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MAT–2454: Soluções de Exercícios e de Provas

Seção 3.4 Prova de Recuperação

Exercícios Exercícios

1.

Considere a função \(f\colon\R^2\to\R\) dada por
\begin{equation*} f(x,y)= \begin{cases} \dfrac{x^{4/3}\sin(x^2)}{x^2+y^4},&\text{ se } (x,y) \neq (0,0),\\ \hfill 0,&\text{ se } (x,y)=(0,0). \end{cases} \end{equation*}
  1. Calcule as derivadas parciais de \(f\) em todos os pontos onde elas existirem.
  2. Decida se \(f\) é diferenciável em \((0,0)\text{.}\)
  3. Calcule \(\dfrac{\partial f}{\partial \vec{u}}(0,0)\) sendo \(\vec{u} =(a,b)\) um vetor unitário.
Resposta.
  1. \(f_x(x,y)= \begin{cases} 2\sqrt[3]{x}\dfrac{\Big(\frac{2}{3}\sin(x^2)+x^2\cos(x^2)\Big) (x^2+y^4)-x^2\sin(x^2)}{(x^2+y^4)^2},&\text{ se } (x,y) \neq (0,0),\\ \hfill 0,&\text{ se } (x,y)=(0,0). \end{cases}\) e \(f_y(x,y)= \begin{cases} \dfrac{x^{4/3}\sin(x^2)}{x^2+y^4},&\text{ se } (x,y) \neq (0,0),\\ \hfill 0,&\text{ se } (x,y)=(0,0). \end{cases}\text{.}\)
  2. É diferenciável em \((0,0)\text{.}\)
  3. \(\dfrac{\partial f}{\partial \vec{u}}(0,0)=0\text{.}\)
Solução.
  1. O denominador da primeira expressão que define \(f\) se anula em \((0,0)\text{,}\) então não podemos usar as regras de derivação. Temos dois casos a tratar:
    • \((x,y)\neq (0,0)\text{:}\) qualquer desses pontos admite uma vizinhança onde \(f\) é dada pelo quociente de duas funções diferenciáveis, com denominador não nulo. Podemos aplicar diretamente a regra do quociente para cada variável:
      \begin{align*} \dfrac{\partial f}{\partial x}(x,y)& =2\sqrt[3]{x}\dfrac{\Big(\frac{2}{3}\sin(x^2)+x^2\cos(x^2)\Big) (x^2+y^4)-x^2\sin(x^2)}{(x^2+y^4)^2}\\ \dfrac{\partial f}{\partial y}(x,y) &=-\dfrac{4x^{4/3}\sin(x^2)y^3}{(x^2+y^4)^2} \end{align*}
    • \((x,y)=(0,0)\text{:}\) não podemos aplicar a regra do quociente, utilizada no caso anterior. É preciso seguir pela Definição A.4.1:
      \begin{align*} \dfrac{\partial f}{\partial x}(0,0) & =\lim\limits_{h\to 0}\dfrac{f(0+h,0)-f(0,0)}{h}=\lim\limits_{h\to 0}\dfrac{\dfrac{h^{4/3}\sin(h^2)}{h^2+0^4}-0}{h}\\ &=\lim\limits_{h\to 0}\dfrac{\sin(h^2)}{h^{5/3}}=\lim\limits_{h\to 0}h^{1/3}\dfrac{\sin(h^2)}{h^2}=0.\\ \dfrac{\partial f}{\partial y}(0,0) & =\lim\limits_{k\to 0}\dfrac{f(0,0+k)-f(0,0)}{k}=\lim\limits_{h\to 0}\dfrac{\dfrac{0^{4/3}\sin(0^2)}{0^2+k^4}-0}{k}\\ &=\lim\limits_{k\to 0}\dfrac{0}{k}=0. \end{align*}
  2. Já que as derivadas parciais de \(f\) existem em \((0,0)\text{,}\) verificar sua diferenciabilidade nesse ponto requer o uso da definição, ou seja, verificar se existe e é nulo o limite
    \begin{align*} \lim\limits_{(h,k)\to(0,0)}&\dfrac{f(0+h,0+k)-\dfrac{\partial f}{\partial x}(0,0)h-f(0,0)-\dfrac{\partial f}{\partial y}(0,0)k}{\sqrt{h^2+k^2}}\\ &=\lim\limits_{(h,k)\to(0,0)}\dfrac{\dfrac{h^{4/3}\sin(h^2)}{h^2+k^4} -0-0\cdot h-0\cdot k}{\sqrt{h^2+k^2}}\\ &=\lim\limits_{(h,k)\to(0,0)}h^{1/3}\dfrac{h}{\sqrt{h^2+k^2}} \dfrac{\sin(h^2)}{h^2+k^4}\\ &=\lim\limits_{(h,k)\to(0,0)}h^{1/3}\dfrac{h}{\sqrt{h^2+k^2}} \dfrac{\sin(h^2)}{h^2}\dfrac{h^2}{h^2+k^4}=0, \end{align*}
    pois o primeiro fator na expressão acima tende a \(0\text{,}\) enquanto o terceito vai a \(1\) e o demais fatores são todos limitados.
    Com isso mostramos que \(f\) é diferenciável na origem.
    Nota 3.4.1.
    Outra opção seria tentar verificar a continuidade das derivadas parciais, mas atenção: caso isso não aconteça ainda assim a função pode ser diferenciável (e não de classe \(\mathscr{C}^1\)).
  3. Em vista do item acima podemos usar a Proposição A.6.17, obtendo
    \begin{equation*} \dfrac{\partial f}{\partial\vec{u}}(0,0)=\Big\langle\nabla f(0,0),\vec{u}\Big\rangle=\big\langle(0,0),(a,b)\rangle=0. \end{equation*}
    Caso nenhum dos itens anteriores fosse resolvido, poderíamos proceder pela Definição A.6.15:
    \begin{align} \dfrac{\partial f}{\partial\vec{u}}(0,0)&=\lim\limits_{t\to 0}\dfrac{f\big((0,0)+t(a,b)\big)-f(0,0)}{t}\notag\\ &=\lim\limits_{t\to 0}\dfrac{\dfrac{(at)^{4/3}\sin\big((at)^2\big)}{(at)^2+(bt)^4}}{t}\tag{†} \end{align}
    Se \(a=0\) então a expressão no limite acima é identicamente nula e temos \(\dfrac{\partial f}{\partial\vec{u}}(0,0)=0\text{.}\) Se \(a\neq 0\text{,}\) então podemos escrever (†) como
    \begin{align*} \dfrac{\partial f}{\partial\vec{u}}(0,0)&=\lim\limits_{t\to 0}\dfrac{1}{a^2+b^4t^2}\,\dfrac{\sin(at)^2}{(at)^2}\,\dfrac{(at)^{10/3}}{t^3}\\ &=\lim\limits_{t\to 0}\dfrac{1}{a^2+b^4t^2}\,\dfrac{\sin(at)^2}{(at)^2}\,a^{10/3}t^{1/3}=0, \end{align*}
    pois o primeiro fator tende a \(1/a^2\text{,}\) o segundo tende a \(1\) e o terceiro tende a \(0\text{.}\)

2.

Determine os pontos críticos de \(f(x,y)= 3x^2y+y^3-3x^2-3y^2+2\) e classifique-os. A função \(f\) tem ponto de máximo global? E mínimo global?
Resposta.
Os pontos críticos são \(P_1=(0,0)\) (ponto de máximo local), \(P_2=(0,2)\) (ponto de mínimo local), \(P_3=(1,1)\) (ponto de sela) e \(P_1=(-1,1)\) (ponto de sela).
Solução.
Os pontos críticos de \(f\) são, por definição, aqueles onde \(\nabla f(x,y)=(0,0)\text{.}\) Isso nos dá o seguinte sistema
\begin{equation*} \begin{cases} 6xy-6x\amp=0\\ 3x^2+3y^2-6y\amp=0. \end{cases}\iff \begin{cases} 6x(y-1)\amp=0\\ 3x^2+3y^2-6y\amp=0. \end{cases} \end{equation*}
Assim, temos dois casos a analisar:
  • \(x=0\text{:}\) na segunda equação isso diz que \(3y^2-6y=0\text{,}\) ou seja, \(y=0\) ou \(y=2\text{.}\) Temos então os pontos críticos \(\boxed{P_1=(0,0)}\) e \(\boxed{P_2=(0,2)}\text{.}\)
  • \(x\neq 0\text{:}\) na primeira equação isso diz que \(y=1\) o que, na segunda equação, dá \(3x^2=3\text{,}\) ou seja \(x=\pm 1\text{.}\) Aparecem mais dois pontos críticos: \(\boxed{P_3=(1,1)}\) e \(\boxed{P_4=(-1,1)}\text{.}\)
Para classificá-los, observamos que \(f\) é de classe \(\mathscr{C}^2\text{,}\) e portanto podemos considerar a matriz Hessiana de \(f\text{,}\) conforme o Teorema A.8.6:
\begin{equation*} H_f(x,y)= \begin{bmatrix} f_{xx}(x,y)\amp f_{xy}(x,y)\\ f_{yx}(x,y)\amp f_{yy}(x,y) \end{bmatrix}= \begin{bmatrix} 6y-6\amp 6x\\ 6x\amp 6y-6 \end{bmatrix}, \end{equation*}
cujo determinante é \(\det H_f(x,y)=36\big((y-1)^2-x^2\big)\text{.}\) Aplicando então o critério do Hessiano, temos
  • \(H_f(P_1)=36\gt 0\) e \(f_{xx}(P_1)=-6\lt 0\text{,}\) \(P_1\) é um ponto de máximo local.
  • \(H_f(P_2)=36\gt 0\) e \(f_{xx}(P_2)=6\gt 0\text{,}\) \(P_2\) é um ponto de mínimo local.
  • \(H_f(P_3)=-36\lt 0\text{,}\) \(P_3\) é um ponto de sela.
  • \(H_f(P_4)=-36\lt 0\text{,}\) \(P_4\) é um ponto de sela.
A função \(f\) não tem ponto de máximo global. De fato, olhando para a sua restrição de ao eixo \(Oy\text{,}\) \(f(0,y)=y^3-3y^2\) verificamos que \(\lim\limits_{y\to+\infty}f(0,y)=+\infty\text{.}\)
Ao longo do mesmo eixo temos que \(\lim\limits_{y\to-\infty}f(0,y)=-\infty\text{,}\) mostrando que \(f\) também não tem ponto de mínimo global.
Veja o gráfico da função e, em destaque, os pontos do gráfico correspondentes aos pontos críticos encontrados:
Figura 3.4.2. Gráfico "re-escalado" de \(f\)

3.

Sejam \(f\colon\R^2\to\R\) uma função diferenciável e \(g\colon\R^2\to\R\) dada por
\begin{equation*} g(x, y) = f (x^2 + 2y, x - y^2). \end{equation*}
  1. Sabendo que a direção de maior crescimento de \(f\) em \((5, -3)\) é a direção de \(\vec{v} = (1, 1)\text{,}\) determine a equação da reta normal a curva de nível de \(g\) passando por \((1, 2)\text{.}\)
  2. Item anulado. A nota obtida nas demais questões foi multiplicada por \(20/17\text{.}\)
Resposta.
\(r\colon (x,y)=(1,2)+\lambda (3,-2),\quad\lambda\in\R\)
Solução.
  1. A direção de crescimento máximo de uma função em cada ponto é sempre a direção do gradiente da função nesse ponto (veja Proposição A.6.20). Neste exercício, tal fato resume-se a dizer que \(\nabla f(5,-3)\) é paralelo a \(\vec{v}=(1,1)\text{.}\)
    Por outro lado, segue-se do Corolário A.6.8 que a reta normal à curva de nível de \(g\) que passa pelo ponto \((1,2)\) tem a direção de \(\nabla g(1,2)\text{.}\) Tendo o ponto e esta direção conseguimos construir a equação da reta pedida. Vamos determinar o gradiente de \(g\) em termos do gradiente de \(f\text{,}\) usando a Regra da Cadeia (Corolário A.6.12), pensando em \(f=f(u,v)\text{,}\) com \(u(x,y)=x^2+2y\) e \(v(x,y)=x-y^2\text{,}\) temos:
    \begin{align*} g_x(x,y)\amp =2xf_u(x^2+2y,x-y^2)+f_v(x^2+2y,x-y^2)\\ g_y(x,y)\amp =2f_u(x^2+2y,x-y^2)-2yf_v(x^2+2y,x-y^2). \end{align*}
    Fazendo \((x,y)=(1,2)\text{,}\) temos \((u,v)=(5,-3)\text{.}\) Além disso, a condição de paralelismo do primeiro parágrafo nos diz que \(f_u(5,-3)=f_v(5,-3)\text{.}\) Chamemos esse valor de \(a=f_u(5,-3)\text{.}\) Isto, nas equações acima, dá:
    \begin{align*} g_x(1,2)\amp =2f_u(5,-3)+f_v(5,-3)=3a\\ g_y(1,2)\amp =2f_u(5,-3)-4f_v(5,-3)=-2a. \end{align*}
    Assim, \(\nabla g(1,2)=(3a,-2a)\text{,}\) que é paralelo ao vetor \((3,-2)\text{.}\) Desta forma, a reta normal pedida é
    \begin{equation*} \boxed{r\colon (x,y)=(1,2)+\lambda (3,-2),\quad\lambda\in\R}. \end{equation*}
  2. Item anulado.

4.

Determine o maior volume que um paralelepípedo de faces paralelas aos planos coordenados e inscrito no elipsoide \(x^2+y^2 +4z^2 =1\) pode ter.
Dica.
Basta encontrar um vértice de tal paralelepípedo que os demais ficam determinados.
Resposta.
Os oito vértices do paralelepípedo são os pontos \(\Big(\pm\dfrac{\sqrt{3}}{3},\pm\dfrac{\sqrt{3}}{3}, \pm\dfrac{\sqrt{3}}{6}\Big)\text{,}\) e o volume máximo é \(V=\dfrac{\sqrt{3}}{12}\text{.}\)
Solução.
Vamos usar o Método dos Multiplicadores de Lagrange, com uma restrição (Teorema A.9.7). Outra opção, um tanto mais trabalhosa, seria eliminar uma das variáveis usando a equação do elipsoide, escrevendo o volume do paralelepípedo em termos das outras duas e estudar máximos e mínimos desse volume no compacto definido por essas duas variáveis. Em sua fronteira o volume será \(0\) e o valor máximo será atingido num ponto crítico (que está no interior). Estes pontos podem ser obtido com o método utilizado no Exercício 3.4.2 (não precisa do teste com o Hessiano! Por que?).
As condições dadas no problema implicam que, se \((x,y,z)\) é o vértice de tal paralelepído no primeiro octante, então os demais vértices são obtidos com as sete comibinações restantes de sinais nas coordenadas.
O volume de tal paralelepípedo, se existir, será \(V(x,y,z)=|(2x)(2y)(2z)|=8|xyz|\text{,}\) uma função contínua definida no elipsoide de equação \(x^2+y^2 +4z^2 =1\text{,}\) que é compacto. Com isso o teorema de Weierstrass garante a existência do paralelepípedo pedido. Devido às simetrias observadas (ou à dica), podemos nos restringir apenas a valores positivos das variáveis, ou seja, o pedaço do elipsoide contido no primeiro quadrante (fechado). Aqui temos uma função a três variáveis que, da última observação escreve-se \(V(x,y,z)=8xyz\) (agora de classe \(\mathscr{C}^1\)), e desejamos encontrar seu ponto de máximo no elipsoide, que pode ser visto como a superfície de nível \(0\) da função \(g(x,y,z)=x^2+y^2+4z^2-1\text{.}\) Utilizando-se a teoria de máximos e mínimos condicionados (multiplicadores de Lagrange), sabemos que os pontos \((x,y,z)\text{,}\) de máximo ou mínimo local de \(V\) sobre \(g^{-1}(0)\text{,}\) são aqueles onde
\begin{equation*} \begin{cases} \big\{\nabla V(x,y,z),\nabla g(x,y,z)\big\}\amp\text{ é linearmente dependente}\\ g(x,y,z)\amp=0, \end{cases} \end{equation*}
ou seja
\begin{equation*} \begin{cases} \nabla V(x,y,z)\times\nabla g(x,y,z)\amp =\vec{0}\\ g(x,y,z)\amp =0. \end{cases} \end{equation*}
Aqui temos \(\nabla V(x,y,z)=8(yz,xz,xy)\) e \(\nabla g(x,y,z)=2(x,y,4z)\) e então
\begin{align*} \nabla V(x,y,z)\times\nabla g(x,y,z)\amp =16 \left|\begin{vmatrix} \vec{i}\amp\vec{j}\amp\vec{k}\\ yz\amp xz\amp xy\\ x\amp y\amp 4z\end{vmatrix}\right|\\ \amp =16\big(x(4z^2-y^2),y(x^2-4z^2),z(y^2-x^2)\big). \end{align*}
Explicitamente, o sistema torna-se então
\begin{equation*} \begin{cases} x(4z^2-y^2)\amp =0\\ y(x^2-4z^2)\amp =0\\ z(y^2-x^2)\amp =0\\ x^2+y^2+4z^2\amp =1. \end{cases} \end{equation*}
A solução completa do sistema resume-se a analisar os casos:
  • \(x=0\text{:}\) sob essa condição a segunda e terceira equação são equivalentes e dizem que \(y=0\) ou \(z=0\text{.}\) Isso na última equação dá, repectivamete os candidatos \(\boxed{(0,0,1/2)}\) e \(\boxed{(0,1,0)}\text{.}\) Em ambos a função volume é nula.
  • \(y=0\text{:}\) como acima, temos que \(x=0\) ou \(z=0\) e os pontos \(\boxed{(0,0,1/2)}\) e \(\boxed{(1,0,0)}\text{,}\) nos quais o volume também é nulo.
  • \(z=0\text{:}\) aqui teremos que \(x=0\) ou \(y=0\text{,}\) dando os pontos \(\boxed{(0,1,0)}\) e \(\boxed{(1,0,0)}\text{.}\) Mais uma vez o volume se anula nesses candidatos.
  • \(xyz\neq 0\text{:}\) aqui as três primeiras equações dizem que \(x^2=y^2=4z^2\text{.}\) Na última equação isso dá \(12z^2=1\text{,}\) ou seja \(z=\sqrt{3}/6\text{,}\) donde \(x=y=\sqrt{3}/3\text{.}\) Nesse ponto o volume vale \(V=\sqrt{3}/12\text{,}\) maior valor entre os candidatos viáveis e portanto solução do problema.
Por que não uma figura?
Figura 3.4.3. O paralelepípedo de volume máximo é o de tom alaranjado.