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MAT–2454: Soluções de Exercícios e de Provas

Seção 1.5 Derivadas Parciais, Diferenciabilidade e Plano Tangente

Exercícios Exercícios

5.

Seja \(f(x,y)=\begin{cases} \dfrac{x^3}{x^2+y^2},&(x,y)\neq(0,0)\\ \hfill 0,&(x,y)=(0,0). \end{cases}\)
  1. Mostre que \(f\) é contínua em \((0,0)\text{.}\)
  2. Calcule \(\dfrac{\partial f}{\partial x}(0,0)\) e \(\dfrac{\partial f}{\partial y}(0,0)\text{.}\)
  3. \(f\) é diferenciável em \((0,0)\text{?}\)
  4. \(\dfrac{\partial f}{\partial x}\) e \(\dfrac{\partial f}{\partial y}\) são contínuas em \((0,0)\text{?}\)
Dica.
Siga com o Corolário A.3.7 no primeiro item e pela definição em cada item seguinte.
Resposta.
  1. Seguindo a dica é fácil.
  2. \(\dfrac{\partial f}{\partial x}(0,0)=1\) e \(\dfrac{\partial f}{\partial y}(0,0)=0\text{.}\)
  3. Não.
  4. Não.
Solução.
  1. Para mostrar que \(f\) é contínua em \((0,0)\text{,}\) precisamos verificar que \(\lim\limits_{(x,y)\to (0,0)} f(x,y)=f(0,0)\text{.}\) De fato,
    \begin{equation*} \lim\limits_{(x,y)\to (0,0)} f(x,y)= \lim\limits_{(x,y)\to (0,0)}\dfrac{x^3}{x^2+y^2}= \lim\limits_{(x,y)\to (0,0)}x\cdot\dfrac{x^2}{x^2+y^2}\stackrel{(\ast)}{=}0=f(0,0). \end{equation*}
    Logo, \(f\) é contínua em \((0,0)\text{.}\) A igualdade \((\ast)\) segue da aplicação do Corolário A.3.7.
  2. Vamos seguir pela definição, já que não é possível aplicar as regras de derivação no ponto em questão (o denominador se anula ali):
    \begin{align*} \dfrac{\partial f}{\partial x}(0,0)&=\lim\limits_{h\to 0}\dfrac{f(0+h,0)-f(0,0)}{h} =\lim\limits_{h\to 0}\dfrac{\dfrac{h^3}{h^2+0^2}-0}{h}=1;\\ \dfrac{\partial f}{\partial y}(0,0)&=\lim\limits_{k\to 0}\dfrac{f(0,0+k)-f(0,0)}{k} =\lim\limits_{k\to 0}\dfrac{0-0}{k}=0; \end{align*}
  3. Seguindo também pela definição, com \((x_0,y_0)=(0,0)\text{,}\) temos
    \begin{align*} \lim\limits_{(h,k)\to(0,0)} &\dfrac{f(h,k)-f(0,0)-f_x(0,0)h-f_y(0,0)k} {\sqrt{h^2+k^2}}\\ & =\lim\limits_{(h,k)\to(0,0)} \dfrac{\dfrac{h^3}{h^2+k^2}-h}{\sqrt{h^2+k^2}}= \lim\limits_{(h,k)\to(0,0)} -\dfrac{k^2}{(h^2+k^2)}\dfrac{k}{\sqrt{h^2+k^2}}, \end{align*}
    que não existe. Para verificar isso, observe que o limite acima não existe (laterais distintos) ao longo da curva \(\gamma(t)=(t,t)\text{,}\) conforme o Teorema A.3.8.
  4. Para verificar a continuidade de qualquer função num ponto, precisamos do seu valor no ponto e numa vizinhança desse ponto. Os valores de \(f_x(0,0)\) e \(f_y(0,0)\) foram calculados no segundo item. Fora da origem podemos aplicar as regras derivação. Obtemos então
    \begin{align*} f_x(x,y)=&\begin{cases} \dfrac{x^4+3x^2y^2}{(x^2+y^2)^2},& (x,y)\neq (0,0)\\ \hfill 0,& (x,y)=(0,0). \end{cases}\\ f_y(x,y)=&\begin{cases} \dfrac{-2x^3y}{(x^2+y^2)^2},& (x,y)\neq (0,0)\\ \hfill 0,& (x,y)=(0,0). \end{cases} \end{align*}
    A continuidade dessas funções se dará pela verificação de \(\lim\limits_{(x,y)\to (0,0)} f_x(x,y)=f_x(0,0)\) e \(\lim\limits_{(x,y)\to (0,0)} f_y(x,y)=f_y(0,0)\text{.}\) Nenhuma das duas condições é verdadeira, vamos fazer apenas a primeira. Usando mais uma vez o Teorema A.3.8, com \(\gamma_1(t)=(t,0)\) e \(\gamma_2(t)=(0,t)\text{,}\) temos
    \begin{align*} \lim\limits_{t\to 0} f_x\big(\gamma_1(t)\big) &=\lim\limits_{t\to 0}\dfrac{t^4}{t^4}=1\\ \lim\limits_{t\to 0} f_x\big(\gamma_2(t)\big) &=\lim\limits_{t\to 0}\dfrac{0}{t^4}=0. \end{align*}
    Verifique também que a derivada parcial em \(y\) não é contínua na origem.
Nota 1.5.1.
Neste exemplo, o candidato natural a plano tangente ao gráfico de \(f\) em \(\big(0,0,f(0,0)\big)=(0,0,0)\) é \(\pi\colon z=x\text{.}\) É esperado que tal plano contenha todos os vetores tangentes a curvas deriváveis contidas no gráfico de \(f\text{,}\) passando pela origem. Tais curvas são da forma \(\Gamma(t)=\Big(x(t),y(t),f\big(x(t),y(t)\big)\Big)\text{,}\) com \(t\in I\) e com algum \(t_0\in I\) tal que \(x(t_0)=y(t_0)=0\text{.}\) Considere, então
\begin{equation*} \Gamma(t)=\big(t,t,f(t,t)\big)=(t,t,t/2),\quad t\in\R. \end{equation*}
É fácil ver que \(\Gamma(0)=(0,0,0)\text{,}\) mas \(\Gamma'(0)=(1,1,\frac{1}{2})\not\in\pi\text{.}\) Veja na figura como o plano aproxima bem o gráfico da função ao longos dos eixos, mas não sobre a curva:
Figura 1.5.2. Gráfico de função não derivável e candidato a plano tangente

7.b.

Determine o conjunto de pontos de \(\R^2\) onde \(f(x,y)=x|y|\) não é diferenciável.
Dica.
Quando módulo de algo não é derivável? E um produto envolvendo módulo e uma função derivável?
Resposta.
Nos pontos da forma \((a,0)\text{,}\) com \(a\neq 0\text{.}\)
Solução.
Observamos inicialmente que podemos reescrever a função como \(f(x,y)=\begin{cases} xy,& y\geq0\\ -xy& y<0 \end{cases}.\) Com isso, é fácil ver que \(f\) é contínua em todo o plano e também de classe \(\mathscr{C}^1\) em todo ponto \((x,y)\in\R^2\) tal que \(y\neq 0\)
Logo \(f\) é diferenciável nos pontos \((x,y)\in\R^2\text{,}\) \(y\neq0\text{.}\)
Lembrando \(|y|\) não é derivável quando \(y=0\text{,}\) precisamos de uma análise mais cuidadosa em tais pontos. Comecemos pelas derivadas parciais:
\begin{align*} \dfrac{\partial f}{\partial x}(x_0,0) &=\lim\limits_{h\to 0}\dfrac{f(x_0+h,0)-f(0,0)}{h} =\lim\limits_{h\to 0}\dfrac{(x_0+h)|0|-0}{h}=0;\\ \dfrac{\partial f}{\partial y}(x_0,0) &=\lim\limits_{k\to 0}\dfrac{f(x_0,0+k)-f(0,0)}{k} =\lim\limits_{k\to 0}\dfrac{x_0|k|-0}{k}. \end{align*}
Temos dois casos a considerar:
  • se \(x_0=0\text{,}\) então \(f_x(0,0)=f_y(0,0)=0\) e a diferenciabilidade nesse ponto verifica-se rapidamente pela definição:
    \begin{equation*} \lim\limits_{(h,k)\to(0,0)} \dfrac{f(h,k)-f(0,0)-f_x(0,0)h-f_y(0,0)k} {\sqrt{h^2+k^2}} =\lim\limits_{(h,k)\to(0,0)} h\dfrac{|k|}{\sqrt{h^2+k^2}}=0, \end{equation*}
    pois é produto de um fator que tende a zero por outro limitado (veja o Corolário A.3.7 e os exemplos em Figura A.3.6).
  • se \(x=x_0\neq0\text{,}\) vemos que \(f_y(x_0,0)\)não existe (laterais distintos).
Logo \(f\) não é diferenciável nos pontos da forma \((x_0,0)\text{,}\) com \(x_0\neq0\text{.}\)
Veja como é o gráfico de \(f\text{:}\)
Figura 1.5.3. Gráfico de \(f\text{.}\)

9.

Mostre que os gráficos das funções \(f(x,y)=\sqrt{x^2+y^2}\) e \(g(x,y)=\frac{1}{10}(x^2+y^2)+\frac{5}{2}\) se intersectam no ponto \((3,4,5)\) e têm o mesmo plano tangente nesse ponto.
Dica.
Escreva as esquações dos planos tangente a cada gráfico no ponto pedido. (Talvez pergunte-se por que eles existem, para começar)
Solução.
Observamos inicialmente que as duas funções são de classe \(\mathscr{C}^1\) em \((3,4)\) e portanto o plano tangente está definido para ambas nesse ponto.
Como \(f(3,4)=5=g(3,4)\text{,}\) então \((3,4,5)\in Gr f\bigcap Gr g\text{.}\) Para verificar que os gráficos compartilham também do mesmo plano tangente nesse ponto vamos para comparar as equações do planos tangentes. Começamos calculando as derivadas parciais:
\begin{align*} f_x(x,y)=\dfrac{x}{\sqrt{x^2+y^2}}\implies f_x(3,4)=\dfrac{3}{5};&\quad g_x(x,y)=\dfrac{x}{5}\implies g_x(3,4)=\dfrac{3}{5};\\ f_y(x,y)=\dfrac{y}{\sqrt{x^2+y^2}}\implies f_y(3,4)=\dfrac{4}{5};&\quad g_y(x,y)=\dfrac{y}{5}\implies g_y(3,4)=\dfrac{4}{5}; \end{align*}
Com isso as equações dos planos tangentes são dados por
\begin{align*} \pi_f\colon& f_x(3,4)(x-3)+f_y(3,4)(y-4)-z+f(3,4)=0\implies\\ &\boxed{3(x-3)+4(x-4)-5z+25=0};\\ \pi_g\colon& g_x(3,4)(x-3)+g_y(3,4)(y-4)-z+g(3,4)=0\implies\\ &\boxed{3(x-3)+4(x-4)-5z+25=0}. \end{align*}
ou seja, são mesmo, como desejado.
Veja os gráficos das funções e o plano pedido.
Figura 1.5.4. Gráfico de \(f\text{,}\)\(g\) e o plano tangente a ambos.

14.

Seja \(f(x,y)=\begin{cases} \dfrac{xy^3}{x^2+y^2},&(x,y)\neq(0,0)\\ \hfill 0,&(x,y)=(0,0). \end{cases}\)
  1. Verifique que \(f_y(0,y)=y\text{,}\) para todo \(y\in\R\) e que \(f_x(x,0)=0\text{,}\) para todo \(x\in\R\text{.}\)
  2. Verifique que \(f_{yx}(0,0)=0\) e que \(f_{xy}(0,0)=1\text{.}\)
Dica.
É melhor fazer tudo seguindo a Definição A.4.1 e Definição A.5.1.
Solução.
  1. Seguindo a dica, vamos pela definição:
    \begin{align*} f_x(0,y_0)& =\lim\limits_{h\to0}\dfrac{f(0+h,y_0)-f(0,y_0)}{h} =\lim\limits_{h\to0}\dfrac{hy_0^3}{h(h^2+y_0^2)}=y_0\\ f_y(x_0,0)& =\lim\limits_{k\to0}\dfrac{f(x_0,0+k)-f(x_0,0)}{k} =\lim\limits_{k\to0}\dfrac{x_0k^3}{k(x_0^2+k^2)}=0 \end{align*}
  2. Para as segundas derivadas, usamos as expressões do item anterior:
    \begin{align*} \dfrac{\partial^2 f}{\partial x\partial y}(0,0)&=\lim\limits_{h\to 0}\dfrac{f_y(0+h,0)-f_y(0,0)}{h}=\lim\limits_{h\to 0}\dfrac{0-0}{h}=0;\\ \dfrac{\partial^2 f}{\partial y\partial x}(0,0)&=\lim\limits_{k\to 0}\dfrac{f_x(0,0+k)-f_x(0,0)}{k}=\lim\limits_{h\to 0}\dfrac{k-0}{k}=1. \end{align*}
Nota 1.5.5.
Note na figura abaixo como é quase imperceptível o fato das derivadas de mistas não coincidirem na origem.
Figura 1.5.6. Gráfico de função e cortes de nível

17.

Sejam \(\gamma\colon\R\to\R^2\) e \(\sigma\colon\R\to\R^2\) dadas por \(\gamma(t =(1,t)\) e \(\sigma(t)=(t,0)\text{,}\) para todo \(t\in\R\text{.}\) Considere ainda \(F\colon\R^2\to\R\text{,}\) diferenciável e tal que
\begin{equation*} F\big(\gamma(t)\big)=-5t^2+t+1\quad \text{e}\quad F\big(\sigma(t)\big)=t^2, \forall t\in\R. \end{equation*}
Dê a equação do plano tangente ao gráfico de \(F\) no ponto \((x_0,y_0)=(1,0)\text{.}\)
Dica.
Como ficariam as derivadas parciais de \(F\) pela definição?
Resposta.
\(\pi\colon 2x+y-z-1=0\)
Solução.
Precisamos de \(F(1,0)\text{,}\) \(F_x(1,0)\) e \(F_y(1,0)\) para escrever a equação do plano pedido. Como \(\gamma(0)=\sigma(1)=(1,0)\) temos que
\begin{equation*} \boxed{F(1,0)=F\big(\gamma(0)\big)=F\big(\sigma(1)\big)=1}. \end{equation*}
Seguindo a dica, temos
\begin{align*} F_x(1,0)&=\lim\limits_{h\to 0}\dfrac{F(1+h,0)-F(1,0)}{h}\\ &\stackrel{(\dagger)}{=}\lim\limits_{t\to 1}\dfrac{F(t,0)-F(1,0)}{t}\\ &=\lim\limits_{t\to 1} \dfrac{F\big(\sigma(t)\big)-F\big(\sigma(1)\big)}{t-1}, \end{align*}
que é, por definição, \((F\circ\sigma)'(1)\text{.}\) Como \(F\big(\sigma(t)\big)=t^2\text{,}\) então \((F\circ\sigma)'(t)=2t\) e \((F\circ\gamma)'(1)=2\text{.}\) Logo \(\boxed{F_x(1,0)=2}\text{.}\) Em \((\dagger)\) fizemos a mudança \(t=h+1\text{.}\)
Analogamente,
\begin{align*} F_y(1,0)&=\lim\limits_{k\to 0}\dfrac{F(1,0+k)-F(1,0)}{k}\\ &=\lim\limits_{t\to 0}\dfrac{F(1,k)-F(1,0)}{t}, \end{align*}
que é, por definição, \((F\circ\gamma)'(0)\text{.}\) Como \(F\big(\gamma(t)\big)=-5t^2+t+1\text{,}\) então \((F\circ\gamma)'(t)=-10t+1\) e \((F\circ\gamma)'(0)=1\text{.}\) Logo \(\boxed{F_y(1,0)=1}\text{.}\)
Com isso, o plano procuração tem equação
\begin{equation*} \pi\colon F_x(1,0)(x-1)+F_y(1,0)(y-0)-z+F(1,0)=0\implies\boxed{2x+y-1=0}. \end{equation*}
Nota 1.5.7.
A hipótese de diferenciabilidade permitiu determinar o plano tangente ao seu gráfico conhecendo seus valores apenas ao longo de retas paralelas aos eixos coordenados que passam por \((1,0)\text{.}\) Em outras palavras, quaisquer duas funções diferenciáveis que, num dado ponto, tenham os mesmos cortes de seus gráficos por planos paralelos a \(Oxz\) e \(Oyz\text{,}\) que contenham o ponto \((x_0,y_0,0)\text{,}\) terão o mesmo plano tangente nesse ponto. Uma figura para ilustrar:
Figura 1.5.8. Cortes do gráfico de \(F\) e o plano tangente determinado por eles.
Com o desenvolvimento dos conteúdos veremos que, conhecendo os cortes do gráfico de uma função por dois planos verticais não paralelos passando por um ponto desse gráfico, determinamos o plano tangente ao gráfico nesse ponto.