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MAT–2454: Soluções de Exercícios e de Provas

Seção 2.4 Prova Substitutiva

Exercícios Exercícios

1.

Seja \(f(x,y)= \begin{cases} \dfrac{(x-1)^3}{(x-1)^2+(y-1)^2}&,\text{ se }(x,y)\neq(1,1)\\ \hfill 0&,\text{ se }(x,y)=(1,1) \end{cases}\text{.}\)
  1. Determine se \(f\) é contínua em \((1,1)\text{.}\)
  2. Determine \(\dfrac{\partial f}{\partial x}(1,1)\) e \(\dfrac{\partial f}{\partial y}(1,1)\text{.}\)
  3. Determine se \(f\) é diferenciável em \((1,1)\text{.}\)
Resposta.
  1. Sim, \(f\) é contínua em \((1,1)\text{.}\)
  2. \(\dfrac{\partial f}{\partial x}(1,1)=1\) e \(\dfrac{\partial f}{\partial y}(1,1)=0\text{.}\)
  3. Não, \(f\) não é diferenciável em \((1,1)\text{.}\)
Solução.
  1. Para que \(f\) seja contínua em \((1,1)\text{,}\) devemos ter
    \begin{equation*} \lim\limits_{(x,y)\to (1,1)}f(x,y)=f(1,1). \end{equation*}
    Basta fazer as contas:
    \begin{align*} \lim\limits_{(x,y)\to (1,1)}f(x,y)&=\lim\limits_{(x,y)\to (1,1)}\dfrac{(x-1)^3}{(x-1)^2+(y-1)^2}\\ &=\lim\limits_{(x,y)\to (1,1)}(x-1)\dfrac{(x-1)^2}{(x-1)^2+(y-1)^2}\stackrel{(\ast)}{=}0=f(1,1), \end{align*}
    onde \((\ast)\) segue do Corolário A.3.7. Logo, \(f\) é contínua em \((1,1)\text{.}\)
    Podemos usar o SageMath 1  para realizar alguns cálculos simbólicos. Definimos as variáveis e a função (aqui excluímos o ponto \((1,1)\) do domínio):
    Calculamos o limite necessário:
    Caso queira, também é possível definir a função por múltiplas sentenças, verificando o valor dela em cada ponto e a igualdade necessária para a continuidade:
  2. Calcular as derivadas parciais nesse caso é aplicação direta da definição:
    \begin{align*} \dfrac{\partial f}{\partial x}(1,1)&=\lim\limits_{h\to 0}\dfrac{f(1+h,1)-f(1,1)}{h}=\lim\limits_{h\to 0}\dfrac{\frac{h^3}{h^2+0^2}-0}{h}=\lim\limits_{h\to 0}\dfrac{h}{h}=1.\\ \dfrac{\partial f}{\partial y}(1,1)&=\lim\limits_{k\to 0}\dfrac{f(1,1+k)-f(1,1)}{k}=\lim\limits_{k\to 0}\dfrac{\frac{0^3}{0^2+k^2}-0}{k}=\lim\limits_{k\to 0}0=0. \end{align*}
    No SageMath:
  3. A diferenciabilidade de \(f\) em \((1,1)\) se dá verificando que
    \begin{equation*} \lim\limits_{(h,k)\to(0,0)} \dfrac{f(1+h,1+k)-f(1,1)-f_x(1,1)h-f_y(1,1)k}{\sqrt{h^2+k^2}}=0. \end{equation*}
    Aplicando a expressão de \(f\) e os valores do item anterior, o limite acima torna-se
    \begin{equation*} \lim\limits_{(h,k)\to(0,0)}\dfrac{\frac{h^3}{h^2+k^2}-h}{\sqrt{h^2+k^2}}=\lim\limits_{(h,k)\to(0,0)} \dfrac{-hk^2}{(h^2+k^2)\sqrt{h^2+k^2}}, \end{equation*}
    o qual sequer existe, logo não pode valer \(0\text{.}\) Tal afirmação verifica-se ao estudar o limite proposto ao longo da curva \(\gamma(t)=(t,t)\text{:}\)
    \begin{equation*} \lim\limits_{t\to 0}f\big(\gamma(t)\big)=\lim\limits_{t\to 0}-\dfrac{\sqrt{2}t}{4|t|}, \end{equation*}
    cujos limites laterais assumem valores distintos. No SageMath a expressão do limite acima pode ser calculada explicitamente:
    A restição à curva \(\gamma\) e o limite ao longo dela são:

2.

Determine, caso existam, todos os pontos de máximo global e os pontos de mínimo global da função \(f(x,y,z)=2x^2+y^2+2z^2-2x-2z\) no conjunto \(C=\big\{(x,y,z)\in\R^3\colon x^2+y^2+z^2\leq 18\big\}\text{.}\)
Dica.
Note que o conjunto \(C\) tem interior não-vazio, então não basta apenas utilizar multiplicadores de Lagrange.
Resposta.
O ponto de máximo global é \((3,0,3)\text{,}\) enquanto o de mínimo global é \(\big(\frac{1}{2},0,\frac{1}{2}\big)\text{.}\)
Solução.
Observamos incialmente que \(C\) é uma bola, portanto compacta. Sendo \(f\) contínua, o teorema de Weiertrass garante a existência de pontos de máximo e mínimo global para \(f\) em \(C\text{.}\)
Observe ainda que \(C\) tem interior não vazio e portanto precisamos analisar separadamente seu interior e sua fronteira.
  • No interior: procuramos pontos críticos de \(f\) no conjunto
    \begin{equation*} \mathrm{int}\, C=\big\{(x,y,z)\in\R^3\colon x^2+y^2+z^2< 18\big\}, \end{equation*}
    que são as soluções de
    \begin{equation*} \nabla f(x,y,z)=(4x-2, 2y, 4z-2)=(0,0,0)\iff (x,y,z)=\big(\frac{1}{2},0,\frac{1}{2}\big), \end{equation*}
    que está em \(\mathrm{int}\, C\text{.}\) Nesse ponto temos \(\boxed{f\big(\frac{1}{2},0,\frac{1}{2}\big)=-1}\text{.}\)
    Implementando isso no SageMath, definimos \(f\) e calculamos seu gradiente:
    Encontramos os pontos críticos com os comandos:
    E o valor da função nesses candidatos é obtido com:
  • Na fronteira: procuramos os candidatos no conjunto
    \begin{equation*} \partial C=\big\{(x,y,z)\in\R^3\colon x^2+y^2+z^2=18\big\}. \end{equation*}
    Considerando \(g(x,y,z)=x^2+y^2+z^2-18\text{,}\) temos que \(\partial C=g^{-1}(0)\text{,}\) e os pontos procurados aparecem como soluções do sistema de Lagrange
    \begin{equation*} \begin{cases} \big\{\nabla f(x,y,z),\nabla g(x,y,z)\big\}\text{ é linearmente dependente}\\ g(x,y,z)=0. \end{cases} \end{equation*}
    Geometricamente estamos procurando um ponto onde as superfícies de nível \(f^{-1}(0)\) e \(g^{-1}(0)\) se tangenciam. Neste caso temos \(\nabla f(x,y,z)=(4x-2, 2y, 4z-2)\) e \(\nabla g(x,y,z)=(2x, 2y, 2z)\text{,}\) de modo tal que a dependência linear destes vetores é equivalente a
    \begin{equation*} \nabla f(x,y,z)\times \nabla g(x,y,z)=(0,0,0)\iff \begin{cases} -4y(z-1)&=0\\ 4z-4x&=0\\ 4y(x-1)&=0. \end{cases} \end{equation*}
    Incluindo a restrição temos o sistema completo
    \begin{equation*} \begin{cases} -4y(z-1)&=0\\ 4z-4x&=0\\ 4y(x-1)&=0\\ x^2+y^2+z^2&=18 \end{cases}, \end{equation*}
    cujas soluções são $(1,\pm4,1)$, $(-3,0,-3)$ e $(3,0,3)$.
    Calculando o valor de \(f\) nesses candidatos temos \(\boxed{f(1,\pm 4,1)=16}\text{,}\) \(\boxed{f(-3,0,-3)=48}\) e \(\boxed{f(3,0,3)=24}\text{.}\)
    Analisando todos os valores em destaque, vemos que \((-3,0,-3)\) é ponto de máximo global de \(f\text{,}\) enquanto que \(\big(\frac{1}{2},0, \frac{1}{2}\big)\) é o ponto de mínimo global de \(f\) em \(C\text{.}\)
    No SageMath:

3.

Seja \(f\colon\R^2\to\R\) uma função diferenciável qualquer que satisfaz as duas afirmações abaixo:
  1. \(f(t,t^2-1)=\dfrac{t}{3}\text{,}\) para todo \(t\in\R\text{;}\)
  2. se \(r\) é a reta tangente à curva de nível de \(f\) que passa pelo ponto \((-1,0)\text{,}\) então \((2,1)\in r\text{.}\)
Determine o vetor \(\nabla f(-1,0)\) e a equação do plano tangente ao gráfico de \(f\) no ponto \(\Big(-1,0,-\dfrac{1}{3}\Big)\text{.}\)
Dica.
\(\nabla f(-1,0)\) tem duas coordenadas e você tem duas informações no enunciado. Cada uma te dá uma equação.
Resposta.
\(\nabla f(-1,0)=\big(\frac{1}{21},-\frac{1}{7}\big)\) e o plano pedido tem equação \(\pi\colon x-3y-21z+6=0\text{.}\)
Solução.
A primeira informação dada por ser lida como \(f\big(\gamma(t)\big)=\dfrac{t}{3}\text{,}\) onde \(\gamma(t)=(t, t^2-1)\text{.}\) Como \(f\) é diferenciável e \(\gamma\) é derivável, podemos derivar dos dois lados usando a Regra da Cadeia (Teorema A.6.4):
\begin{equation*} \Big\langle \nabla f\big(\gamma(t)\big),\gamma'(t)\Big\rangle=\dfrac{1}{3}\implies \Big\langle \nabla f\big(\gamma(t)\big),(1, 2t)\Big\rangle=\dfrac{1}{3}. \end{equation*}
Note que para \(t=-1\text{,}\) temos \(\gamma(-1)=(-1,0)\text{,}\) justamente o ponto onde se pede o gradiente de \(f\text{.}\) Aplicando então \(t=-1\) na última equação acima e denotando \(\nabla f(-1,0)=(a,b)\text{,}\) temos
\begin{equation*} \Big\langle \nabla f\big(-1,0\big),(1, -2)\Big\rangle=\dfrac{1}{3}\implies a-2b=\dfrac{1}{3}\iff\boxed{3a-6b=1}. \end{equation*}
Lembrando que \(\nabla f(x,y)\) é ortogonal à curva de nível de \(f\) que passa por \((x,y)\text{,}\) a segunda informação diz que o vetor \(\vec{v}\) que liga os pontos \((-1,0)\) e \((2,1)\) é ortogonal a \(\nabla f(-1,0)\text{,}\) o que escreve-se como
\begin{equation*} \big\langle \nabla f(1,0),\vec{v}\big\rangle=0\iff \big\langle (a,b),(3,1)\big\rangle=0 \iff \boxed{3a+b=0}\text{.} \end{equation*}
Basta então resolver o sistema
\begin{equation*} \begin{cases} 3a-6b&=1\\ 3a+b&=0, \end{cases}\implies (a,b)=\Big(\frac{1}{21},-\frac{1}{7}\Big), \end{equation*}
ou seja, \(\boxed{\nabla f(-1,0)=\Big(\frac{1}{21},-\frac{1}{7}\Big)}\text{.}\) Com isso, a equação do plano tangente ao gráfico de \(f\) no ponto \(\big(-1,0,-\frac{1}{3}\big)\) é
\begin{equation*} \pi\colon \frac{1}{21}(x+1)-\frac{1}{7}(y-0)-z-\frac{1}{3}=0\iff \boxed{\pi\colon x-3y-21z+6=0}. \end{equation*}
No SageMath:

4.

Seja \(C\) a curva resultante da interseção das superfícies dadas pelas equações \((x-1)^2+4y^2=1\) e \(z=x^2-1\) em \(\R^3\text{.}\)
  1. Determine uma parametrização para \(C\text{.}\)
  2. Determine quais os pontos de \(C\) em que sua reta tangente é paralela à reta de equação
    \begin{equation*} (x,y,z)=(0,0,0)+\lambda(1,0,2),\quad \lambda\in\R. \end{equation*}
Observação: Os itens acima podem ser resolvidos independentemente.
Resposta.
  1. Uma possível parametrização é \(\gamma(t)=\Big(1+\cos t, \dfrac{\sin t}{2},\cos^2 t+2\cos t\Big)\text{,}\) \(t\in [0,2\pi]\text{.}\)
  2. Os pontos são \(\big(1,\pm\frac{1}{2},0\big)\text{.}\)
Solução.
  1. As duas superfícies que definem \(C\) são cilindros, o primeiro sobre uma elipse e o segundo sobre uma parábola. Precisamos encontrar uma curva \(\gamma(t)=\big(x(t),y(t),z(t)\big)\text{,}\) \(t\in I\subseteq\R\text{,}\) cujas coordenadas satisfaçam as equações das superfícies dadas no enunciado.
    A primeira das equações reescreve-se como \((x-1)^2+(2y)^2=1\) e então podemos fazer \(x(t)-1=\cos t\) e \(2y(t)=\sin t\text{,}\) ou seja,
    \begin{equation*} x(t)=1+\cos t\quad\text{e}\quad y(t)=\dfrac{\sin t}{2}. \end{equation*}
    Com isso, da segunda equação, temos
    \begin{equation*} z(t)=(1+\cos t )^2-1=\cos^2t+2\cos t, \end{equation*}
    com \(t\in [0,2\pi]\text{.}\)
    Assim, uma parametrização para \(C\) é \(\gamma\colon[0,2\pi\to\mathbb{R}^3\text{,}\) dada por
    \begin{equation*} \gamma(t)=\Big(1+\cos t, \dfrac{\sin t}{2},\cos^2t+2\cos t\Big). \end{equation*}
  2. O segundo item pode ser resolvido de duas maneiras:
    Utilizando o item anterior: para que a reta tangente a \(C\) em \(\gamma(t_0)\) seja paralela à reta dada, devemos encontrar \(t_0\in[0,2\pi]\) tal que
    \begin{equation*} \gamma'(t_0)=\Big(-\sin t_0,\dfrac{\cos t_0}{2},-2(1+\cos t_0)\sin t_0\Big)\quad\text{e}\quad\vec{v}=(1,0,2) \end{equation*}
    sejam paralelos.
    Isto pode pode ser obtido diretamente impondo proporcionalidade entre as respectivas coordenadas de \(\gamma'(t_0)\) e \(\vec{v}\) ou impondo que o produto vetorial \(\gamma'(t_0)\times\vec{v}\)seja nulo. De toda forma temos \(t_0=\frac{\pi}{2}\) ou \(t_0=\frac{3\pi}{2}\) e os pontos são então \(\boxed{\gamma\Big(\frac{\pi}{2}\Big)=\Big(1, \frac{1}{2}, 0\Big)}\) e \(\boxed{\gamma\Big(\frac{3\pi}{2}\Big)=\Big(1, -\frac{1}{2}, 0\Big)}\text{.}\)
    No SageMath:
    Vetores normais das superfícies: aqui enxergamos cada um dos dois cilindros respectivamente como superfícies de nível \(0\) das funções \(f(x,y,z)=(x-1)^2+4y^2-1\) e \(g(x,y,z)=x^2-z-1\text{.}\) Assim, o vetor tangente à curva em cada ponto é dado pelo produto vetorial dos gradientes de \(f\) e \(g\text{.}\)
    Mais ainda: para que este vetor tangente seja paralelo a \(\vec{v}=(1,0,2)\) devemos procurar um ponto da curva \(C\) onde \((\nabla f\times\nabla g)\times\vec{v}\) seja nulo. Disto obtemos o sistema:
    \begin{equation*} \begin{cases} \big(\nabla f(x,y,z)\times\nabla g(x,y,z)\big)\times\vec{v}&=(0,0,0)\\ f(x,y,z)&=0\\ g(x,y,z)&=0 \end{cases}\iff \begin{cases} x-1&=0\\ 8y(1-x)&=0\\ 1-x&=0\\ (x-1)^2+4y^2&=1\\ x^2-z&=1 \end{cases}, \end{equation*}
    cujas soluções são \((x,y,z)=\big(1,\pm\frac{1}{2},0\big)\text{.}\)
    No SageMath:
    Uma figura, agora no SageMath: