(x,0,0) = x^2 + 3x, x \in [0,4]. \end{equation*}
    A derivada de \(h_1\) se anula somente em \(x=-\frac{3}{2}\text{,}\) de modo que não há candidatos em \(]0,4[\text{.}\) Ficamos apenas com \(x=0\) e \(x=4\text{,}\) que correspondem aos vértices \((0,0,0)\) e \((4,0,0)\) de \(R\text{.}\)
    Em \(A_2\text{,}\) estudamos
    \begin{equation*} h_2(y) = f(0,y,0) = y^2, y \in [0,4]. \end{equation*}
    Como \(h_2\) é estritamente crescente, os candidatos são \(y=0\) e \(y=4\text{,}\) que correspondem aos vértices \((0,0,0)\) e \((0,4,0)\text{.}\)
    Em \(A_3\text{,}\) obtemos
    \begin{equation*} h_3(z) = 2z^2 -4z, z \in [0,4], \end{equation*}
    cuja derivada se anula em \(z=1\text{.}\) Os candidatos são \(z=0\text{,}\) \(z=1\) e \(z=4\text{,}\) que correspondem, respectivamente, a \((0,0,0)\text{,}\) \((0,0,1)\) e \((0,0,4)\text{.}\)
    Em \(A_4\text{,}\) podemos escrever \(y=4-x\) para obter
    \begin{equation*} h_4(x) = f(x,4-x,0) = 6x^2 -21x + 16, x \in [0,4]. \end{equation*}
    O único ponto crítico de \(h_4\) é \(x=\dfrac{7}{4} \in ]0,4[\text{.}\) Os candidatos são \(x=0\text{,}\) \(x= \dfrac{7}{4}\) e \(x=4\text{,}\) que correspondem a \((0,4,0)\text{,}\) \(\Big(\dfrac{7}{4}, \dfrac{9}{4}, 0\Big)\) e \((4, 0, 0)\text{.}\)
    Em \(A_5\text{,}\) fazemos \(z=4-x\) e estudamos
    \begin{equation*} h_5(x) = f(x,0,4-x) = 3x^2 -9x+16, x \in [0,4]. \end{equation*}
    O único ponto crítico de \(h_5\) é \(x=\dfrac{3}{2} \in ]0,4[\text{.}\) Os candidatos são \(x=0\text{,}\) \(x= \dfrac{3}{2}\) e \(x=4\text{,}\) que correspondem a \((0,0,4)\text{,}\) \(\Big( \dfrac{3}{2},0, \dfrac{5}{2}\Big)(4, 0, 0)\text{.}\)
    Finalmente, em \(A_6\text{,}\) escrevemos \(z=4-y\) e
    \begin{equation*} h_6(y) = f(0,y,4-y) = 3y^2 -12y+16, y \in [0,4]. \end{equation*}
    O único ponto crítico de \(h_6\) é \(y=2\in ]0,4[\text{.}\) Os candidatos são \(y=0\text{,}\) \(y= 2\) e \(y=4\text{,}\) que correspondem a \((0,0,4)\text{,}\) \((0, 2,2)\) e \((0, 4, 0)\text{.}\)
  • Avaliando \(f\) em cada candidato: só resta calcular \(f\) nos pontos encontrados nas etapas anteriores e comparar os valores. Confira as contas!
    \begin{align*} f( 1/2, 1, 1) &= -5/4\\ f( {3}/{2}, 2,{1}/{2}) &= -{11}/{4}\\ f( {1}/{2}, 1, 0) &= {3}/{4}\\ f\left( 0,0,0\right) &= 0\\ f\left(4, 0, 0\right) &= 28\\ f\left( 0,4,0\right) &= 16\\ f\left( 0,0,4 \right) &= 16\\ f\left( 0, 0, 1\right) &= -2\\ f\left( {7}/{4}, {9}/{4}, 0\right) &= -{19}/{8}\\ f\left( {3}/{2}, 0, {5}/{2}\right) &= {37}/{4}\\ f\left( 0, 2, 2\right) &= 4 \end{align*}
Logo, o maior valor de \(f\) em \(R\) é \(28\) e o menor valor é \(-\frac{11}{4}\text{.}\)

4.b.

Encontre os pontos de máximo e de mínimo de \(f(x,y,z) = x-z\) em \(C = \big\{(x,y,z) \in \R^3\colon x^2 + y^2 =z \text{ e } z=2y\big\}\text{,}\) sem parametrizar o conjunto \(C\text{.}\) Repita o exercício parametrizando \(C\text{.}\)
Dica.
Use o Método dos Multiplicadores de Lagrange para resolver sem parametrizar \(C\text{.}\)
Resposta.
O ponto de máximo de \(f\) em \(C\) é \(\big(\dfrac{1}{\sqrt{5}}, 1 - \dfrac{2}{\sqrt{5}}, 2 - \dfrac{4}{\sqrt{5}}\big)\text{.}\) O ponto de mínimo de \(f\) em \(C\) é \(\big( -\dfrac{1}{\sqrt{5}}, 1 + \dfrac{2}{\sqrt{5}}, 2 + \dfrac{4}{\sqrt{5}}\big)\text{.}\)
Solução.
Note que \(f\) é contínua e \(C\) é compacto, de modo que o Teorema de Weierstrass (veja Teorema A.9.2) assegura que o problema proposto tem solução.
  • Primeira solução: Usando o Método dos Multiplicadores de Lagrange.
    Nosso objetivo é encontrar os pontos de máximo e mínimo de \(f\) sujeita às condições \(x^2 + y^2 = z\) e \(z=2y\text{.}\) Consideremos as funções de classe \(\mathscr{C}^1\)
    \begin{equation*} g(x,y,z) = x^2 + y^2 - z \quad \text{e}\quad h(x,y,z) = 2y-z. \end{equation*}
    O conjunto \(C\) é a intersecção das superfícies de nível \(c=0\) de \(g\) e de \(h\text{.}\) Observamos primeiramente que os gradientes de \(g\) e \(h\text{,}\)
    \begin{equation*} \nabla g(x,y,z) = (2x,2y,-1), \quad \nabla h(x,y,z) = (0,2,-1), \end{equation*}
    são linearmente independentes em \(C\text{.}\) De fato, estes vetores são paralelos se, e somente se, \(x=0\) e \(y=1\text{,}\) e nenhum ponto da forma \((0,1,z)\) pode pertencer a \(C\) (por quê?). Deste modo, o Método dos Multiplicadores de Lagrange garante que os candidatos a pontos de máximo e mínimo de \(f\) são as soluções do sistema
    \begin{equation*} \begin{cases} \big\{\nabla f(x,y,z), \nabla g(x,y,z), \nabla h(x,y,z)\big\}\text{ é linearmente dependente},\\ x^2 + y^2 = z,\\ z=2y. \end{cases} \end{equation*}
    Como \(\nabla f(x,y,z) = (1,0,-1)\text{,}\) a primeira condição equivale a
    \begin{equation*} \det\begin{bmatrix} 1& 0 & -1\\ 2x & 2y & -1\\ 0 & 2 & -1 \end{bmatrix} = 0 \iff y = -2x+1. \end{equation*}
    Substituindo esta equação nas outras duas, obtemos \(z=-4x+2\) e \(x = \pm \frac{1}{\sqrt{5}}\text{.}\) Os candidatos são, portanto, os pontos
    \begin{equation*} \big( \sfrac{1}{\sqrt{5}}, 1 - \sfrac{2}{\sqrt{5}}, 2 - \sfrac{4}{\sqrt{5}}\big) \quad \text{e} \quad \big( -\dfrac{1}{\sqrt{5}}, 1 + \dfrac{2}{\sqrt{5}}, 2 + \dfrac{4}{\sqrt{5}}\big). \end{equation*}
    Como \(f\big( \dfrac{1}{\sqrt{5}}, 1 - \dfrac{2}{\sqrt{5}}, 2 - \dfrac{4}{\sqrt{5}}\big) = \sqrt{5}-2\) e \(f\big( -\dfrac{1}{\sqrt{5}}, 1 + \dfrac{2}{\sqrt{5}}, 2 + \dfrac{4}{\sqrt{5}}\big) = -\sqrt{5} -2\text{,}\) tratam-se, respectivamente, do ponto de máximo e do ponto de mínimo de \(f\) em \(C\text{.}\)
  • Segunda solução: Parametrizando o conjunto \(C\text{.}\)
    Escrevendo \(z = x^2 + y^2 = 2y\) e completando quadrados, obtemos \(x^2 + (y-1)^2 = 1\text{.}\) Assim, uma parametrização de \(C\) é \(\gamma\colon [0,2\pi]\to\R^3\) dada por
    \begin{equation*} \gamma(t) = (\cos t, \sin t + 1, 2\sin t + 2). \end{equation*}
    Desejamos encontrar os pontos de máximo e mínimo da composta
    \begin{equation*} g(t) = f(\gamma(t)) = \cos t - 2\sin t -2, \end{equation*}
    no intervalo \([0,2\pi]\) (um problema de Cálculo I). Os candidatos são os pontos críticos de \(g\) no intervalo \(]0, 2\pi[\) e os extremos \(t=0, t=2\pi\text{.}\) Como
    \begin{equation*} g'(t) = -\sin t -2 \cos t = 0 \iff \sin t = -2 \cos t, \end{equation*}
    os pontos críticos de \(g\) são as soluções (no intervalo \(]0, 2\pi[\)) da equação
    \begin{equation*} \cos^2 t = 1 - \sin^2 t = 1 - 4 \cos^2 t \iff \cos t = \pm \dfrac{1}{\sqrt{5}}. \end{equation*}
    Para \(\cos t = \dfrac{1}{\sqrt{5}}\text{,}\) temos \(\sin t = -\dfrac{2}{\sqrt{5}}\text{,}\) que corresponde ao ponto \(\big( \dfrac{1}{\sqrt{5}}, 1 - \dfrac{2}{\sqrt{5}}, 2 - \dfrac{4}{\sqrt{5}}\big) \in C\text{.}\) Analogamente, \(\cos t = -\dfrac{1}{\sqrt{5}}\) corresponde ao ponto \(\big( -\dfrac{1}{\sqrt{5}}, 1 + \dfrac{2}{\sqrt{5}}, 2 + \dfrac{4}{\sqrt{5}}\big) \in C\text{.}\) O outro candidato é o ponto \(\gamma(0) = \gamma(2\pi) = (1,1,2) \in C\text{,}\) no qual \(f\) atinge o valor \(-1\text{.}\)