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MAT–2454: Soluções de Exercícios e de Provas

Seção 3.1 Primeira Prova

Exercícios Exercícios

1.

Seja \(f\colon[0,\infty[\to\R\) dada por \(f(x)=\sqrt{x}\text{.}\)
  1. Determine o polinômio de Taylor de ordem \(3\) de \(f\) em torno de \(x_0=4\text{.}\)
  2. Use o item anterior para obter uma aproximação, na forma de fração irredutível, de \(\sqrt{4,8}\text{.}\) Mostre também que o erro cometido nesta aproximação é inferior, em módulo, a \(1,25\cdot 10^{-4}\text{.}\)
Resposta.
  1. \(\dfrac{2191}{1000}\text{.}\)
  2. Veja a solução.
Solução.
  1. As derivadas de \(f\) até quarta ordem são
    \begin{equation*} f'(x)=\dfrac{1}{2x^{1/2}},\quad f''(x)=-\dfrac{1}{4x^{3/2}}, % \quad f'''(x)=\dfrac{3}{8x^{5/2}}\quad\text{e}\quad f^{(4)}(x)=-\dfrac{15}{16x^{7/2}}, \end{equation*}
    para todo \(x>0\text{.}\) Assim, o polinômio de Taylor de ordem \(3\) para \(f\) em torno de \(x_0=4\) é
    \begin{align*} P_3(x)&=f(4)+f'(4)(x-4)+\dfrac{f''(4)}{2!}(x-4)^2+ \dfrac{f'''(4)}{3!}(x-4)^3\\ &=2+\dfrac{x-4}{4}-\dfrac{(x-4)^2}{64}+\frac{(x-4)^3}{512}. \end{align*}
  2. Usando \(P_3\text{,}\) obtemos
    \begin{equation*} P_3(4,8)=2+\dfrac{0,8}{4}-\dfrac{0,64}{64}+\dfrac{0,512}{512} =2+\dfrac{2}{10}-\dfrac{1}{100}+\frac{1}{1000}=\dfrac{2191}{1000}. \end{equation*}
    Para estimar, em módulo, o erro cometido nesta aproximação, lembramos que
    \begin{equation*} E_3(4,8)=\Big|\sqrt{4,8}-P_3(4,8)\Big| =\dfrac{|f^{(4)}(c)|}{4!}(4,8-4)^4=\dfrac{2^4\cdot 10^{-3}}{c^{7/2}}, \end{equation*}
    para algum \(c\) tal que \(4<c<4,8\text{.}\) Com isso,
    \begin{equation*} 4<c\implies 2^7<c^{7/2}\implies\dfrac{1}{c^{7/2}}<\dfrac{1}{2^7}, \end{equation*}
    e então,
    \begin{equation*} \Big|\sqrt{4,8}-P_3(4,8)\Big|<\dfrac{2^4\cdot 10^{-3}}{2^7}=2^{-3}\cdot 10^{-3}=1,25\cdot 10^{-4}. \end{equation*}

2.

Considere a função \(f(x,y)=\dfrac{2x^2+2y^2-12}{x^2-y^2}\text{.}\)
  1. Esboce, no plano cartesiano abaixo, o domínio de \(f\text{,}\) indicando pontos que não pertençam ao seu domínio com linhas tracejadas. Determine as curvas de nível \(c=1\) e \(c=2\) de \(f\) e esboce suas imagens, também no plano abaixo.
    Plano para esboço das curvas.
    Figura 3.1.1. Desenhe aqui a restrição no domínio e as curvas de nível pedidas.
  2. Decida, justificando, se \(\lim\limits_{(x,y)\to(\sqrt{3},\sqrt{3})}f(x,y)\) existe.
Resposta.
  1. Veja a solução com a figura completa.
  2. Não existe.
Solução.
  1. O domínio de \(f\) é o conjunto
    \begin{equation*} D=\big\{(x,y)\in\R^2\colon x^2\neq y^2\big\}=\big\{(x,y)\in\R^2\colon |x|\neq |y|\big\}\text{,} \end{equation*}
    isto é, o complementar das bissetrizes \(y=x\) e \(y=-x\text{,}\) indicadas em vermelho tracejado na Figura 3.1.2.
    As curvas de nível pedidas são dadas, conforme a Definição A.2.1, respectivamente por
    • nível \(c=1\text{:}\) é o conjunto
      \begin{align*} f^{-1}(1)&=\big\{(x,y)\in D\colon f(x,y)=1\big\}\\ &= \big\{(x,y)\in D\colon 2x^2+2y^2-12=x^2-y^2\big\}\\ &= \Big\{(x,y)\in D\colon \Big(\frac{x}{2\sqrt{3}}\Big)^2 +\Big(\frac{y}{2}\Big)^2=1\Big\}, \end{align*}
      tratando-se da interseção de uma elipse com o domínio de \(f\text{,}\) esboçada em azul na Figura 3.1.2.
    • nível \(c=2\) é o conjunto
      \begin{align*} f^{-1}(2)&\big\{(x,y)\in D\colon f(x,y)=2\big\}\\ &=\big\{(x,y)\in D\colon 2x^2+2y^2-12=2x^2-2y^2\big\}\\ &=\big\{(x,y)\in D\colon y=\pm\sqrt{3}\big\}, \end{align*}
      que descreve um par de retas paralelas, removidas as intersecções com as bissetrizes (em laranja na figura Figura 3.1.2).
    Plano com o esboço das curvas.
    Figura 3.1.2. A restrição do domínio e as curvas de nível pedidas.
  2. De acordo com a figura, qualquer vizinhança do ponto \((\sqrt{3},\sqrt{3})\) contém pontos da curva de nível \(c=1\) de \(f\text{,}\) nos quais esta vale \(1\text{.}\) Da mesma forma, uma tal vizinhança contém pontos da curva de nível \(c=2\) de \(f\text{,}\) onde esta vale \(2\text{.}\) Deste modo, pelo Teorema A.3.8, o limite indicado não existe.

3.

Seja \(f\colon\R^2\to\R\) dada por \(f(x,y)= \begin{cases} \dfrac{x^3y}{x^2+y^2},&\text{ se $(x,y)\neq (0,0)$;}\\ \hfill 0,&\text{ se $(x,y)= (0,0)$}. \end{cases}\text{.}\)
  1. Decida se \(f\) é contínua em \((0,0)\text{.}\)
  2. Calcule \(\dfrac{\partial f}{\partial x}(0,0)\) e \(\dfrac{\partial f}{\partial y}(0,0)\text{.}\)
  3. A função \(f\) é diferenciável em \((0,0)\text{?}\)
Resposta.
  1. Sim, \(f\) é contínua em \((0,0)\text{.}\)
  2. \(\dfrac{\partial f}{\partial x}(0,0)=0\) e \(\dfrac{\partial f}{\partial y}(0,0)=0\text{.}\)
  3. Sim, \(f\) é diferenciável em \((0,0)\text{.}\)
Solução.
  1. Em vista do Teorema A.3.10, basta calcular
    \begin{equation*} \lim\limits_{(x,y)\to(0,0)} f(x,y) =\lim\limits_{(x,y)\to(0,0)}\dfrac{x^3y}{x^2+y^2} =\lim\limits_{(x,y)\to(0,0)}x^2\,\dfrac{xy}{x^2+y^2}\stackrel{(\ast)}{=}0=f(0,0). \end{equation*}
  2. Pela Definição A.4.1:
    \begin{align*} f_x(0,0)=\dfrac{\partial f}{\partial x}(0,0) &=\lim\limits_{h\to 0}\dfrac{f(0+h,0)-f(0,0)}{h}=\lim\limits_{h\to 0}\dfrac{0-0}{h}=0\\ f_y(0,0)=\dfrac{\partial f}{\partial y}(0,0) &=\lim\limits_{k\to 0}\dfrac{f(0,0+k)-f(0,0)}{k} =\lim\limits_{k\to 0}\dfrac{0-0}{k}=0 \end{align*}
  3. Agora, pela Definição A.4.7:
    \begin{align*} \lim\limits_{(h,k)\to(0,0)}&\dfrac{f(0+h,0+k)-f(0,0) -f_x(0,0)h-f_y(0,0)k}{\sqrt{h^2+k^2}}\\ &=\lim\limits_{(h,k)\to(0,0)} \dfrac{h^3k}{(h^2+k^2)\sqrt{h^2+k^2}}=0, \end{align*}
    pois \(h\to0\text{,}\) enquanto que \(\dfrac{h^2}{h^2+k^2}\) e \(\dfrac{k}{\sqrt{h^2+k^2}}\) são ambos limitados.
Nota 3.1.3.
  • Em \((*)\text{,}\) o limite vale \(0\) pois é um produto de um fator limitado com um que tende a zero (Teorema A.3.4). A limitação do primeiro fator é feita em Figura A.3.6 aos 4m18s.
  • A primeira limitação utilizada no último está feita aos 2m06s da Figura A.3.6. Já a segunda se verifica assim: para todo \((x,y)\neq (0,0)\text{,}\) temos
    \begin{equation*} |y|=\sqrt{y^2}\leq \sqrt{x^2+y^2}\implies \left|\dfrac{y}{\sqrt{x^2+y^2}}\right|\leq 1\implies -1\leq \dfrac{y}{\sqrt{x^2+y^2}}\leq 1. \end{equation*}

4.

Seja \(f\colon\R^2\to\R\) dada por \(f(x,y)=x\sqrt{x^4+y^2}\text{.}\) Decida se \(f\) admite plano tangente ao seu gráfico no ponto \(\big(0,0,f(0,0)\big)\) e, em caso afirmativo, escreva a equação deste plano.
Resposta.
Sim, a função admite plano tangente no ponto, dado por \(\pi\colon z=0\text{.}\)
Solução.
Para garantir a existência do plano tangente, precisamos mostrar que \(f\) é diferenciável no ponto \((0,0)\text{.}\) Isso pode ser feito de duas maneiras: verificando que \(f\) é diferenciável em \((0,0)\) diretamente pela Definição A.4.1 ou mostrando que \(f\) é de classe \(\mathscr{C}^1\) nesse ponto, conforme o Teorema A.4.10. Vamos resolver das duas formas e, em qualquer caso precisamos das derivadas parciais de \(f\) na origem.
Isso deve ser feito pela definição, uma vez que o termo do qual extraímos a raiz quadrada se anula. Usando que \(f(0,0)=0\text{,}\) temos
\begin{align} f_x(0,0) &=\lim\limits_{h\to 0}\dfrac{f(0+h,0)-f(0,0)}{h} =\lim\limits_{h\to 0}\dfrac{h\sqrt{h^4+0^2}-0}{h} =\lim\limits_{h\to 0}h^2=0;\tag{3.1.1}\\ f_y(0,0) &=\lim\limits_{k\to 0}\dfrac{f(0,0+k)-f(0,0)}{k} =\lim\limits_{k\to 0}\dfrac{0\sqrt{0^4+k^2}-0}{k} =\lim\limits_{k\to 0}0 =0.\tag{3.1.2} \end{align}
Cada uma das possibilidades mencionadas:
  • diferenciabilidade de \(f\) em \((0,0)\text{:}\) resume-se a verificar que
    \begin{align*} \lim\limits_{(h,k)\to(0,0)}&\dfrac{f(0+h,0+k)-f(0,0) -f_x(0,0)h-f_y(0,0)k}{\sqrt{h^2+k^2}}\\ &=\lim\limits_{(h,k)\to(0,0)} \dfrac{h}{\sqrt{h^2+k^2}}\sqrt{h^4+k^2}=0, \end{align*}
    pois \(\dfrac{h}{\sqrt{h^2+k^2}}\) é limitado (veja em 2m06s da Figura A.3.6) e \(\lim\limits_{(h,k)\to(0,0)}\sqrt{h^4+k^2}=0\text{.}\)
  • \(f\) é de classe \(\mathscr{C}^1\) em \((0,0)\text{:}\) precisamos mostrar que \(\lim\limits_{(x,y)\to(0,0)}f_x(x,y)=f_x(0,0)\) e \(\lim\limits_{(x,y)\to(0,0)}f_y(x,y)=f_x(0,0)\text{.}\) Se \((x,y)\neq (0,0)\text{,}\) então \(f\) é dada pela composta, soma e produto de funções deriváveis de \(x\) e de \(y\) separadamente. Usando as regras de derivação, temos
    \begin{align} f_x(x,y)&=\sqrt{x^4+y^2}+\dfrac{2x^4}{\sqrt{x^4+y^2}};\tag{3.1.3}\\ f_y(x,y)&=\dfrac{xy}{\sqrt{x^4+y^2}}\tag{3.1.4} \end{align}
    Finalmente, com as expressões acima e os valores obtidos em (3.1.1) e (3.1.2), temos
    \begin{align*} \lim\limits_{(x,y)\to(0,0)}f_x(x,y) &=\lim\limits_{(x,y)\to(0,0)}\sqrt{x^4+y^2}+\dfrac{2x^4}{\sqrt{x^4+y^2}}\\ &=\lim\limits_{(x,y)\to(0,0)}\sqrt{x^4+y^2}+\lim\limits_{(x,y)\to(0,0)}2x^2\,\dfrac{x^2}{\sqrt{x^4+y^2}}\\ &\stackrel{(*)}=0+0=0=f_x(0,0);\\ \lim\limits_{(x,y)\to(0,0)}f_y(x,y) &=\lim\limits_{(x,y)\to(0,0)}\dfrac{xy}{\sqrt{x^4+y^2}}\\ &=\lim\limits_{(x,y)\to(0,0)}x\,\dfrac{y}{\sqrt{x^4+y^2}}\stackrel{(\dagger)}{=}0=f_y(0,0). \end{align*}
Nota 3.1.4.
Para verificar as afirmações \((\ast)\) e \((\dagger)\text{,}\) usamos uma variante do argumento para a limitação feita aos 2m06s da Figura A.3.6, trocando \(x\) por \(x^2\) na primeira, por exemplo).