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MAT–2454: Soluções de Exercícios e de Provas

Seção 1.1 Polinômios de Taylor

Exercícios Exercícios

1.

Utilizando o polinômio de Taylor de ordem \(2\text{,}\) calcule um valor aproximado para \(\sqrt[3]{8.2}\) e avalie o erro.
Dica.
Utilize a fórmula de Taylor de ordem \(2\) para \(f(x)=\sqrt[3]{x}\text{,}\) em torno de \(x_0=8\text{.}\) Para estimativa do erro, use o resto de Lagrange e estime os valores máximo e mínimo que o coficiente dependendo de \(\overline{x}\in(8,8.2)\) pode assumir.
Resposta.
\(\sqrt[3]{8,2}\approx \dfrac{14519}{7200}\text{,}\) com erro \(E\) na aproximação satisfazendo \(1\times 10^{-6}<E <2\times 10^{-6}\)
Solução.
Lembrando que se \(f\colon A\subseteq\R\to\R\) é uma função \((n+1)\) vezes derivável no ponto \(x_0\in A\text{,}\) então é o polynômio de Taylor de ordem \(n\) para \(f\) em torno de \(x_0\text{,}\) dado por \(P_n\) é aquele que tem o mesmo valor de \(f\) em \(x_0\text{,}\) ou seja \(P_n(x_0)=f(x_0)\) e, além disso, todas as derivadas até ordem \(n\) de \(P_n\) e \(f\) também coincidem, ou seja, \(P_n^{(k)}(x_0)=f^{(k)}(x_0)\text{,}\) para todo \(k\in\{1,\ldots,n\}\text{.}\) Disto segue-se que
\begin{equation*} P_n(x)=f(x_0)+f'(x_0)(x-x_0)+\dfrac{f''(x_0)}{2!} (x-x_0)^2+\cdots+\dfrac{f^{(n)}(x_0)}{n!}(x-x_0)^n. \end{equation*}
Para cada \(x\in A\) fixado, se \(f\) admite derivada de ordem \(n+1\) em todos os pontos do intervalo de extemos \(x_0\) e \(x\text{,}\) então o erro cometido na aproximação de \(f(x)\) por \(P_n(x)\text{,}\) \(E_n(x)=f(x)-P_n(x)\text{,}\) é dado por
\begin{equation} E_n(x)=\dfrac{f^{(n+1)}(\overline{x})}{(n+1)!}(x-x_0)^{n+1}.\tag{1.1.1} \end{equation}
Para verificar isto basta aplicar sucessivamente o Teorema A.1.1 para as funções \(E_n(x)\) e \(g(x)=(x-x_0)^{n+1}\) e suas derivadas, observando que \(E_n^{(k)}(x_0)=g^{(k)}(x_0)=0\) para todo \(k\in\{1,\ldots,n\}\) e que \(g^{(n+1)}(x)=(n+1)!\text{.}\)
No exercício em questão temos \(n=2\text{,}\) \(f(x)=\sqrt[3]{x}\text{,}\) e \(x_0=8\text{.}\) Com isso, \(f'(x)=\dfrac{1}{3x^{2/3}}\text{,}\) \(f''(x)=\dfrac{-2}{9x^{5/3}}\) e \(f'''(x)=\dfrac{10}{27x^{8/3}}\) e então
\begin{equation*} f(8)=2,\qquad f'(8)=\frac{1}{12}\qquad\text{e}\qquad f''(8)=-\dfrac{1}{144}. \end{equation*}
Logo, \(P_2(x)=f(8)+f'(8)(x-8)+\dfrac{f''(8)}{2!}(x-8)^2=2+\dfrac{x-8}{12} -\dfrac{(x-8)^2}{144}\) e assim,
\begin{equation*} \boxed{\sqrt[3]{8.2}=f(8.2)\approx P_2(8.2)=2+\frac{8.2-8}{12}-\frac{(8.2-8)^2}{288}=\dfrac{14519}{7200}.} \end{equation*}
Para estimar o erro nesta aproximação usaremos a expressão em (1.1.1), que torna-se
\begin{equation*} E_2(8.2)=\dfrac{f'''(\overline{x}}{3!}(8.2-8)^2, \end{equation*}
onde \(\overline{x}\in (8,8.2)\text{.}\) A função \(f'''(x)\) é estritamente descrescente nesse intervalo e portanto
\begin{equation*} \dfrac{10}{27\times 2^8}=f'''(8)>f'''(\overline{x})> f'''(8.2)>f'''(9)=\dfrac{10}{3^8\times\sqrt[3]{3}}. \end{equation*}
Daí, multiplicando toda a desigualdade acima por \(\dfrac{(8.2-8)^3}{3!}=\dfrac{8}{3!\times 10^3}\text{,}\) a fim de transformar o termo do meio no erro,
\begin{equation*} \dfrac{8\times 10}{3!\times 10^3\times 27\times 2^8}>E_2(8.2)> \dfrac{8\times 10}{3!\times 10^3\times3^8\times\sqrt[3]{3}}. \end{equation*}
Simplificando, \(\dfrac{8\times 10}{3!\times 10^3\times 27\times 2^8}<\dfrac{1}{2^9\times 10^3}<\dfrac{1}{5\times 10^5}=2\times 10^{-6}\) e, usando que \(\sqrt[3]{3}< 2\text{,}\) \(\dfrac{8\times 10}{3!\times 10^3\times3^8\times\sqrt[3]{3}}>\dfrac{1}{50\times 3^9}>1\times 10^{-6}\text{.}\) Logo
\begin{equation*} \boxed{1\times 10^{-6}<E_2(8.2)<2\times 10^{-6}.} \end{equation*}
A parabola
Figura 1.1.1. O gráfico de \(f(x)=\sqrt[3]{x}\) e \(P_2(x)\text{,}\) centrado em \(x_0=8\text{.}\)
Para "verificar" nossas estimativas, usamos uma boa calculadora e obtemos
\begin{align*} \dfrac{14519}{7200}\amp = 2.01652777\ldots\\ \sqrt[3]{8.2} \amp = 2.01652967\ldots, \end{align*}
mostrando que a diferença entre os valores aparece somente na sexta casa decimal (\(E_2(8.2)> 1\times 10^{-6}\)), mas o dígito da diferença nessa casa não é maior ou igual a \(2\) (\(E_2(8.2)<2\times 10^{-6}\)).

7.

Seja \(f\colon]a,b[\to\R\) uma função de classe \(\mathscr{C}^2\) e suponha que \(x_0\in]a,b[\) seja um ponto crítico de \(f\text{.}\) Mostre que:
  1. se \(f'' (x_ 0)>0\text{,}\) então \(x_ 0\) é um ponto de mínimo local de \(f\text{;}\)
  2. se \(f'' (x_ 0)<0\text{,}\) então \(x_ 0\) é um ponto de máximo local de \(f\text{.}\)
Nota 1.1.2.
Note que este é mais um caso onde a recíproca é falsa: se \(x_0\) é um ponto de mínimo local de \(f\) no interior de um intervalo aberto, não é verdade que necessariamente devemos ter \(f''(x_0)>0\text{.}\) Um exemplo é o ponto \(x_0=0\) que é de mínimo para \(f(x)=x^4\text{.}\)
Dica.
Como fica a fórmula de Taylor de ordem \(2\) para \(f(x)\text{,}\) em torno do ponto crítico \(x_0\text{?}\) Como a continuidade (preservação do sinal) de \(f''\) ajuda a fechar a questão?
Solução.
Lembrando, a fórmula de Taylor de ordem para \(f\text{,}\) em torno de \(x_0\text{,}\) é
\begin{equation*} f(x)=f(x_0)+f'(x_0)(x-x_0)+\dfrac{f''(\overline{x})}{2}(x-x_0)^2, \end{equation*}
para algum \(\overline{x}\) entre \(x_0\) e \(x\text{.}\) Como \(x_0\) é ponto crítico de \(f\text{,}\) então \(f'(x_0)=0\) e a expressão acima reduz-se a
\begin{equation} f(x)=f(x_0)+\dfrac{f''(\overline{x})}{2}(x-x_0)^2.\tag{1.1.2} \end{equation}
  1. se \(f'' (x_ 0)>0\text{,}\) então, da continuidade de \(f''\text{,}\) temos que \(f'' (x)>0\text{,}\) para todo \(x\) em algum intervalo aberto \(I\text{,}\) contido em \(]a,b[\) e centrado em \(x_0\text{.}\) Desta forma, se \(x\in I\text{,}\) então, na expressão (1.1.2), temos \(f''(\overline{x})>0\text{,}\) donde
    \begin{equation*} f(x)=f(x_0)+\dfrac{f''(\overline{x})}{2}(x-x_0)^2>f(x_0), \end{equation*}
    mostrando que \(x_0\) é ponto de mínimo local de \(f\text{.}\)
  2. É um argumento análogo ao anterior, redija-o para ter certeza de que entendeu.